A SEMANA SEGUINTE foi puro sofrimento. Para você também foi assim?
Você alguma vez se arrependeu de me convidar para a caminhada, Bennett? Não estou falando de agora, que você sabe como tudo terminou, porque sei que deve se arrepender. Mas naquela época, quando só havia possibilidades diante de nós.
Lá atrás, quando achava que eu tinha dezoito anos, Bennett. Você se arrependeu?
Seria quase a morte para mim pensar que você se arrependeu, que passou a semana toda imaginando formas de escapar, de cancelar o compromisso sem muito estardalhaço. Porque só a promessa daquela caminhada já me ajudou a enfrentar muita coisa naquela semana.
Meu irmão foi para casa na segunda. Meu Irmão Muito Perfeito. Meu pai preparou sua Lasanha Muito Famosa e minha mãe saiu do trabalho mais cedo para termos um Ótimo Jantar de Família, como fazíamos quando eu era pequena, quando era a Filha Muito Obediente.
Talvez eu ainda fosse aquela garota, já que nunca tinha dado um passo em falso, jamais fizera nada inesperado ou andara fora da linha.
Até surgir você, pelo menos.
Meu pai me fez lustrar a prataria porque receberíamos um "convidado", embora fosse apenas Trevor. Meu irmão CDF, bem-sucedido em tudo, para quem, aparentemente, era importante saber se comeria ou não na melhor porcelana.
Meu pai e minha mãe Morrem de Orgulho de Trevor. Meu pai se gaba dele sem parar e minha mãe conversa com ele sobre números e ângulos e seja lá que lixo se estude em engenharia. Ele é o elogiado, aquele cujo exemplo devo seguir.
Lembra quando contei que era boa em matemática e ciências? É por causa de minha mãe.
Os números são fáceis para mim e para Trevor. É boa genética ou coisa do tipo.
Nunca quis seguir os passos de Trevor, mas meus pais jamais enxergaram isso, porque, quando percebi, eles já haviam se acostumado com a ideia, deixado-a crescer como um enorme pé de feijão, e como eu o cortaria? Quando nem sequer sabia que poderia escolher outra coisa? Fazer birra porque não quer algo sem ter outra opção em mente é comportamento de uma criança de dois anos.
É difícil decidir o que ser quando você só se destaca naquilo que não quer ser.
Essa era minha vida. Em preto e branco. E eu desejava cor. Mas sabia que acabaria me formando em algo nada interessante. Para mim, seria engenharia, ciências ou alguma carreira para o qual o caminho estava bem-trilhado e seria fácil de percorrer.
Foi nisso que pensei naquele dia, sentada na cadeira de encosto alto comendo salada, sentindo a alface amarga demais na língua, ouvindo Trevor falar sobre seu estágio em uma empresa de engenharia em Seattle, vendo meu pai radiante e minha mãe nos céus, e pensando em como nunca poderia ser quem eu queria sem decepcioná-los.
Achei que participar do Running Start e ir para a faculdade aos dezesseis anos seria o bastante para tirá-los de meu pé, que me daria tempo para descobrir o que eu queria. Mas naquele momento finalmente percebi com horrível clareza, em alta definição, que jamais haveria uma trégua, um momento em que eles recuariam e me deixariam em paz para seguir para onde quer que meu caminho sinuoso me levasse.
Sabe, Bennett, o triste em relação a expectativas é que se você as frustrar (um pouco ou completamente, não importa) decepcionará as pessoas. E meus pais... eles não têm padrões baixos. E meu irmão... só os aumentava.
Eu queria diversão, o tipo de diversão que jamais havia tido. O tipo de vida e aventura que sonhava que você tivesse. Havia assistido à MTV o bastante para saber que outros adolescentes curtiam, xingavam e viviam altos e baixos nos relacionamentos. Estragavam tudo, mas, de alguma forma, acabavam voltando a ficar juntos.
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A Verdade Sobre Nós
RomanceMadelyn Hawkins está cansada. Cansada de ser sempre perfeita. Cansada de tirar A em tudo. Cansada de seguir à risca os planos que os pais fizeram para ela. Madelyn Hawkins está cansada de ser algo que não é, algo que não quer ser. E então ela conhec...