Servéria

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Tsunade grunhiu de dor quando sentiu o impacto de suas costas batendo contra a parede gelada do castelo. Recebera aquele mesmo impacto dezenas de vezes naquela amanhã, de forma em que o líquido vermelho em sua pele escorresse por diversas partes dos cortes recém criados, ardendo e exalando um cheiro metálico e angustiante.

A dor em sua cabeça latejava sem interrupção, porém a falta de ar que atingiu seus pulmões a deixou tão desesperada e alerta que sequer pôde permitir-se a perder a consciência.

- Como se atreve a dizer que não sabe de nada? - Um dos soldados puxou os cabelos loiros, tirando a governanta do chão. - Você acha que alguém vai acreditar nesse discurso?

- Eu não sei o que aconteceu! Não sei o porqu... - Antes que pudesse proferir mais uma única palavra, a mulher recebeu mais um dos incontáveis chutes e cuspes que havia recebido naquela manhã. Como em todas as outras vezes, foi ao chão.

- Vamos tentar refrescar sua mente. - O mesmo soldado que a puxara anteriormente de agachou até ela e Tsunade sentiu o estômago nauseando. Não sabia se era por conta dos golpes, do cheiro pútrido daquela sala ou do medo que sentia. Mal conseguiu contar quantos segundos se passaram até que o homem rasgasse parte de uma de suas mãos com uma adaga. Ela gritou, tendo mais um vislumbre do sangue que escorria dentre seus dedos.

Mesmo em meio a dor lacerante que a dominava e com sua visão embaçada tentando impedi-la, Tsunade realizou sua última tentativa de agarrar-se à vida. Encarou a figura que se escorava no canto da sala, totalmente inerte e inexpressiva. Ele a observava desapontado, irritadiço por não ter obtido nenhuma das respostas que desejava.

- Kizashi... por favor. - A mulher suplicou enquanto engasgava com a própria angústia em sua garganta. - Eu não sei o que aconteceu.

O rei, no entanto, respirou fundo, virando-se para deixar daquele cômodo que possuía um cheiro desagradável. Segurou na maçaneta velha que estava logo atrás de si e antes de sair, expressou suas últimas palavras em meio a uma expressão consternada:

- Continuem tentando, uma hora ela irá falar. Caso não funcione, tragam as damas de companhia.

───༺༻───

Um floco de neve solitário adentrou pela fresta da janela de uma das carruagens que atravessavam a Floresta do Inverno. Este repousou no rosto de uma mulher, a fazendo mover os olhos adormecidos por conta da sensação gelada.

- Sakura... - Uma voz repentina alcançou os seus sonhos. Por mais que soasse um tanto etérea, a jovem aproveitou aquele tom suave que a chamava enquanto demoradamente retornava a consciência. - Sakura.

Ela abriu os olhos, tomando alguns segundos para reconhecer de onde vinha aquela voz.

- Ei... sou eu. - Recebeu um lento e gracioso carinho nos braços. Os cabelos negros se sobressaíram em meio a coloração azul marinho do interior da carruagem.

A princesa se assustou por um instante depois de ver que era o Uchiha sentado consigo, segurando um cobertor nas mãos. Ele esboçou um sorriso fechado e sútil, quase imperceptível quando ela franziu o cenho.

- O que faz aqui? - Sakura retirou alguns fios de cabelo do rosto e esfregou os olhos. Desejava de ter sido um pouco mais gentil, porém sentia-se distante demais para aquilo. - Antes era a rainha que estava comigo.

- Há algum tempo nós fizemos uma pausa na viagem para que os cavalos pudessem descansar. Troquei de carruagem com Mikoto mas você estava dormindo tão profundamente que não percebeu. - Sasuke estendeu o tecido macio pelo corpo da rosada, percebendo que ela tremia e se encolhia contra si mesma. - Use isto. Estamos chegando, você está tremendo de frio a um tempo e a partir de agora vai piorar.

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