O tabuleiro

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Konan ajustou o enorme casaco de pelo que vestia em seu corpo fino, arrumando o capuz em sua cabeça para que as frias gotas de chuva trazidas pelo vento não molhassem o seu rosto. Estava sentada junto a Mikoto em um banco de pedras ao ar livre que ficava na parte de trás do castelo, onde não havia nada além de sua família e alguns soldados da confiança de Servéria.

Sentiu que a noite encontrava-se mais escura do que o comum naquela madrugada, mas ela odiava a escuridão.

- Mãe. - Chamou baixinho a atenção da mulher que mantinha seus braços em volta da filha, cuidadosamente a protegendo do vento. - O que faremos se alguém nos ver?

- Não verão, querida. - Mikoto forçou um leve sorriso fechado. - E se vissem, daríamos um jeito.

A moça não respondeu, voltando a se aninhar no aperto da mais velha. Ficou observando o olhar glacial e distante da mãe enquanto tentava desvendar seus pensamentos inacessíveis. Sabia o que "dar um jeito" significava e não queria ver aquilo acontecendo, principalmente em uma noite tão obscura quanto aquela.

Poucas horas antes, a Uchiha fora surpreendida pela notícia de que sua família deveria sair de Almênia o mais rápido possível. Não entendia ao certo o que estava ocorrendo mas fosse lá o que estivessem fazendo naquele momento, tratava-se de um segredo. Ninguém poderia saber que estavam indo embora e tal fato lhe causava uma angústia e ansiedade assombrosa, principalmente quando nenhum de seus parentes faziam questão de lhe contar com detalhes o porquê de tamanha urgência e cautela.

Desviou a atenção para a jovem de fios róseos que encontrava-se sentava a poucos metros de si, completamente em silêncio e com o rosto cabisbaixo. Sakura sequer se movia direito, parecendo tão exaurida quanto um combatente após uma guerra sangrenta.

Ela sabia de algo.

Konan fez menção de se levantar para ir até a Haruno, no entanto sentiu os dedos finos de Mikoto a segurando antes mesmo que pudesse completar sua ação.

- Não faça isso. - Decretou em um tom baixo, porém firme. - Fique quieta enquanto esperamos a carruagem.

A garota bufou irritada, voltando para onde estava. O mau pressentimento em seu peito só aumentava a cada segundo e foi só quando sua mãe a envolveu novamente que ela percebeu que queria chorar. Queria ser como Mikoto que sempre mantinha uma compostura impassível e fria perante qualquer tipo de situação, porém isso jamais seria possível.

Estava assustada, quase tremia por sua inquietação.

Um fio de esperança formou-se quando avistou a figura de seu irmão e de seu pai se aproximando silenciosamente na noite, trazendo consigo mais alguns homens. As carruagens e os cavalos também já podiam ser vistos mais ao fundo entre as árvores de uma floresta.

- Conseguimos trazer o necessário para partirmos. - Sasuke falou e Konan sentiu a respiração da matriarca sutilmente tornando-se mais leve, quase que de maneira imperceptível. - Vamos, está tudo pronto para sairmos.

Ambas assentiram e se levantaram rapidamente, logo sendo escoltadas por um soldado através do pequeno caminho que as separavam da floresta. A mais nova olhou para trás, vendo Sasuke dizer alguma coisa para Sakura antes que ela o seguisse e ambos as acompanhassem. A caçula uniu as sobrancelhas, ainda desconcertada pela aparência abatida da princesa e pela seriedade repentina de seu irmão. A sensação de que algo muito sério havia acontecido continuava perdurando em seu peito, ao ponto de que não conseguisse parar de morder os lábios em nervosismo.

Ao chegarem até os veículos, Mikoto foi até o filho e cochichou alguma coisa que pareceu o deixar contrariado. Conversaram por alguns minutos até que ele cedesse ao que ela estivesse sugerindo, ainda que absolutamente relutante.

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