Prólogo.

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Inglaterra, 1867.


Gabriel Garrett Griffiths odiava seu nome por ter tantos "G", mas isso fazia sua mãe feliz, então somente aceitou esse fato aos 18 anos e também foi á idade em que ele precisou deixar toda sua adolescência para trás, todas as brincadeiras com seus amigos e se tornar responsável pela família, pois seu pai havia falecido de maneira repentina. Um problema no coração, dissera o médico.

Sua mãe e irmã ficaram terrivelmente arrasadas, já Gabriel não sentirá nada disso. Ele e o pai não se davam bem, afinal o finado duque somente exigia que ele fosse o melhor, o mais inteligente, o mais forte, o mais em tudo. Era exaustivo e cansativo ser o filho perfeito que seu pai tanto queria, então ele se sentiu aliviado e ao mesmo tempo horrorizado consigo mesmo por sentir-se assim.

Mas precisou esconder e enterrar esses sentimentos dentro do peito, assim levando sua mãe, Jane e sua irmã, Geralyn para a casa de campo que ficava perto da propriedade particular e secreta do Rei e da Rainha da Inglaterra. Como ele sabia disso? Eram próximos da realeza desde que um primo distante dos Griffiths havia se casado com outro parente distante da Rainha. Ele não entendia como acabaram tão próximos da realeza durante um casamento antes mesmo dele nascer, mas acabará assim, o que fez eles se tornarem uma das famílias mais importantes da sociedade inglesa onde ninguém queria ofende-los com medo de chegar ao Rei e lhes cortarem a cabeça. Não que o Rei fosse fazer algo assim.

Gabriel encostou as costas na árvore ainda pensando em tudo que acontecerá tão rápido. Um dia seu pai estava lá comandando tudo, sendo o duque perfeito e frio, e no outro estava morto. E toda a responsabilidade do ducado foi jogada em cima dele de uma hora para outra. Não estava preparado, nem um pouco e isso o assustava terrivelmente.

Ele havia cavalgado até ali para fugir da mãe e da irmã, sentindo-se péssimo com isso, mas precisava ficar sozinho. Cada fibra do seu ser estava implorando por um pouco de paz, longe dos choros e lamúrias. De todo aquele pesar quando ele só sentia alívio. Fechou os olhos sentindo a brisa refrescante, querendo somente sumir por um bom tempo, simplesmente sair voando junto com aquela brisa, querendo sentir-se bem consigo mesmo.

Ele ouviu um barulho de um cavalo se aproximando, e não era o seu que continuava onde estava, mas agora olhando para uma égua belíssima e branca se aproximando com uma amazona em cima. O cabelo preso em um rabo balançava atrás, o tom castanho claro com o sol batendo tornando algumas mechas douradas, hipnotizante. Gabriel a achou familiar, mas não sabia onde já havia visto aquela garota.

-Gabriel. –ela o cumprimentou assim que se aproximou.

-Olá. –ele disse incerto, mas vez a reverência, afinal a roupa dela de cavalgada tinha um broche da família real.

Ela desceu com elegância do cavalo, deixando claro que tinha experiência.

-Você está mais alto. –ela disse com um sorriso gentil nos lábios rosados e lindos, parecendo um botão de rosa.

-Estou? –ele olhou para si mesmo, não parecia diferente do ano passado.

-Está. –ela disse passando a mão na testa suada e depois suspirou, o olhando com pesar. –Eu soube do seu pai. Sinto muito.

-Eu não. –sussurrou.

-Oh.

Ela o ouviu. Deus, ela pensaria que ele era um monstro sem sentimentos. Gabriel deveria estar sofrendo como sua irmã e mãe.

-Entendo. –ela disse e percebeu que ela realmente o compreendeu. –Nem sempre nos damos bem com nossos pais.

Foi então que ele a reconheceu. Princesa Violet, primeira de seu nome e a filha caçula do Rei. O Rei comemorou o nascimento dela, assim como dos outros dois filhos homens, Anthony, o mais velho e o do meio, Harry. Provavelmente o Rei só dava atenção á Anthony já que ele era o seu herdeiro e o irmão do meio provavelmente também tinha certa atenção do pai já que era o segundo na sucessão do trono. Mas uma garota... Ele não gostou muito do Rei naquele momento. E a Rainha? Não teria ficado feliz ao dar a luz á uma menina que pudesse mimar? O que quer que fosse Gabriel sentiu que não foi assim para Violet.

-Está diferente, princesa. –ele disse por fim, mudando de assunto.

-Estou? –ela fez o mesmo que ele, se analisando.

-Está. –disse sincero.

Estava mais alta, não havia mais traço nenhum de uma criança nela. A princesa Violet, era quatros anos mais nova do que ele, então nunca tinha reparado muito nela nos anos anteriores quando passavam os verões juntos. Mas agora ela estava deslumbrante, realmente uma princesa dos pés á cabeça. Era tão linda quanto uma princesa deveria ser e provavelmente até mais.

-Há algo em meu rosto? –ela perguntou.

-Não, princesa. –disse.

-Por favor, me chame somente de Violet, nós conhecemos desde sempre. –ela disse se aproximando.

Gabriel prendeu a respiração quando ela passou por ele, um perfume de flores passando e o deixando curioso para saber como seria enterrar o rosto no ombro dela, beijar-lhe o pescoço e... Ele parou de pensar nisso. Não podia, por Deus, ela era filha do Rei, provavelmente se casaria com alguém da realeza, talvez até um príncipe de outro país. Não poderia deseja-la, jamais.

Ele virou seu corpo com muita paciência, segurando todos os seus instintos que diziam para correr o mais longe possível dela, afinal sua mente estava indo para lugares proibidos demais até mesmo para ele. Mas assim que virou completamente, esqueceu-se de tudo, sua mente ficou em branco e só havia ela.

A princesa Violet havia encostado as costas na árvore, como ele estava momentos antes, seu rosto estava inclinando na direção do sol que beijava sua face, iluminando completamente seu corpo. Os olhos estavam fechados, seus longos cílios escuros batiam na bochecha e ela tinha um sorriso fraco nos lábios. Naquele momento, ele sentiu que podia pintar ela em um quadro e eternizar aquele momento, ele precisava, sentia seus dedos pinicarem para pegar um pincel, mas veio ás presas para aquele lugar e não trouxera nada. Talvez ele saísse para comprar mais tarde tudo que iria precisar.

-É um dia lindo. –ela sussurrou e abriu os olhos.

-Sim, é. –ele concordou.

-Diga a sua mãe que a visitarei mais tarde. –ela falou voltando ao seu cavalo. –Espero vê-lo também.

-Estarei lá. –respondeu automático.

-Ah, se vir Harry diga que não passei por aqui. –ela abriu um sorriso encantador e travesso e saiu galopando.

Seu coração devia estar fazendo mais barulho do que os cascos do cavalo, ele pensou colocando a mão sobre o local. Respirou fundo, tomando controle de si mesmo, do seu corpo, da sua mente e o principal, do seu coração. Precisava fazer isso, precisava manter-se longe da princesa ou estaria completamente encrencado. Ah, não com o Rei, afinal o máximo que levaria seria um não, mas encrencado com o próprio coração que o estava traindo naquele momento, querendo sair e correr atrás dela.

Gabriel nunca foi do tipo romântico, pelo menos, não descobrira isso sobre si mesmo ainda, mas aparentemente ele era e afinal acabara de se apaixonar. Foi rápido e eficaz, como um relâmpago caindo do céu em um piscar de olhos.


Mais tarde, a princesa e seus irmãos mais velhos realmente apareceram na casa, todos dizendo o quanto sentiam muito pelo antigo duque e também o felicitando pelo novo título. Violet fora a única que não lhe disse nenhuma dessas palavras, somente o olhou acenando, sabendo a verdade que ele carregava no coração sobre o pai e ela não o julgou.

Os irmãos mais velhos eram claramente protetores com a caçula, ele entendia, protegeria Geralyn com sua vida se precisasse, mas também entendeu naquele momento que jamais seria digno da princesa Violet. Ela merecia mais do que alguém que ficava feliz com a morte do pai, alguém com o coração tão bom quanto o dela. Gabriel não a merecia e sabia disso, no fundo da sua alma, ele sabia, mesmo não querendo aceitar esse fato e não conseguindo imaginar ela feliz com outro homem.

Mas Gabriel manteve-se firme em sua decisão de não chegar perto de Violet, e por isso, afastou-se da família real depois daquele verão.

O Coração Real - Trilogia do Coração ♥ Vol. IIIOnde histórias criam vida. Descubra agora