|01. O destino nem sempre é justo|

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|ILHA DO ARRAIAL - COFRE SECRETO, DO LABORATÓRIO SUBTERRÂNEO, DA DOUTORA JÚLIA ZACCARIAS|

Ano 1995...

  Seu corpo havia mudado consideravelmente desde a última vez, em que Samira viu Júlia pela última vez, mesmo que ela não tivesss a menor noção do tempo que havia passado, acorrentada e trancada numa cela escura, como um animal, desde que ela se entendia por gente. A liberdade parecia um sonho distante, assim como o continente que ela tanto queria conhecer, mas que não passava de uma promessa vazia, e sem importância, da parte de Júlia, a sua pior inimiga, e também a responsável por Samira, ser do jeito que era. Samira era uma garota inteligente, e logo entendeu a natureza de seus poderes, a capacidade de absorver as habilidades e os poderes de outras mutantes, e até mesmo de humanos. Mas seus poderes de nada lhe serviam, trancada do jeito que estava, e sem contato com os outros mutantes da ilha, como os demais, que de vez em quando, se encontravam, ou se viam, em suas celas na concentração, que ficava um nível acima de onde Samira estava, que era o cofre secreto do laboratório. Ela só via o mundo muito raramente pela tela de uma TV, através de novelas, ou outro programa qualquer, ou então, por alguns livros, que lhe eram permitidos, sendo a maior parte deles, romances, ou de outra natureza literária, que a deixasse mais controlada, e fácil de se manipular.

  Mas aquilo não era mais o bastante para uma jovem de quinze anos, que mesmo sem saber quantos anos tinha ao certo, sentia seu corpo mudar, e com isso, novos desejos e vontades, se acumulando dentro do mais íntimo do seu ser. Samira nunca foi amada, ela nem sequer imaginava, o que era o amor, na prática, já que ninguém nunca lhe deu carinho, lhe cuidou quando ela ficava doente, ou a cobriu nas noites de frio. Júlia lhe dizia que era a sua mãe, mas Samira sabia que isso não era verdade, já que a mais velha a olhava com indiferença e desprezo, a vendo somente como uma arma, nada além disso. Diante de toda aquela solidão, tudo que Samira podia fazer, acorrentada e sozinha naquela cela escura, que já não era mais a mesma de quando ela nasceu, era meditar, treinar com sua espada, a única coisa que ela tinha de realmente sua, e planejar a sua vingança contra Júlia.

  Sua vida não era interessante, Samira só conhecia a dor, a raiva, e a indiferença, sentimentos bons, eram quase desconhecidos para ela, sempre tão sozinha em sua cela, quase esquecida do resto do mundo. Até mesmo as visitas de Júlia estavam cada vez mais escassas, alguém cuidava dela, só que a jovem não sabia quem era, ao certo. Sempre usando roupas pretas, Samira imaginava, como poderia ser a sua vida, linge de tudo aquilo, tendo tudo que ela sempre desejou, liberdade, uma família para chamar de sua, e amor. Mas isso não passava de sonhos, nada mais além disso, seus cabelos negros cobriam o seu rostinho delicado, e seus olhos verdes, que já cansados de chorar, agora eram incapazes de derramar uma lágrima sequer. Ela estava se tornando cada vez mais fria, e sem empatia, seu rosto sempre sério, e com um olhar duro e penetrante. Sua voz, essa parecia seca, oca de sentimentos, fria, distante, e sem um pingo de emoção, do jeito que Júlia queria.

  Julia só aparecia, quando as correntes de Samira tinham de ser trocadas, o que acontecia cada vez menos, levando em conta que, ela não estava crescendo muito. Samira odiava Júlia, do fundo do seu coração, cada vez mais cheio de sombras, e sentimentos negativos. Mas por enquanto, não podia fazer nada, já que mesmo forte, do jeito que era, Samira ainda não conseguia se linertar de suas correntes, e nem mesmo sua espada, poderia corta - las, ela tentou, e acabou falhando miseravelmente. A espada obviamente não serviria para aquele fim, tendo sido um presente de Júlia, que mesmo sendo uma cientista sem escrúpulos, era tudo, menos burra, a ponto de entregar a uma mutante poderosa e instável, como Samira, algo que pudesse liberta - lá.

- Eu sei que você está aqui, Júlia, posso ouvir seus passos, o som da sua respiração, das batidas do seu coração, e o seu cheiro, também, seu perfume é inconfundível, quase único, eu  poderia te diria - Ela estava meditando e de olhos fechados, naquele momento, mas seus olhos, logo se abeiram mais uma vez, cheios de raiva - Aposto que veio trocar as minhas correntes de novo, ou quem sabe, me mudar de cela.

Samira, a gêmea perdida...  Onde histórias criam vida. Descubra agora