Todas As Nossas Memórias

32° Capítulo ☕

Segurava forte o papel que recebi da Aurora quando deitei na cama naquela noite. Eu lembrar do que aconteceu no dia do acidente aumentou as minhas esperanças de um dia ter todas minhas memórias com o Vicente de volta. Abri aquele papel sem pensar em mais nada e mandei uma mensagem de texto para Aurora.
-Oi,é a Emma, Desculpa pelo horário mas pensei muito sobre o que conversamos hoje e decidi que irei com você ao aeroporto. Eu te peço que não conte ao Vicente sobre minha ida, não sei qual seria sua reação.

-Olá,Emma. Fico muito feliz com a decisão que tomou,e não se preocupe, será o nosso segredo. Beijos,até lá.

Seria possível meu coração nunca ter esquecido o Vicente? Porque ele era tão agitado quando o assunto era o homem que já fui apaixonada um dia. Como explicar o que eu senti ao saber da sua viagem, da possibilidade que passou em minha cabeça de um dia nunca mais o vê-lo?
Agora eu lembrava dele em minha vida,em um breve momento quando lhe mandava a mensagem,mas eu tinha uma memória do Vicente e isto, por mais simples que fosse pra muitos,aquecia o meu coração. Eu nunca deixei de ser apaixonada por ele ou seria possível eu ter me apaixonado novamente?
A primeira memória que recuperei,foi de um dos piores momentos da minha vida e assim como os outros momentos ruins dos quais me falaram,ele também estava. Oro em meu coração para que o Senhor me ajudasse a entender meu coração.

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Alguns dias depois acordei com uma mensagem do meu pai dizendo que estava em casa e gostaria de me ver antes de voltar para o trabalho,ele tinha algo para contar e eu deveria estar presente. Eu não perdi tempo,assim que pude "corri" até lá,esse também seria um ótimo momento para termos uma conversa esclarecedora.
Ao chegar percebi que Celina não estava disposta a entregar os pontos,e continuava a fazer o papel de boa madrasta.
-Olá,Emma,como se sente hoje? Estavamos te esperando. - eu apenas assenti e sentei no sofá como todos.
-Como você está minha filha? - ele olha para a moleta que eu segurava.
-Bem,pai. - ignoro a Celina - aconteceu algo?não esperava te ver tão rápido.
- Infelizmente aconteceu. A empresa na qual trabalho está passando por um momento difícil,não está descartada a possibilidade de falência.
-Esta dizendo que ficará desempregado? É isso?
-É bem provável que aconteça,Emma. Porém temos um bom dinheiro guardado e eu já estava com algo em mente,então estou um pouco tranquilo em relação a tudo isso.
- O que pensa em fazer?
- Em abrir meu próprio negócio. - seus olhos estão focados na Celina que ao ouvir se levantou abruptamente.
-O quê? Está louco?
-É um bom plano,e como pretende fazer isso? - a ideia me animou um pouco.
-Como louco,Celina? Claro que no início não seria fácil,porém eu teria mais tempo com vocês,não viajaria tanto,seria um marido e um pai mais presente. As palavras da Emma em uma de nossas conversas abriu meus olhos. Não posso passar a vida inteira substituindo minha ausência com presentes caros e palavras incertas para meus filhos.
-Isso não faz sentido algum,Thomas. Com o currículo e a experiência que você tem, rapidamente conseguirá outro emprego. Não posso concordar com esse absurdo,existem incontáveis possibilidades de dar errado,porque se arriscar?
-Como você mesmo disse,eu tenho anos de experiência na área,Celina. Tenho pessoas com currículos tão excelentes quanto o meu,e todos eles ficarão desempregados.
-Então você quer fazer o papel de Salvador da pátria,o papel do bom moço? - falou alterada e se movendo de um lado para o outro.
-É claro que não. Estou dizendo que abrir meu próprio negócio não seria bom apenas pra mim e para minha família,eu estaria ajudando muitas outras. É claro que eu não poderia empregar muita gente,mas seria uma boa parte e com isto também bom começo. Honestamente esperava ter seu apoio. - meu pai se levanta e vai a seu encontro,mas ela faz um sinal com a mão pedindo que não desse mais nenhum passo.
-Mas não tem! - berrou - você não vai jogar todo nosso dinheiro na lama com essa ideia ridícula. Você não vai!
-Você tem meu total apoio,pai,e minhas orações também,com Deus na frente tudo pode dar certo,até as coisas mais -impossíveis. - falei tentando ignorar a histeria da Celina.
-É claro que apoia,mas o problema é que você não manda em nada aqui,e apenas palavras não resolverão.
-É claro que ela tem,Emma é minha filha assim como o Matteo. Tudo que tenho um dia terei serão deles. A pessoa que eu menos esperei receber confiança e apoio era ela. Mas você,Celina? Eu nunca imaginei isso de você.
-É claro que não, uma pessoa que cometeu a loucura de se casar novamente com você depois de tudo que você e a mãe dessa garota fizeram,você pensava que seria fácil a boba cair em seu papo mais uma vez.
-Perdeu o controle,Celina,o que pensa que está dizendo?
-Estou dizendo a realidade. Eu estou cansada disso tudo. - abre os braços - Cansada de fingir que sou feliz e que gosto da sua filha,quando na verdade não a suporto. Que amo você quando na realidade te suportei todos esses anos apenas para ter direito do que é meu - mate no peito duas vezes - eu anseio te ver no fundo do poço assim como eu cheguei. - meus olhos assim como o do meu pai se arregalaram -Eu notei que estava diferente,e nesta reunião de hoje,eu tinha total certeza que tinha relação com a conversa que vocês dois tiveram. Não vou te apoiar nessa loucura ou em qualquer outra, espero que consiga levar este plano a diante sem dinheiro, pois é como eu deixei a nossa conta hoje pela manhã.
-Oh,meu Deus,você não fez isso! - falei em choque - eu sempre soube que não gostava de mim,mas do papai? Sempre pensei que o amava.
-Amar? - riu irônica - como eu continuaria amando o Thomas depois de tudo que ele me fez,como?
Eu o desprezo com todas as minhas forças.
-Celina...
-É isso mesmo que você acabou de ouvir,eu te des-pre-zo. E sairei da sua vida,deixando você sem um tostão no bolso.
-Eu te pedi perdão inúmeras vezes por toda tristeza que te causei, nunca foi com a intenção de te ter de volta, eu simplesmente queria o seu perdão. Mas você disse que ainda me amava, e que me perdoava. Disse que sempre sonhou em ter nossa família de volta e eu acreditei por todos esses anos. Confiei em você para cuidar da minha filha, a qual você também prometeu amar como se fosse sua filha.
-Idiota. Idiota,mil vezes idiota!
-Não totalmente. Depositei minha total confiança em você até o dia em que conversei com a Emma no hospital, o que ela me disse sobre você,eu não acreditei de imediato mas eu tinha que concordar que havia algo errado,a filha que eu conhecia não era a mesma de quem você tanto falava mal. - senti um alívio no coração como se ele esperirasse - Procurei o doutor Miguel para uma conversa,ele garantiu que fez todos os exames e não acusou álcool algum na Emma, porém achou vestígios de um tipo de sonífero,o mesmo que você tomava a um tempo atrás. As palavras dele foram o suficiente para mim,pois eu nunca acreditei em coincidência. Você havia dopado ela e fez toda aquela encenação como se ela estivesse embriagada. Aquela droga de vídeo era muito bom,eu admito - bateu algumas palmas antes de continuar - Você é suja,Celina. Se queria se vingar,apenas eu deveria ser seu alvo,não deveria ter mexido com meus filhos.
-Você não tem nenhuma prova contra mim - gaguejou - deveria me agradecer por ter aturado sua filha por todos esses anos,fiz o favor de te dar um filho,algo que nunca quis e você sabia perfeitamente disso.
-Não eu não sabia - diz de imediato - mas obrigado por ter me dado um filho maravilhoso,Celina. Por isso jamais direi que me arrependo do nosso casamento,graças a ele,eu tenho o Matteo. Mas você,quero nunca mais ter que te olhar,ou dirigir uma palavra a você,a não ser de frente a um juiz,pois vou lutar pela guarda do meu filho com todas as minhas forças. - diz em tom rude.
-Não se esforce tanto,pode ficar com seu filho,estará me fazendo um favor, afinal foi ideia sua tê-lo,ainda me pergunto onde eu estava com a cabeça quando concordei com isso.
-Ele é apenas uma criança,Celina - falei em lágrimas.
-Cala essa sua boca - gritou - isso tudo começou por sua causa,sua mãe te usou para manipular o babaca do seu pai,que caiu feito um patinho.
-Saia da minha casa,agora, Celina.
-Nossa casa,meu bem - falou irônica.
-Ela nunca foi sua,sempre esteve no nome da Emma,desde a morte da Dávila,você não tem nada aqui. - sua voz também estava alterada.
-Seu traidor mentiroso. Quer saber? Eu não preciso disso,na verdade,dessa casa levarei apenas a roupa do corpo. Já tirei de você bem mais do que preciso.
-Você tirou de mim o que eu permiti que tirasse,sempre soube das suas transferências de grande valor todo mês. Eu nunca entendi o motivo já que todas as despesas eram pagas por mim,mas não me preocupei, sempre tive minha própria conta bancária e os meus filhos sempre tiveram a deles. Mas fico feliz que tudo que "pegou" seja o suficiente,agora saia da minha casa e não ouse chegar perto dos meus filhos novamente. - Celina saiu quase abrindo o chão por onde passava,enquanto eu estava totalmente paralisada com toda aquela confusão.
-Meu Deus,o que foi que aconteceu aqui? - falei olhando para o meu pai quando o vi desabar no sofá - pai, você está bem?
-Eu não posso acreditar que ela nunca amou nem mesmo o seu próprio filho,um filho que ela carregou em seu ventre.
-Há pessoas nessa vida,que nunca a entenderemos,por mais que tentamos. - minha mão estava em seu ombro.
-Sempre pensei que a Celina havia me perdoado. Você sofreu tanto por minha culpa,Emma. Eu sinto muito. - pôs sua mão sobre a minha.
-Está tudo bem,eu estou bem e é isto que importa. - sorrio fraco pra ele.
-Não Emma,não está tudo bem,eu fechei os olhos pra realidade,pois não queria aceitar que fui enganado por todos estes anos,meu orgulho falou mais alto, eu por muito pouco não te perdi,deixei você e o Matteo sofrendo nas mãos de uma pessoa que no fundo queria apenas vingança.
-Eu também errei e devo desculpas. Desde o início eu deveria ter sido honesta com você e ter te dito quem realmente era a Celina,me prendi a possibilidade de você não acreditar em mim e permitir que as coisas chegassem a este ponto.
-Está tudo bem,acabou - e depois de muitos anos,eu e o meu pai nos abraçamos com profundo afeto. Não chorei apenas por toda aquela situação,mas também por sentir o calor do seu abraço novamente. Era um choro com vários motivos, inclusive de alívio e alegria.