TUDO O MAIS ACONTECEU ora em câmera lenta, ora em alta velocidade. Meus pais correram pelo gramado em um instante, mas o abraço sufocante que veio em seguida durou horas. O som do motor de sua picape sendo desligada levou uma fração de segundo, mas o baque dos sapatos do policial no gramado ecoou por uma eternidade.
O braço de minha mãe me envolveu enquanto ela me levava em direção a nossa casa.
Mas eu me soltei, e me virei para olhar você.
Você não fez o mesmo. O policial o levou até o carro dele, e você se apoiou com as mãos no capô, os ombros caídos e o rosto, pálido. Minha mãe me puxou para dentro de casa,murmurando alguma coisa sobre declarações, mas eu não conseguia processar tudo.
Precisei de algumas horas de conversa com o policial, depois com meus pais e, por fim, com o policial de novo para entender como tudo dera errado, o que eles tinham feito enquanto estávamos juntos, e que fora tudo minha culpa.
Tudo minha culpa.
Sabe, Bennett, eu estava tão concentrada, tão animada com nossa fuga, que deixei algo importante em casa: o celular.
Tudo desvendado por causa de um celular idiota.
Minha mãe o vira na cama ao ir guardar minhas roupas lavadas naquela noite. Achou que eu iria querer pegá-lo, sabia quanto eu era apegada àquela coisa, e decidiu que seria a porcaria da mãe do ano se o levasse para mim na casa de Katie. Eu dera a ela o endereço da minha amiga semanas antes, quando a convenci a levar até lá um caderno do qual precisaríamos para estudar.
Ela precisava sair para buscar comida mesmo. Assim, passou na casa de Katie.
E eu não estava lá.
Mas você sabe disso, porque eu estava com você. Katie tentou me acobertar, mas só piorou as coisas. Disse que eu ia para lá naquela noite, só que ainda não havia chegado.
Minha mãe disse que já fazia três horas que eu tinha saído de casa, que já deveria ter chegado.
E então ela surtou, imaginando-me sequestrada ou morta em uma vala ou em um acidente de carro, despencando de um penhasco ou coisa do tipo.
Nunca ocorreu a ela que eu simplesmente havia mentido, que era tudo uma historinha.
Porque, para ela, eu ainda era aquela Filha Muito Perfeita, com as notas perfeitas e as roupas perfeitas e "por favor" e "obrigada" perfeitos.
Ela foi para casa e descobriu a senha de meu celular, porque fui idiota o bastante para deixar a senha padrão: 1, 2, 3, 4. E quando a tela ganhou vida tudo acabou.
Aquela foto que tirei de você corrigindo provas em sua pequena cozinha... era meu fundo de tela.
No segundo em que viu isso, ela chamou a polícia e alegou que um homem mais velho devia estar me seduzindo. E naquele instante eles rotularam você. Você foi designado como algo feio, muito diferente do que realmente é.
Com aquelas palavras, a situação ficou séria, e os policiais fizeram de tudo para me encontrar. Minha mãe deu permissão para revistarem meu quarto, e eles o viraram de cabeça para baixo em busca de mais pistas. Encontraram aquele bilhete bobo que você escreveu em um dia em que eu estava particularmente silenciosa na aula, o que você assinou como Bennett e me entregou quando saí da sala.
Encontraram todo o meu material, e seu nome se destacou. Ninguém mais tem esse nome, que achei tão bonito, tão perfeito para você.
Eu estava certa sobre dezesseis ser a idade de consentimento. Eles disseram várias vezes à minha mãe que eu tinha idade suficiente para decidir, que não era ilegal eu sair com um homem mais velho.
Mas quando descobriram que você era meu professor a situação mudou.
Acontece que não importa se você havia deixado de ser meu professor quarenta e oito horas antes de ficarmos juntos de verdade. Porque alegaram que você usou sua influência para me manipular, para me pôr em uma situação comprometedora.
Enquanto ainda estávamos no chalé, mandaram gente para sua casa, Bennett. Enquanto escrevo isto não sei se você já voltou lá, mas se encontrar seu quarto como encontrei o meu, sinto muito.
Assim, perto de amanhecer, eles deixaram uma viatura na porta da minha casa, para o caso de voltarmos. E quando você me trouxe de volta, caímos direto na armadilha, nas acusações horríveis. Minha mãe me levou para casa apesar de eu estar desmoronando; fechou as cortinas e não quis me dizer o que fariam com você. Recusou-se a me dar qualquer resposta, porque só queria fazer perguntas.
Foi estranho. Ela caiu no choro, algo que não me lembrava de ter visto antes. Ela me abraçou, porque, durante todo o tempo que passamos fora, teve certeza de que um predador horrível tinha me fisgado. Eles não sabiam que era eu quem estava pescando, que fui eu que fisguei você e menti.
Meu pai andava de um lado para outro na cozinha, como um tigre em uma jaula pequena demais. Seus punhos se abriam e fechavam, seu pescoço e suas bochechas estavam muito corados.
Eu disse a ele que não fizemos sexo, Bennett. Falei que você não sabia que eu tinha dezesseis anos e que apenas conversamos. Você pode ver pela forma como escrevi minha primeira carta, pela forma como deixei no ar que nada acontecera.
Sabe, aquela carta seria minha forma de explicar tudo, para você e para eles ao mesmo tempo, para redimi-lo, fazer com que eles acreditassem que nada havia acontecido entre nós, que tudo fora inocente. Mas acho que acabou não sendo assim. É por isso que posso ser sincera agora.
Eles usaram palavras feias, como "violada", "proveito" e "abuso". Minha mãe tentou me fazer ir ao hospital com a polícia, para ser examinada, ou sei lá o quê, e foi meu pai quem me defendeu. Acho que ele queria tão desesperadamente que eu estivesse falando a verdade que se agarrou à ideia de que nada havia acontecido mesmo.
Não sei se eles poderiam ter me obrigado a ir. Talvez. Quem sabe seja a lei ou algo assim. Mas depois de algumas horas me pedindo inúmeras vezes eles se conformaram e me deixaram decidir.
Espero que você saiba o que decidi.
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A Verdade Sobre Nós
RomanceMadelyn Hawkins está cansada. Cansada de ser sempre perfeita. Cansada de tirar A em tudo. Cansada de seguir à risca os planos que os pais fizeram para ela. Madelyn Hawkins está cansada de ser algo que não é, algo que não quer ser. E então ela conhec...