27° Capítulo

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Alguns dias se passaram e eles eram todos iguais e cada vez mais cansativos. Mas certa noite acordei com alguém segurando minha mão. Por algum motivo não me assustei,pelo contrário,aquele toque me acalmava.
-Vi-Vicente? - perguntei baixinho.
-Emma? Desculpa,não queria acordar você. Eu já estou de saída. - ele soltou a minha mão,mas segurei a dele o impedindo de se afastar.
-Não,não precisa ir embora porque acordei.
-Já é quase meia noite,e eu não deveria estar aqui.
-E porque não? - indago curiosa.
-Emma,eu não posso mais te ver. - seus olhos lacrimejam, o quarto não estava totalmente escuro.
-Por que?  porquê não lembro de você,não quer mais minha amizade?
-Não é bem assim.
-Então me diz como é,deixa eu tentar entender o motivo de você mentir pra mim.
-Eu não menti. - diz de imediato.
-Mas também não me falou a verdade.
-Não quero discutir com você. - olha para minha mão que ainda segura a sua.
-Nós não vamos,pois não é o que quero também. - um leve sorriso surgiu em seu rosto mas rapidamente sumiu.
-Fui covarde,eu deveria lutar por você,por nós dois. Não menti, não temos mais um relacionamento pois terminei com você a algumas semanas atrás.
-Mas eu estava em coma, Vicente. - meus olhos se estreitaram. - você desistiu de mim? - meus lábios estremeceram e sentir minhas lágrimas descerem sobre meu rosto.
-Eu nunca duvidei da sua recuperação. Eu não te disse um adeus nem mesmo quando o médico pediu que eu fizesse,eu te fiz a promessa que voltaria no dia seguinte para ouvir sua respiração fraca e orar segurando suas mãos pálidas. - suas lágrimas desciam e seus lábios estremecia enquando falava - eu não posso continuar ao seu lado, Emma Lopes. Mas por favor,não duvide dos sentimentos que sinto por você pois não importa a distância,você sempre ocupará meus pensamentos. Sempre! - seus lábios encontram em minha bochecha e suas lagrimas molharam ainda mais meu rosto. - adeus - surruma ainda com seu rosto próximo ao meu e sinto o calor do seu hálito naquela madrugada fria.
O chamei entre soluços mas ele se foi sem nem ao menos olhar para trás. Eu não entendia porque meu peito doía tanto,porque vê-lo sair por aquela porta apertava meu coração e minhas lágrimas não cessavam. Foi uma noite horrível,eu não dormir sono e muito mesmo me esforcei para isso. As palavras do Vicente me invadiam, eu as ficava repetindo inúmeras vezes na minha cabeça,por um segundo pensei que enlouqueceria com meus pensamentos.Mas quando vi,já era de manhã, logo logo alguém entraria naquele quarto com um sorriso tentando melhorar meu dia.
-Preciso que seja honesta comigo,Liz. - falei enquanto voltávamos da fisioterapia.
-Sobre o quê? - empurrava a cadeira de rodas antena ao que eu dizia.
-O que aconteceu durante o meu coma?
-Emma…
-Não quero ouvir pela milésima vez que não tem com o que eu me preocupar,que devo focar em minha recuperação,ou que no tempo certo eu saberei de tudo que preciso saber. Nada disso importa,eu preciso, não,eu necessito saber de tudo agora! - traveia a cadeira e Liz se esbarrou nela.
-Ok - soltou o ar e apertou os lábios - o que quer saber exatamente?
-Vamos do início. - respondi com o tom um pouco autoritário -  Porque eu iria morar com você?
-Sua memória está voltando? - arregalou os olhos e veio para minha frente.
-Não,o Matteo tem a língua solta. - ela volta para trás de mim e destrava a cadeira.
-Vamos para um lugar mais calmo - me guiou até um ambiente aberto que havia no hospital,era gramado,com pequenas árvores,bancos e até se ouvia o barulho de alguns pássaros. Poucas pessoas camiavam por lá,algumas delas com roupas de paciente. -  Por conta da Celina. - disse finalmente após me posicionar ao lado de um banco e sentar nele.
-O que ela fez para eu chegar ao ponto de sair de casa?
-Tem certeza que quer saber ?
-Liz!
-Ok,ok! - Liz desviou o seu olhar do meu - Ela pôs soníferos no seu suco quando você decidiu abrir o jogo para o seu pai. Você estava determinada a contar sobre tudo, incluindo seu relacionamento com o Vicente. Eu te encontrei no quarto desacordada no meio de uma bagunça total. Liguei para o Vicente e ele me ajudou a te levar pra minha casa. Ele também me ajudou a cuidar de você,e nós três concluímos que era perigoso você continuar morando na mesma casa que a sua madrasta.
-Meu Deus! - falei em choque,meus olhos se encheram de lágrimas - e quando tudo isso aconteceu?
-Um dia antes do seu acidente. Fui trabalhar e você ficou em minha casa,ainda não se sentia bem para ir à faculdade. Por algum motivo que ainda não sabemos, você pegou seu carro e saiu em alta velocidade, no meio do percurso você enviou a mensagem para mim e para o Vicente.
-O que eu dizia na mensagem? - a pergunta saiu da minha boca rapidamente.
-Na mensagem que me enviou, você dizia algumas coisas sem sentido, como: meus pais nunca me amaram de verdade,não passei de um plano,coisas assim. E para o Vicente,você dizia que precisava de um tempo,que iria para um lugar tranquilo, pensar sobre algo,que às vezes é uma benção não saber o porquê de nossa existência. Essas frases te lembram algo?
-Infelizmente não,na verdade são perturbadoras. Como me encontram na estrada? Pelo visto não disse para onde ia.
-Na verdade foi o Vicente que te encontrou. Pela sua mensagem ele sabia que iria para cachoeira.
-Cachoeira? eu fui pra uma?
-Sim e com ele. Muita coisa aconteceu lá,mas em resumo, o Vicente te levou até lá,ele te disse que ali era muito especial pra ele, é o lugar onde ele te disse certa vez que sempre iria para pensar,refletir ou quando necessitava ficar sozinho. Assim que ouviu sua mensagem ele foi atrás de você, e encontrou seu carro capotado e fumaçando alguns metros fora da estrada. Sem pensar duas vezes ele ligou para os bombeiros mas ficou com medo deles não chegarem a tempo e o seu carro explodir com você dentro. Então ele te tirou,disse que te chamava a todo instante e não tinha respostas,sua respiração estava fraca e ele entrou em desespero imaginando que te perderia,mas em seguida a ajuda chegou e te trouxeram para o hospital. - minhas lágrimas desciam enquando minhas mãos estavam sobre minha boca.
-E porque ele pôs um fim no que tínhamos por achar que falhou comigo? Porque ele diz que não lutou por mim? - falei enxugando as lágrimas. - Ele não se importa que eu pense que o motivo do fim do que tínhamos seja por conta da minha perda de memória?
-Ele apenas não quer te dizer que fez um acordo com o Sr.Thomas e a Celina.
-Acordo? Que acordo? - questiono.
-Quando você saiu da cirurgia,fomos informados sobre seu coma,Celina estava presente no momento e que Deus me perdoe se eu estiver errada,mas vi um grande alívio nos olhos dela quando ouviu sobre seu estado. Aquela cena nunca saiu da minha cabeça. O médico foi bastante claro e nos deixou ciente que não seria possível saber quando você acordaria ou até mesmo se um dia você iria acordar. Você estar viva já era algo admirável.
O Vicente e eu vínhamos te ver todos os dias, mas a Celina não o suporta, ela nunca apoiou o relacionamento entre vocês. Seu pai veio na primeira semana, ele não fazia ideia de quão grave era o seu estado, e quando chegou aqui teve a mente envenenada pela Celina. Não sei exatamente o que ela disse a ele,mas foi o suficiente pra ele proibir o Vicente de te ver, é claro que o Vicente não concordou e continuou vindo, mas sempre quando a Celina não estava,na maioria das vezes era durante a noite. Foi então que ela teve a brilhante ideia de convencer o seu pai a te transferir para algum tipo de clínica em outra cidade, segundo ela,além de você ficar longe do Vicente, seria muito bem cuidada por uma amiga dela que por sinal era dona do local. A Celina também disse que era muito ocupada e não podia ir ao hospital todos os dias, e na "pousada" ela não precisaria se preocupar com seu bem-estar, pois confiava totalmente na sua amiga e no seu profissionalismo. - revirei os olhos imaginando Celina com seu jeito manipulador -  Você sabe como sua madrasta é boa com palavras e como sempre ela convenceu seu pai. Só Deus sabe como seria sua vida naquele lugar, se cuidariam bem de você. - respira fundo antes de continuar - Então no dia em que seu pai veio ao hospital assinar os papéis da sua transferência, Vicente conversou com ele e chegaram a um acordo,que seria você continuar aqui no hospital e o Vicente sairia da sua vida. E pelo fato da Celina não "poder" vir ao hospital com frequência eu viria e assim ele não teria motivos pra te transferir. - eu estava boquiaberta e não piscava meus olhos que estavam fixos na Liz - Como você já pode imaginar, o Vicente cumpriu acordo, depois daquele dia ele não voltou mais ao hospital, mas me ligava ao menos duas vezes por dia para saber como você estava.
-Eu não posso acreditar nessa loucura - negava com a cabeça sem parar, - eu estava entre a vida e a morte enquanto a Celina pensava apenas em se livrar de mim e me afastar de vocês. - forcei um sorriso completamente incrédula - então, durante meu coma, a Celina desejava minha morte, meu pai queria se livrar de mim e o meu namorado terminou comigo. Meu Deus.
-Ei,seu pai achava que seria melhor pra você, apenas queria seu bem. Ele também é inocente nessa história por confiar demais na esposa que tem. E Deus nunca a  desamparou,Emma. O Vicente não pensou duas vezes no que era melhor pra você.
- mesmo que isso custasse o fim do nosso relacionamento...
- Sacrifícios,minha amiga, sacrifícios!

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