A sensação de morrer é estranha. Por mais bizarro que pareça, quando Thanos me apunhalou com sua espada eu não senti dor. Eu me senti aliviada.
Todas as dores, todos os sofrimentos que eu tive nos últimos meses, desapareceram. Em questão de segundos. E a última coisa que eu vi antes de apagar completamente, foram os olhos de Thor completamente marejados.
De repente, eu vejo algumas cenas passando. Mas não qualquer cena, são cenas de coisas que aconteceram durante a minha vida toda.
A primeira dela, foi o meu nascimento. O sorriso orgulhoso da minha mãe, com as bochechas vermelhas por conta do parto, enquanto ela carrega um pequeno pacote nos braços. Eu. Ela sempre foi uma mulher muito bonita, por mais que fosse alguns anos antes, ela quase não tinha mudado nada, somente algumas linhas de expressão e alguns cabelos brancos a mais. Minha mãe sempre foi a mulher mais importante da minha vida, ela me ensinou a ser quem sou hoje em dia, ou melhor, era.
Algum momento depois, mais uma cena aparece. Agora, aparece eu na escola. Eu rodeada de adolescentes, feliz. Um garoto de cabelos castanhos e olhos verdes me encara no canto da sala. Derek. Foi a minha primeira paixão, a primeira vez que eu me senti desejada por alguém. Eu era apenas uma adolescente com os hormônios a flor da pele na época e eu me apaixonava por qualquer garoto que demonstrasse interesse por mim. Um dia, depois da aula, Derek me chamou pra andar pela escola. Ele me leva para o campo de futebol, pra trás das bancadas, e lá foi onde eu dei meu primeiro beijo. Alguns momentos depois, a pedagoga nos pega aos beijos e nos dá uma advertência. Naquela semana foi onde eu perdi a minha virgindade, com Derek, na casa dele.
Mais uma vez aparece outra cena, anos mais tarde. Eu já tinha me formado no colégio e estava atrás de um emprego. Uma pequena lanchonete tinha acabado de abrir. Ela era charmosa, as paredes tinha uma cor rosa envelhecida, com alguns quadros com fotos antigas, as mesas eram de madeira. Uma música soa baixinho e tem algumas pessoas sentadas. Assim que eu entro, sou recebida por um simpático senhor que tem um bloco de notas nas mãos, ele me pergunta no que poderia me ajudar, e quando falo que estou atrás de um emprego, ele parece surpreso, mas após eu finalmente convencer ele, eu consigo o emprego.
As cenas voltam até alguns meses depois do meu nascimento, durante uma madrugada chuvosa onde na casa que eu cresci, só se podia ouvir o choro de um neném e os trovões ao fundo. Meu pai aparece no meu quarto, paredes rosa claro, um berço e uma cômoda branca. Ele parece furioso, gritando para mim calar a boca, obviamente ele está bêbado. Quando ele me pega no colo de forma agressiva, minha mãe aparece no quarto, eles começam a brigar, ela me pega do colo dele e ele a empurra, fazendo com que ela caia comigo no colo. Ela está aos prantos. Foi a primeira vez que ele bateu nela. E foi tudo minha culpa.
Eu volto para a cena da escola, dois dias depois que eu transei com Derek. Eu senti muita dor e fiquei em casa. Como sempre eu fui na direção dos meus amigos. Eles me olham com deboche, dão risada de mim e saem, sem falar nada. Eu me sinto confusa, afinal, o que está acontecendo? O sinal toca e eu vou até a minha sala, e no caminho eu sentia os olhares de todos com uma variedade de sentimentos. Nojo, desdém, deboche. Eu só queria saber o que estava acontecendo. Ao chegar na minha sala, minha cadeira está ocupada então vou ate o final da sala onde tinha um lugar vazio, e os olhares não param. Quando Derek finalmente entra ele vem até mim com um sorriso malicioso nos lábios, ele joga um tecido rosa na minha mesa e eu logo reconheço a calcinha que eu usei naquela maldita noite. Então ele olha para um de seus amigos que estão atrás dele, estende a mão e o garoto entrega algumas notas de dinheiro. E eu logo entendo. Foi tudo uma aposta. O resto passou como um borrão, tudo embaçado, eu estava chorando? Sim, eu estava. E novamente, foi tudo minha culpa.
Agora a lanchonete aparece de novo. Eu estava com um avental amarrado na cintura e um bloco de notas estava em minhas mãos. Eu lembro daquela noite, véspera de ano novo, a lanchonete estava lotada, pessoas bêbadas, uma banda pop tocava no palco do fundo, eu estava feliz, tinha tudo para aquela noite dar certo. Uma mesa mais afastada com alguns homens, chama um garçom, mas como eu estava mais perto, eu vou. Com um sorriso no rosto como sempre eu vou, anoto os pedidos e viro de costas para ir até o balcão, quando eu sinto um tapa na minha bunda. Eu respiro fundo, lembrando que eu preciso daquele emprego, engulo as palavras que quase saem de minha garganta e continuo o meu trajeto. Quando eu volto para deixar o pedido, um dos homens, camisa jeans com os primeiros botões abertos, cabelo grisalho com gel e bafo de cerveja, ele me puxa para o seu colo e começa a passar a mão em mim, eu tento me soltar mas quanto mais eu me mecho mais ele me prende. O que acontece em seguida é muito rápido. Eu vejo uma garrafa de vidro ao meu alcance, bato com toda força em sua cabeça, cacos de vidros voam para todos os lados e eu caio no chão. A música para, e todos estão olhando para nós, o homem vem para cima de mim como se fosse um touro, Jess, um dos garçons aparece e segura ele com toda a força e fala pra mim sair dali. Ele não precisa repetir, eu saio correndo. E pela última vez, tudo minha culpa.
Tudo minha culpa. Sem exceção. Eu afasto todos ao meu redor. Menos a minha mãe. Mas ela está morta. E agora eu também.
Quando eu penso que finalmente acabou, eu volto para aquele lugar laranja. Um completo vazio com o céu laranja. Eu não me sinto mais viva, eu não sinto nada. Mas uma voz chama a minha atenção.
- Cassie? - Uma doce voz me chama. Minha mãe.
Eu tento falar mas nada sai. Que droga está acontecendo?
- Cassie querida, nada disso é sua culpa!
É sim.
- Cassie, por favor me escute! Você ainda tem uma chance de derrotar Thanos e de nos trazer de volta.
Eu sei que eu não vou conseguir. Todas as minhas chances acabaram quando Thanos enfiou sua espada em mim. Ele ganhou, e mais uma vez foi tudo minha culpa.
E de repente um vento forte sopra em minha direção, e eu enxergo em na minha frente uma caixa, e dessa caixa saía uma luz colorida. A caixa que eu vi em meus sonhos. Eu dou pequenos passos na direção dela e pela primeira vez desde que eu morri, eu começo a sentir algo, pequenas ondas de calor, e conforme eu vou chegando mais perto a luz se intensifica. Quando eu finalmente chego, levanto a tampa da caixa e a luz se apaga revelando 6 pequenas joias.
Mas como? Isso não é possível. As joias estão com Thanos. Não pode existir uma duplicata delas.
- Exatamente. As joias estão com Thanos. Mas ele não é o verdadeiro portador delas. Foi você quem as criou. Elas pertencem a você por direito. E quando você tomar posse delas, automaticamente, as que ele possui vão perder o poder.
Eu respiro fundo, sentindo o chamado delas. E quando eu estendo a minha mão para tocar nelas, elas fincam nos meus dedos, exatamente como estão na manopla de Thanos. Eu nunca me senti assim, tão viva, tão poderosa. Eu sinto que sou capaz de derrotar ele.

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White Storm
ספרות חובביםThanos estalou os dedos, transformando metade do universo em pó, literalmente. Isso trouxe grandes descobertas para todos, incluindo os Avengers, quando eles achavam que não tinham mais nenhuma chance de trazer todos de volta, uma garota nova em Nov...