Passado Incômodo

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Servéria, 8 anos depois.

Mikoto Uchiha era tratada mais do que como uma Rainha. Suas criadas e súditos não a respeitavam somente pela autoridade que esbanjava, refletida desde em suas roupas dos mais nobres tecidos ou em seu comportamento, mas também por seu carisma e doçura. A mulher possuía o respeito de muitos e poderia ter o que quisesse sem sequer precisar impor sua alta posição. Todavia, a fachada que projetava para os outros passava longe de revelar sua verdade. Por trás da amabilidade e carinho havia uma pessoa perspicaz, que para benefício próprio usava de uma farsa constante.

O único momento em que podia ser genuína era quando se encontrava a sós com o marido. Não eram amantes apaixonados, mas se gostavam e importavam um com o outro o suficiente e sempre compartilharam de um respeito mútuo. Fugaku Uchiha sabia da personalidade verdadeira de sua companheira e o quanto ela diariamente necessitava de ter um momento para ser real. Por isso, lá estava o Rei deitado na cama após um dia exaustivo, ouvindo-a falar enquanto se arrumava para deitar.

- Não sei por que está havendo tanta discussão acerca desse acordo com Giles, não aguento mais ouvir sobre isso por todos os lugares onde vou. - A mulher disse, removendo os adereços dos cabelos longos e negros e colocando-os na mesinha a frente. Ser vista de cabelos soltos era algo reservado apenas para o marido como sinal de intimidade, e era a parte do dia onde se livrava das amarras da aparência pública. - Para mim, vocês não sabem se comunicar.

- Não fale desses temas, Mikoto. Eles não dizem respeito a você. - Respondeu.

Isso fez com que a esposa parasse o que fazia esse virasse lentamente, o encarando quieta por alguns segundos. Fugaku percebeu naquele silêncio que estava encrencado, soltando um longo suspiro de cansaço. Havia lidado com assuntos como esse durante todo seu dia e agora simplesmente queria ficar longe deles e apenas apreciar a companhia de sua rainha.

- O que quero dizer é que eu resolvo, é somente minha responsabilidade. - Tentou consertar o que havia dito.

A resposta que era para resolver a situação, fez com que a mulher abrisse um sorriso seguido de risadas baixinhas. Não eram risadas de divertimento, e sim irônicas e de zombaria. Se sentia cansada de ser constantemente excluídas de temas importantes e que querendo ou não lhe afetavam.

- Ah, mas é claro! Me perdoe, então. - O sorriso desmanchou. - Devo meramente me sentar e esperar que meu marido e Rei resolva os problemas do reino. Afinal você nunca falha, não é? - Enfatizou a última frase com desdém.

- O que está querendo dizer com isso?

- Sabe muito bem ao que me refiro.

- Mikoto, me ouça. Pare de lembrar sobre o que aconteceu em Almênia, isso foi há muitos anos. - Ele pediu, ciente de que não seria muito efetivo. Dentre todos os temas possíveis, não aceitava mais conversar sobre este.

- Lembrar do quê? Você nunca me contou por que desistiram no final do ataque e foram embora. É impossível me esquecer, já que nós poderíamos ter conquistado tanto. - A rainha virou o rosto, irritada. Aquilo a incomodava há anos e nunca recebera sequer uma explicação.

Fugaku cuidadosamente levantou-se da cama, indo até sua companheira em passos lentos. Segurou o rosto delicado e pálido com as mãos, fazendo um leve carinho no local. Sabia que ela se aborrecia com aquela questão desde que o fato acontecera.

- Nós já temos tudo. - Afirmou, vendo o olhar dela se acalmar. - Me ouça, o que nos fez fracassar em Almênia não foi culpa minha ou de nosso reino.

- Então me explique. Eu tenho o direito de saber.

Novamente, o Rei suspirou. Não desejava que sua rainha precisasse lidar com aquele tipo de problema. A verdade é que até ele mesmo se sentia assombrado com as memórias daquele dia.

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