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NAQUELA TARDE, sentei-me encolhida na cama, encostada na parede, com os dedos no teclado, digitando seu nome em uma caixinha branca.

Gostei do nome “Bennett” no momento em que você o pronunciou. Combinava. Era aristocrático e sofisticado e se encaixava na imagem que eu tinha de você tomando chá ou cerveja ou outra bebida em outro país.

Não sei por que fiquei fascinada por você tão rápido, mas fiquei. Tenho certeza de que não sou a única pessoa na história do universo que leu tanto nas entrelinhas a ponto de acreditar que algo está crescendo e se construindo mesmo que não se admita.

Como naqueles sites de relacionamentos repletos de histórias de caras e garotas que se conhecem e seguem caminhos distintos, mas nunca se esquecem um do outro, mesmo que jamais tenham de fato se falado. É um sentimento bonito, não acha? Que algum rapaz solitário morando em uma cidade grande ache que conheceu sua alma gêmea, apesar de os dois nunca terem conversado, e que ela escapou por entre seus dedos, e agora ele querer uma segunda chance?

Seria legal saber se você acreditava em almas gêmeas, esse tipo de coisa. Se acredita, talvez voltemos a ficar juntos um dia.

De qualquer modo, eu não estava nesse tipo de site naquele momento. Estava no Facebook e havia acabado de encontrar seu perfil, e meu coração pulou quando sua foto apareceu. De tão acelerado, deve ter soado como os batimentos de um bebê em um ultrassom.

Acho que “Bennett Cartwright” não é um nome muito comum, porque foi bem fácil encontrar seu perfil. Você estava com uma camiseta grudada no corpo musculoso e seu cabelo, castanho, estava mais curto na foto; não chegava a cair nos olhos, como agora.

Você não parecia muito mais velho do que os alunos que haviam terminado o ensino médio no ano passado, quando eu era do segundo ano. Como se talvez a vida não nos separasse tanto.

Sua última atualização de status?

O novo trimestre começou. Que comecem as peripécias.

Olhando para trás, você acha graça do status? Você tinha vinte e cinco anos. Agora eu sei.

Vinte e cinco anos e nove meses quando nos conhecemos, porque comemoramos seu vigésimo sexto aniversário juntos. É bem jovem para um professor de faculdade.

Eu não sabia na época, mas aquele era para ser seu primeiro ano como professor em tempo integral por todo o ano letivo. No ano anterior, você dera apenas algumas aulas, sem horário integral.

Naquele dia, enquanto olhava seu perfil, quis saber que tipo de peripécias você achava que o ano reservava. Queria fazer parte delas. Até aquele ponto da minha vida, nunca tinha feito parte de nada que fosse descrito como peripécia. Nada de trotes, nada de detenção, nem mesmo cheguei perto de ficar de castigo.

Eu era Tão Perfeita...

Examinei seu perfil. Não era privado, e vi fotos de todos os tipos. Eu não deveria contar, mas salvei algumas no computador.

Acho que não tem problema contar. Minha mãe confiscou meu computador há alguns dias, e por esse motivo estou tendo que escrever tudo isso à mão. A propósito, peço desculpas pela letra. Eu a odeio. Esta carta parece o caderno de caligrafia de um aluno do primeiro ano do fundamental: alta e redonda onde deve ser, inclinada para a direita em outras partes.

Sem nenhum traço marcante.

Mas estou praticamente presa agora, sem telefone, computador nem nada, então terá que ser assim.

Naquele dia, enquanto olhava seu perfil, encontrei algo que nem sabia que estava procurando. Sorri e me deitei de novo na cama, com aquela única palavra se repetindo sem parar em minha mente.

Solteiro.

Você estava solteiro.

Saiba, Bennett, que fiquei feliz. Não porque achei que ficaríamos juntos. Sabia que isso não podia acontecer. Nem esperava que você se interessasse por uma garota como eu. Não dessa forma, pelo menos.

Mas queria que você fosse solteiro do mesmo jeito que uma garotinha quer isso de seu astro favorito, o ídolo da boy band. Não é por ela achar que vai se casar com ele. É porque não consegue imaginar o garoto que ama, mesmo de longe, com outra, amando-a na vida real, quando tudo que essa garotinha tem é a imaginação.

Queria que você fosse solteiro porque achava que pensar em você casado estragaria aquelas duas horas de aula todos os dias. Pensar em você indo para casa encontrar uma esposa adulta e bonita, talvez sua namorada da época de colégio, sabendo que eu ainda estava no colégio.

Tudo que eu queria era conversar com você, quem sabe construir para nós uma arrebatadora história de amor no estilo Orgulho e preconceito.

Tudo na minha cabeça, é claro, mas o que mais eu podia fazer? Nesta casa, com todos os deveres, todas as expectativas e a pressão? Meus pais me amavam (não sei se ainda amam depois de tudo isso), mas eu queria um tipo diferente de amor.

Saber que você era solteiro fez com que não houvesse problema em criar fantasias com você me pedindo que ficasse depois da aula. Não havia problema em me imaginar beijando-o.

Sei que vai considerar isso algo idiota de se dizer. Porque seu estado civil nunca foi a informação importante.

Não, Bennett. A coisa mais importante, de acordo com você, de acordo com eles, é o fato de eu ter dezesseis anos

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