NAQUELE SÁBADO, esperei por você no carro ao pé da montanha Peak. Cheguei cedo porque não queria perdê-lo.
Eles precisam saber disso. Se eu não tivesse ido para lá naquele dia, desejando e torcendo para fazer outra caminhada em sua companhia, você jamais teria dado o passo seguinte. As coisas teriam ficado naquela sua sala de aula, e seu muro (construído de camisas de botão e suéteres de gola V, de béqueres e cilindros, de PowerPoint e da ementa) teria permanecido entre nós.
Mas não foi o que aconteceu, Bennett. Porque você chegou naquela picape S-10, com Voldemort preso na caçamba pulando sem parar e mal controlando a empolgação.
Você planejava apenas uma caminhada normal. Como tantas outras que provavelmente já fizera. Mas eu planejei uma caminhada exatamente igual àquela com você.
Eu sou a responsável por ficarmos juntos naquele dia. Sempre fui eu que criei oportunidades, que cultivei o relacionamento. Para você, isso é um ato de manipulação?
Olhando para trás, parece mesmo um pouco isso. Mas não tive essa sensação na época. Só parecia que você era irresistível e eu precisava de mais.
Saí do carro antes de você parar, para fingir que havia acabado de chegar. Tirei o casaco do banco de trás, fechei o zíper e segui na direção da trilha como se nem tivesse reparado em você.
Voldemort me deu a deixa. Ele latiu, e eu me virei para olhá-lo, fingindo surpresa.
Pareceu verdadeiro, Bennett? Você acreditou em minha atuação?
Você torceu para me ver, assim como torci para vê-lo?
Tudo que eu queria era que continuássemos compartilhando esse segredo, essas caminhadas que eram só nossas.
Lembre-se disso. Enquanto eu o esperava à sombra da montanha Peak, ainda não sonhava que nos tornaríamos o que fomos. Eu só gostava de como me sentia perto de você, gostava de, ao menos por um momento em minha existência, não precisar fingir ser uma pessoa que não era.
Acho que isso é o cúmulo da ironia, poder ser eu mesma perto de alguém que achava que eu era uma pessoa completamente diferente. Mas saiba que minha idade é a única coisa que nunca compartilhei com você. Tudo o mais era verdade.
Quando você saiu da picape, vi que usava um moletom com capuz. Havia uma enorme águia do time de futebol americano Seattle Seahawks na frente e as cordinhas tinham sido retiradas. Era surrado e ficava bem em você.
Ainda tenho esse moletom, sabia? Eu me esqueci de tirá-lo naquela manhã em que me deixou em casa e não olhou para trás. Espero que não seja um problema eu ficar com ele. É tudo que tenho agora.
O moletom e as lembranças de você quando começamos a andar pela trilha, com Voldemort pulando e balançando o rabo e tremendo de empolgação, mais ou menos como meu coração ficava sempre que você me encarava.
— Então, Madelyn — começou você, quando fizemos a primeira curva e adentramos as sombras coloridas da floresta.
— Então, Bennett — respondi, enfiando as mãos nos bolsos do casaco.
Você olhou para mim um tanto surpreso quando falei isso. Acho que havia se esquecido de que me dissera seu primeiro nome.
— Grandes planos para o fim de semana? — perguntou.
Dei de ombros.
— Ah, você sabe, só uma maratona de filmes ruins comendo besteiras no intervalo entre os estudos. Sabia que tenho um professor de biologia que é um feitor de escravos? Temos umas folhas de exercícios bem irritantes…
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A Verdade Sobre Nós
RomanceMadelyn Hawkins está cansada. Cansada de ser sempre perfeita. Cansada de tirar A em tudo. Cansada de seguir à risca os planos que os pais fizeram para ela. Madelyn Hawkins está cansada de ser algo que não é, algo que não quer ser. E então ela conhec...