Aliança

No altar

Música, comida e dança.

O salão principal do palácio de Almenia parecia estar vivo, tamanha era a quantidade de pessoas presentes e se movimentando.

Os nobres sorriam e conversavam em suas roupas finas. Falavam sobre suas vidas, políticas e reinos, porém nenhum se atreveu a esboçar suas verdadeiras opiniões acerca do casamento que ocorreria em apenas alguns momentos. Ninguém teria coragem de se posicionar contra qualquer um dos dois reinos mais fortes que agora se uniriam.

Fosse aquele evento uma loucura ou não, estava acontecendo.

Kizashi se contentava em recluir-se em seu quarto, observando o próprio reflexo no espelho e ouvindo o barulho que provinha do grande salão, se espalhando por todo o castelo. Até mesmo a música baixa podia ser ouvida sem muito esforço, tornando seus pensamentos turvos e causando-lhe sensações estranhas.

Tudo aquilo lhe fazia pensar em Sakura.

Se já se sentia angustiado com somente a ideia de ter a filha casada, não poderia imaginar como a própria noiva estava. Nos últimos dias houveram tantas diplomacias que precisaram ser resolvidas em um curtíssimo período de tempo que Kizashi nem ao menos se recordou de conversar com sua herdeira sobre o casamento ou seus sentimentos. Pareceu-lhe justificável, no entanto; estava ocupado. Não existia muito sobre o que conversarem, pensando que aquilo tudo não duraria muito tempo. Precisariam falar somente sobre o que seria necessário e evitar conversas alheias para que nada saísse de foco.

Ainda assim... queria ver como ela estava. Era o que Mebuki faria, por mais que ele próprio não levasse jeito para nada do tipo.

Por isso mesmo hesitante, saiu de seus aposentos e atravessou o longo e largo corredor em busca do quarto da filha. Esperava que tivessem uma conversa rápida, somente o suficiente para tranquilizar a moça caso fosse necessário, no entanto não foi isso o que aconteceu visto que no segundo em que abriu a porta e viu Sakura parada em frente ao espelho, seu coração parou.

Ficou um tempo em silêncio, sem saber o que dizer ou o que fazer. Era como se sua filha iluminasse o ambiente até mais do que a luz do próprio sol, de tão radiante que estava. Os grandes e belos olhos esmeraldinos brilharam em alta tonalidade quando ela virou o rosto lentamente, percebendo a presença do pai.

Sakura também continuou parada, em seu rosto uma clara expressão de que esperava com expectativa ouvir a opinião de Kizashi. Precisava daquela aprovação e de saber que o pai estava orgulhoso de si.

- Filha... - Ele começou, atordoado. Somente naquele instante realmente percebeu que sua menina havia crescido. Se a situação fosse diferente, estaria orgulhoso dela. - Você está linda.

A princesa se contentou em esboçar um sorriso leve em silêncio, mantendo as palpitações de seus batimentos em segredo e voltando o olhar para o espelho. Estava tão parecida com a mãe que Kizashi sentiu seu interior se despedaçando, sendo atingido por saudosismos fortes e doloridos que há tempos não sentia.

Por incrível que parecesse, aquela moça em sua frente era a mesma garotinha cuja notícia do nascimento trouxe alegria abundante a um casal, pouco mais de dezoito anos atrás. A mesma que foi retirada da mãe sem ao menos ter tido tempo de sentir o seu cheiro ou apreciar o carinho maternal que deveria ter recebido. Era difícil enxergar algo de bom no meio da dor diária em que o rei se encontrava, mas naquele momento quis guardar Sakura em seus braços e impedir que qualquer coisa a atingisse.

A angústia surgiu tão avassaladora em seu peito que por um tempo se perguntou em seu coração se estava fazendo o certo. Quieto e sem saber o que dizer ou qual ação tomar, entrava em uma batalha silenciosa em conflito com os próprios planos e o passado.