De volta para a casa

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– Você não entendeu, Jhon.

– Entendi, me diz o que você quer?

– Como assim?

– Se você realmente acha que vai morrer por conta dessa doença, o que você quer? Morrer amargurada, se sentindo culpada e infeliz. Ou pelo menos ter vivido um dia de cada vez? Com alegria, com força... Fé e com quem você ama do seu lado? Pensa nisso. – Ele se levantou, me deu um beijo na testa e se foi. -Tchau, baixinha

E Jhon saiu por aquela porta levando todo meu medo, o medo que eu tinha de procurar a Camila... Tentei dormir, já era madrugada, mas não conseguia, só pensava em Camila e resolvi ligar, se ela não me atender? Bom, pelo menos eu tentei. E no terceiro toque ela atendeu o telefone.

– Laura???

– Oi, Camila... sou eu, sim.

– Você tá passando bem? Aconteceu algo?

– Calma, não se preocupa, eu estou... bem. Eu sei que está tarde, e amanhã... Ou melhor dizendo hoje, você acorda cedo, mas eu queria saber se você pode vir até minha casa pra gente conversar.

– O que aconteceu para você me ligar? Ainda mais essa hora?

– Eu queria combinar, perguntar... Se você poderia vir aqui na minha casa pra gente conversar. Olha, você não precisa vir se não quiser.

– Que horas?

– A hora que você quiser e puder Camila.

– Bom, você deve estar dormindo cedo, eu vou gravar até as dezoito horas, acho que às dezenove horas eu consigo ir te ver.

– Ótimo! Posso te esperar esse horário então?

– Pode.

– Se houver um imprevisto e você não puder vir, me avise... Eu vou entender.
– Não haverá imprevistos, sete da noite eu estarei ai.

– Ok, vou te esperar... Boa noite, Camila.

– Boa noite, Laura.

Era tão bom escutar a voz de Camila, mesmo que a voz soasse rude... Uma paz me invadiu, eu não saberia se ela iria me querer, se ela iria ao menos me perdoar. Mas eu iria tentar, iria tentar ser honesta comigo... Coisa que eu não sou desde que eu me deparei com essa doença.

Eu estava preocupada, eu estava careca, estava sem pelos... Sem as sobrancelhas, eu não sei qual vai ser a reação da Camila ao me ver de lenço. Sem contar que eu emagreci muito, eu mal consigo comer, tenho vontade de vomitar, eu já emagreci mais de dez kg. Espero que ela não se assuste muito.

Quando acordei contei aos meus pais que eu resolvi conversar com a Camila, e que ela aceitou vir me ver. Eles ficaram muito contentes e disseram que aproveitaria para ir ao cinema e depois jantar fora.

A noite chegou, e resolvi esperar a Camila vendo seriado na sala de vídeo, era meu lugar predileto da minha casa, primeiro, porque tem todas as minhas séries e filmes prediletos... Uma videoteca. Segundo porque lá é superconfortável, pufs e mais pufs espalhados pelo cômodo.

As sete horas, eu escutei a voz de Camila na porta.

– Posso entrar, Laura?

Quando me virei ela estava parada, me olhando de um jeito diferente do que eu imaginava, ela não estava assustada. Perdi minha voz por alguns segundos e meu coração parecia sair pela boca, só me restou fazer um breve sinal com a cabeça, dizendo que ela poderia entrar.

– Seus pais já foram. – Disse Camila

– Como você está? – Ela se sentou na minha frente.

– Bem e você?

– Lutando.

– Você vai vencer isso, eu sei que vai. – Ela sorriu cordialmente. – Então, você me chamou, e aqui estou... O que você quer falar comigo?

– Primeiro de tudo, te pedir desculpas por aquelas coisas que te falei.

– Tudo bem, esquece aquilo.

– Você tem ódio de mim, Camila?

– Não, eu tive por alguns dias... Mas eu não consigo ter ódio de você.

– Eu menti pra você Camila.

– Eu sei, você disse que tinha certeza que gostava de mim... Mas já passou

– Não, não eu ... Eu não menti quanto a isso, eu menti quando disse que não gostava mais de você! Quando eu fiquei sabendo da minha doença, a primeira coisa que eu pensei foi em morte, e pensei em você chorando e sofrendo aqui! Pensei no que você já viveu e sofreu com a morte da Mary... Eu decidi mentir, atuar e fingir que eu não te queria mais. Eu fiz aquilo tudo na intenção de você me odiar, porque achei que seria melhor assim.

ElaOnde histórias criam vida. Descubra agora