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NO DIA SEGUINTE, peguei trânsito no caminho e entrei a toda no estacionamento, com o coração disparado, preocupada, sem saber se na faculdade havia algum tipo de advertência por atraso.

Cheguei dez minutos atrasada na aula de inglês, que começava às oito. Quando passei sem fôlego pela porta, o professor já estava na frente da sala, falando sobre nossa primeira dissertação. Meu rosto ficou quente quando todos os alunos olharam para mim no momento em que a porta se abriu. Achei que seria repreendida, mas não fui.

A faculdade é mesmo diferente. Não demorei a entender que ninguém liga se você vai ou vem. Se mastiga chiclete, olha pela janela ou não entrega um único trabalho. Quanto mais aprendia sobre as regras da faculdade, mais percebia que os professores do ensino médio são como babás, e na faculdade isso não existe.

E eu gostava muito dessa ideia, gostava da perspectiva de que talvez, quando ninguém estivesse olhando, pudesse me tornar outra pessoa.

Eu não queria chegar atrasada à segunda aula, então, quando a primeira finalmente terminou, saí antes dos outros alunos.

É engraçado como naquele dia eu estava tão obcecada com o horário. Se pudesse ter um superpoder, acho que desejaria a capacidade de alterar a velocidade do tempo. Você deseja isso agora? Agora que tanta coisa está acontecendo tão devagar e você deve estar aí sentado, esperando e pensando e aguardando para ver o que vai acontecer, o que vai desmoronar e o que vai ser reconstruído?

Se tivesse esse poder, eu lhe daria. Você deve precisar dele mais do que eu.

Atravessei o campus naquela manhã, o orvalho grudando em minhas sapatilhas pretas bonitinhas, satisfeita por não ter que pegar o mapa de novo para lembrar aonde estava indo. O campus, que se espalhava por uma colina, era cercado de árvores. Eu me sentia completamente adulta e no controle ao seguir meu percurso, passando entre os prédios para chegar ao laboratório. Não haveria sinal indicando o começo da próxima aula nem monitores nos corredores para nos apressar.

O laboratório 3A estava vazio quando entrei, ou ao menos pensei que estivesse. Mas, quando passei por uma porta de armário aberta, você se virou em minha direção, e nos esbarramos.

Você esticou as mãos para pegar meus braços e me segurar.

Você tocou em mim, não deixou que eu caísse, e fiquei tão perto que senti seu cheiro, uma fragrância limpa e amadeirada se espalhando a meu redor. Era completamente diferente do desodorante Axe que os garotos do ensino médio adoram, com aquele cheiro sufocante que queima e parece segui-los como uma nuvem. O seu era sutil, sofisticado.

— Madelyn! — exclamou você, as mãos fortes segurando meus braços.

Encarei-o com olhos arregalados, e minhas bochechas coraram e ficaram quentes. Eu dera de cara com você como uma garota atrapalhada do ensino médio que não olha por onde anda.

— Desculpe — falei, torcendo para que meu rosto não estivesse tão corado quanto eu sentia.E foi então que meu cérebro e meus ouvidos sincronizaram, e percebi que você dissera “Madelyn”. Isso me fez abrir um sorriso tão grande que devo ter ficado com cara de maluca.

— Não, foi minha culpa, não me dei conta de que já eram nove horas. Só estava pendurando meu casaco. — Por cima do ombro, você apontou com o polegar para o armário logo atrás.

Naquele dia, você não estava com o suéter de gola V por cima da camisa de botão, e foi mais fácil ver sua silhueta, o jeito como o tecido de algodão grudava em seu corpo.

— Na verdade, cheguei um pouco cedo — comentei, para fazê-lo se sentir melhor.

Nunca fiquei tão feliz por chegar cedo, por aquele momento de sorte em que nossos corpos se esbarraram. Foi assim conosco. Um dia, éramos duas pessoas separadas. No seguinte, nos esbarramos, e nenhum de nós teve a menor chance.

A Verdade Sobre NósOnde histórias criam vida. Descubra agora