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A TRILHA ATÉ o rio era batida e plana, como se você tivesse caminhado por lá centenas de vezes. As chuvas de outono haviam deixado os caminhos visíveis escorregadios, mas, conforme o sol subia atrás de nós e me aquecia através do casaco leve, não me importei.

Quando chegamos a uma árvore caída, você se virou e ofereceu a mão para me ajudar a pular o toco. Dessa vez, quando cheguei ao outro lado, você não me soltou, como tinha feito em outras caminhadas. Não agiu como se o que estávamos fazendo fosse proibido, tivesse que ser segredo.

Você sorriu para mim como um garoto sorri para uma garota, e fiquei perdida em você por um instante, envolvida demais para me importar com a hipótese de aquilo tudo ser errado.

Envolvida demais para ligar se você viraria as costas para mim quando descobrisse a verdade. Em treze de dezembro, eu o beijaria e colocaria a boca no trombone.

Talvez as pessoas interpretem mal essa minha expressão.

— Seu cabelo fica bonito assim.

Você estendeu a outra mão e mexeu em meus cachos.

— Obrigada — respondi, corando um pouco e apertando sua mão, muito contente por você finalmente ter dito aquilo. Fez com que aquela hora amaldiçoando o babyliss valesse cada segundo. — Gosto do seu suéter.

Xinguei-me porque soou idiota, como se eu tivesse que responder a cada coisa que você dizia. Desejei ter elogiado você primeiro.

— Obrigado... Na verdade, comprei em Paris.

— Ah, achei mesmo familiar. Naquela sua foto na Torre Eiffel...

Parei ao perceber o que disse e me xinguei de novo.

Você ergueu uma sobrancelha.

— Eu lhe mostrei aquela foto?

— Eu... hã... não. Vi no Facebook — admiti.

Você sorriu, revelando uma fileira de lindos dentes brancos, exceto por aquele torto, que passei a amar.

— Ah, você bisbilhotou meu Facebook. Estou lisonjeado.

— Talvez um pouco — comentei, corando. — Fiquei curiosa.

Curiosa. De repente, entrei em pânico. E se você também ficasse curioso? Eu teria que mudar minha página do Facebook para "privada" imediatamente, antes de você ver que eu era aluna na Enumclaw High School, antes de ver todas aquelas carinhas jovens dos meus amigos.

Antes de descobrir a verdade.

— E? — insistiu, repentinamente interessado. — Matou a curiosidade?

Balancei a cabeça.

— Não, não matei.

— Você queria mais — disse e cutucou meu ombro de propósito. — Minha nossa, o que vou fazer com você nas próximas oito semanas?

Oito semanas. Meu Deus, parecia muito tempo.

— Não faço ideia — respondi e pestanejei, com a expressão inocente.

Talvez fosse demais, eu, tão jovem, tentando fingir inocência, mas não pensei nisso na hora.

Os sons de água corrente, que começaram como um leve e distante zumbido, se intensificaram e se tornaram um rugido fraco, e logo chegamos à margem de pedras do rio Green. Precisei tirar um pouco a mão do bolso quando subi na superfície irregular e segui pelas pedras do tamanho de bolas de boliche. Não era um rio de margem arenosa.

— No verão, aqui fica cheio de gente, mas, para nossa sorte, agora ele é só nosso — comentou você assim que soltou minha mão.

Quis perseguir a sua, capturá-la de novo e nunca mais soltá-la, mas acabei enfiando as minhas nos bolsos, porque o frio estava aumentando. Perguntei-me quanto tempo ficaríamos ali fora, na beira congelante do rio, a uns dez graus de temperatura com uma brisa enevoada vindo das águas agitadas.

A Verdade Sobre NósOnde histórias criam vida. Descubra agora