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COMECEI A ESCREVER para você um mês atrás, quando pensei que seria preso. Achei que minha carta talvez o ajudasse a ser libertado, porque eles veriam que tudo havia sido minha culpa e leriam aquele final falso em que não fizemos sexo. Eu escreveria tudo, e eles saberiam como aconteceu.

Mas acabei não a enviando, é claro, e ela fica todos os dias em meu quarto, esse enorme lembrete de nós dois. Todas as folhas, até o final falso da noite no chalé. Está tudo na gaveta de baixo de minha escrivaninha. O restante está escondido debaixo de meu colchão, porque morro de medo de minha mãe revistar o quarto da mesma forma que fez quando estávamos no chalé, apesar de as coisas terem se acalmado agora e de ela não ter feito nada do tipo desde que viu que eu estava bem.

Às vezes eles ainda me observam, avaliam, como se tentassem descobrir como não perceberam antes. Como se talvez minha pele evidenciasse algo, ou meus olhos, algo que lhes desse a resposta que jamais serão capazes de compreender de verdade.

Mas, no fim, eles estão muito felizes de apenas seguir em frente e acreditar que estou bem. Então, aqui estou, ainda presa a você enquanto o mundo continua a girar, esquecendo-se de nós.

Não sei o que fazer com essas centenas de páginas, porque acho que não preciso delas para livrá-lo de problemas com a lei.

Mas ainda quero que você as receba, que veja por que fiz o que fiz. Não sei o que anda pensando nessas últimas semanas que passamos separados. Se me odeia ou se sente minha falta como eu sinto a sua. Se você se lembra das conversas que tivemos, dos momentos que passamos juntos quando baixamos a guarda, compartilhamos segredos.

Se você ler isto, espero que não me odeie por algumas das coisas que incluí. Só fiz isso porque pensei que ser honesta e contar um pouco o que aconteceu os ajudaria a acreditar que não fizemos sexo. Quanto ao quase beijo em High Rock... eu não tinha certeza de que não causaria problemas, mas pensei que, pelo menos, a carta mostrava que você tinha controle, que você confiava no que eu havia contado e tomou decisões apropriadas com base nisso. E

que teria feito o mesmo se minha idade verdadeira viesse à tona naquele momento.

Portanto, agora que não tenho mais nada a escrever, decidi...

Vou tentar lhe dar todas essas páginas.

Esta noite.

Tentei descobrir outra forma de fazer isso, de entregar essas cartas sem complicar as coisas, já que não posso ver você nunca mais. A entrega em mãos é a única opção, no entanto.

Não posso correr o risco de enviar pelo correio, e também não posso deixar em sua varanda.

Se alguém pegar, estará tudo acabado para você.

Faz um mês, Bennett. Um mês que aguardo a hora certa e espero as coisas esfriarem para que quando eu for escondida até sua casa ninguém perceba. Mas não posso mais esperar.

Preciso vê-lo e pedir desculpas cara a cara, e, se não falar comigo, vou apenas entregar tudo isso. O resto de nossa história.

Talvez um dia você leia e compreenda.

Até lá,

Madelyn

A Verdade Sobre NósOnde histórias criam vida. Descubra agora