A porta do quarto foi fechada com tanta força que as paredes do corredor tremeram com o impacto. A mulher de cabelos negros sentia cada parte de seu corpo em atrito e tamanha era sua raiva que tornava-se quase palpável no ambiente. Seu desejo mais profundo era jogar todas as velas da mesa ao lado no chão e assistir aquele palácio queimar juntamente com Kizashi e toda a Almenia.
Deitou-se na cama com os olhos pregados no teto, odiando a sombra que as cerejeiras por fora da janela projetavam nas paredes. Por ela, todas as flores daquele lugar poderiam queimar também, uma em especial antes de todas as outras.
Algumas batidas se fizeram ouvir em meio ao silêncio. Vinham da enorme porta de madeira, mas nenhuma resposta se seguiu. Alguns segundos depois as batidas voltaram, desta vez ainda mais fortes.
- Mikoto, me deixe entrar. - A voz de Fugaku era baixa, mas ela a ouvia. O monarca se encontrava encostado do lado de fora dos aposentos, na esperança de que pudesse conversar com a esposa. - Eu posso explicar.
Parte da matriarca Uchiha queria ouvir o que o marido tinha a dizer, no entanto a outra parte possuía um enorme ímpeto para esganá-lo, envenená-lo, sufocá-lo ou qualquer coisa que o fizesse ficar calado permanentemente. Ainda furiosa, se levantou nervosa da cama e abriu a porta sem dizer uma só palavra. Apesar disso, seu olhar comunicava tudo que o homem precisava saber: ela o odiava naquele momento.
Fugaku entrou com cuidado, já havia entendido que se tratava de mais um ataque de raiva por conta de suas decisões, como muitos outros. A mulher continuou parada, o encarando com uma repulsa que nunca havia sido vista anteriormente em seu rosto.
- Você... - Ela disse entredentes, seu tom era tão falhado e desapontado que mal pôde ser entendido. - Acabou com qualquer confiança que restava entre nós.
- Mikoto, eu preciso que deixe o nervosismo de lado e me ouça. - Tentou se aproximar e colocar uma das mãos no ombro da esposa porém foi rechaçado imediatamente, a retirando. - Eu fiz uma coisa que precisava ser feita. É assim que funciona nesse meio.
- Juntou nossa família com inimigos quando pedi para que não o fizesse. - Queria explodir em choro, mas não via mais o rei como digno de ter suas lágrimas ou seus sentimentos.
O rei negou, sentindo-se perturbado. Reconhecia o erro, porém acreditava fielmente que havia errado para um bem maior. De fato odiava chatear sua cônjuge ou esconder segredos dela, porém julgava ter sido necessário. Conhecendo seu temperamento protetor com os filhos, já esperava por aquela reação.
- Os Haruno não são mais nossos inimigos. É exatamente para isso que formamos esta aliança. - Respondeu na tentativa de acalmá-la. - Esse casamento será bom para nós.
- Você é ingênuo. Acreditou francamente que essas pessoas desejam algo genuíno conosco após o que fizemos a elas? Eu já te disse isso! - Exasperou com escárnio. - Imagine meu choque e desespero quando descobri hoje na cerimônia daquela garota que meu filho havia aceitado se juntar a ela e eu não havia sido comunicada. Você sequer teve a decência de me avisar sobre a decisão dele, me deixou ser pega de surpresa como se eu não fosse importante, como se eu não fosse a rainha de Servéria tanto quanto você é o rei.
Fugaku não teve como retrucar, ela estava certa e isso não era um segredo para ele. Qualquer pessoa sentiria-se desgastada e enfurecida ao ser tratada como um nada ou ter um segredo escondido, e só lhe restava esperar que ela algum dia entendesse seu lado. Por esse motivo, a única resposta válida que encontrou foi o silêncio.
No fundo, Mikoto acreditou que ele tomaria a decisão correta. Que desistiria daquela loucura de juntar dois reinos inimigos. Afinal, só ela percebia o quão absurdo aquilo soava? Se Almenia tivesse feito a ela a mesma coisa que haviam feito a eles, jamais cogitaria uma união como aquela. A ideia não lhe parecia compatível com uma realidade razoável.
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Aliança
Roman d'amourSeu reino estava devastado, sua honra manchada e sua dignidade destruída. A única opção restante para o rei de Almenia, Kizashi Haruno, foi se envolver em um acordo com uma feiticeira para obter sua tão almejada vingança. Cego pela dor, imprudenteme...