Você não está mais aqui
Meus olhos vidrados no seu corpo, um corpo gelado, onde todo aquele brilho, aquela áurea tão linda que você tinha, havia sumido. Era você, mas eu sabia que não estava mais lá.
Pessoas que eu nunca havia tido a oportunidade de conhecer antes andavam em minha volta. Você não teve a oportunidade de me mostrar para que eu conhecesse cada um deles, o tempo não foi nosso amigo. Não pude saber mais sobre a sua vida, muito menos aqueles que você gostava. Os meus pés estão congelados no chão, eu não consigo me mover, muito menos mandar esses pensamentos aterrorizantes pararem. Eu estou assustado Nath, não posso viver sem você. Não consigo acordar outro dia sem o seu bom dia. Amar você me machuca.
Sinto o toque da mão do seu pai, ele colocou-a sobre o meu ombro e fez uma expressão com o rosto para tentar me confortar. Mas eu sei que sou eu quem deveria confortá-lo, sou eu quem deveria ter evitado toda essa dor. Me perdoe.
Sei que você provavelmente está viva em algum universo alternativo, e eu espero de verdade que eu esteja nele com você, pois eu não suporto a ideia de existir um universo em que não estamos juntos, Nath. Nos conhecemos há menos de um ano mas sinto-me como se fosse uma vida inteira, o meu amor é incondicional e tudo que eu queria era poder falar com você mais uma vez. Mas, por algum motivo do universo em que eu jamais entenderei, estamos separados e eu nunca mais poderei ouvir a sua voz.
Olho o seu corpo fixo no caixão, com aquelas flores lindas que eu sei que você odiaria. Saio daquele lugar e vou até um lago próximo. Quero jogar-me dali, afogar todas as minhas mágoas e toda a minha dor, quero me juntar a você, Nath. Mas sei que seria muito egoísta da minha parte e você provavelmente me odiaria por isso, porém sei que essa ideia não apareceu somente agora. Ela só ganhou intensidade depois que você se foi.
Ouço passos em minha volta, muito deles são das dezenas de pessoa que você conhecia mas eu não fazia nem ideia de que existiam. Porém, como se eu pudesse reconhecê-lo apenas com o som dos seus passos, vejo Nate Jacobs chegando.
Ele coloca a mão nos meus ombros como se quisesse me consolar, mas nada adianta. A última pessoa que eu gostaria de ver naquele momento era ele.
— V-você está bem? — ele quebrou o silêncio.
— Uhum. — respondi seco. — Por que você está aqui?
Ele me encarou e começou a sibilar novamente.
— Eu estou aqui por você, Felipe. — respondeu. — Por que mais eu viria até aqui?
— Por mim? — soltei uma gargalhada falsa. A última coisa que eu poderia sentir naquele momento era graça de alguma coisa, mas como se fosse um impulso, o meu organismo forçou-me a rir do que ele acabara de dizer. — Você não faz absolutamente nada sem interesse próprio, Nate, e isso é triste. Acha que eu acreditaria nisso? O que você quer agora? Por que me salvou naquele dia?
Sua boca calou-se e uma expressão inexpressiva invadiu o seu rosto, eu não conseguia decifrá-lo.
— Eu quero sim alguma coisa... — respondeu com reticências na voz. — Eu quero você Felipe.
Ouvi essa última frase e dei um tapa no rosto de Nate Jacobs. Mas me arrependi logo em seguida, eu não queria ter feito aquilo de verdade, parte de mim queria ter beijado-o outra vez. Lágrimas invadiram o meu rosto novamente, e grande parte delas foram por causa de Nath. Eu não havia chorado em nenhum momento até agora, mas por algum motivo Nate despertou o meu lado que queria chorar até morrer.
Nunca na minha vida eu havia me sentido amado, ou que alguém simplesmente gostasse de ficar perto de mim. Portanto, qualquer simples impulso, qualquer simples faísca de alguém me dando atenção de verdade, eu aproveitava ao máximo porque me sentia sozinho.
Nath foi quem me ajudou; me fez perceber que eu não precisava de ninguém. Sua companhia já me completava, mas agora que ela se foi, eu me encontro no mesmo abismo de sempre; tento encontrar o meu caminho mas acabo preso em um labirinto, sozinho.
Apenas com um cara que há poucos dias gravou um vídeo de sexo meu.
Andei até ao lado contrário do que estávamos, e ao invés de um lago, havia uma pequena cabana. Sentei-me no chão empoeirado e comecei a chorar. Como se todas as lágrimas que eu havia acumulado nos últimos anos combinaram de sair simultaneamente, eu soluçava e sentia uma dor tão grande no meu peito que parecia que ele iria explodir.
Lembranças daquele ano maravilhoso que eu vivi ao lado de Nath invadiam os meus pensamentos e intensificavam a minha dor. Eu sentia como se perdesse uma parte da minha vida, uma parte do lado que me mantém em sã consciência. Eu não sabia mais como lidaria dali para frente: se eu iria beber; fumar; ou andar de montanha-russa sem cinto de segurança.
— Não, eu vou ficar com você Felipe. — Nate abriu a porta da cabana em que eu estava e direcionou a sua fala para mim. — Você pode se afastar de todo mundo. Menos de mim, Felipe. Perdeu a sua melhor amiga, deixa eu te consolar. Porque... Por mais que você ache que eu sou completamente insensível e não tenho compaixão, eu sinto... Eu já perdi meu melhor amigo, e eu não suporto a ideia de que você sinta essa mesma dor.
Comecei a mexer a boca para falar mas ele fez sinal com a mão para que eu me calasse.
— Deixa eu te ajudar. Os seus pais querem te internar, você não tem mais ninguém pra conversar. Vamos fugir, a escola que se foda, eu tenho um dinheiro guardado. — continuou. — E olha... — ele ergueu um bilhete na sua mão direita. — Eu encontrei isso aqui na sua mochila.
As lágrimas do meu rosto caiam com menos frequência do que antes e eu pude me sentir seguro, pela primeira vez, tendo Nate Jacobs por perto.
Ele aproximou-se de mim, me entregando o bilhete.
— O que é isso? — perguntei.
— Leia. — ele respondeu. — Vou te deixar em paz para que você leia, me chame quando acabar.
Ele fez força com a perna para levantar do chão mas eu coloquei a minha mão sobre ela, fazendo sinal para que ele parasse.
— Fique. — comecei. — Por favor, apenas fique.
Ele apenas assentiu.
Peguei o bilhete em minha mão. Aquele papel era o mesmo que encontrávamos em cadernos, as linhas me faziam reconhecer de qualquer lugar.
"Para Felipe"
A letra linda e perfeita de Nath logo no início, o meu corpo se arrepiou por inteiro.
"Eu resolvi enviar uma carta porque sei que você não abre mais as notificações do seu celular.
Quero te pedir pra vir até em casa hoje, sei que a sua vida anda complicada ultimamente, mas quero que você possa compartilhar a sua dor comigo. Eu sempre vou estar aqui por você e com você, Felipe. Só não se afasta de mim, tá?
Te espero em casa,
Nath."Senti um calor fora do comum invadir o meu corpo, sentia-me acolhido mas ao mesmo tempo culpado por não ter visto a tempo. Mas fazer o que, né? Eu infelizmente ainda não tenho habilidades para voltar no passado e corrigir meus erros — esses tipos de erros.
Deitei a minha cabeça sobre o ombro de Nate e ficamos ali, por minutos (ou talvez horas). As minhas lágrimas secaram completamente e houve breves momentos em que eu dava risadas e gargalhadas. Pois sabia que era isso que Nath gostaria que eu fizesse: lembrasse de tudo que vivemos juntos e encarar com alegria, não com tristeza. Só não sei se esse sentimento duraria pra sempre, pois parte de mim ainda sentia o peso do vazio.
— Vamos. — quebrei o silêncio após alguns minutos sentindo as mãos grossas de Nate acariciar o meu rosto.
— Vamos o que? — ele respondeu olhando para mim.
— Fugir.
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𝐎𝐛𝐬𝐞𝐬𝐬𝐢𝐨𝐧 | Euphoria [CONCLUÍDO]
Hayran KurguNate Jacobs, popular entre as meninas, maxilar definido e um cabelo invejável. Sua beleza é desejável, mas o seu caráter questionável. Sua motivação de início era um simples trabalho de escola, mas a sua obsessão pelo novo garoto que ele passou a tr...