1. Baisemain

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Eu odeio Londres, odeio sua eterna nuvem de fumaça. Detesto seu bando de turistas durante o ano inteiro. E o trânsito, com certeza o trânsito caótico é o que eu mais odeio. Por isso, incentivado por uma promoção irresistível de 50% — na verdade eles aumentaram exorbitantemente o preço uma semana antes para depois abaixarem, mas eu preferi fingir que era mesmo uma oportunidade única —, comprei uma bicicleta verde brilhante, que parece reluzir contra a lataria dos carros parados no trânsito caótico das seis da manhã.

Eu tento dividir minha atenção entre meu celular apoiado no guidão e as esquinas desconhecidas que o GPS me manda entrar, minha testa instantaneamente franze quando as ruas lotadas são substituídas por desertas, com estradas mal pavimentadas. Eu tremo ainda mais sobre o banquinho, tentando manter o equilíbrio conforme os pneus passam sobre pequenas pedrinhas, olhando para frente caçando qualquer vestígio que estou mesmo no caminho certo.

É assustador, vergonhosamente mordo meu lábio inferior olhando para os lados, tentando ver entre a vegetação vasta, temendo que algum animal selvagem surja daquela área desconhecida para mim de Londres. Repentinamente meu celular cai de seu apoio, se estraçalhando no chão, eu freio bruscamente, porém, a bicicleta em vez de parar continua andando desnorteada, entrando na vegetação densa, o barulho dos pneus batendo contra folhas secas é plano de fundo para os meus gritos desesperados, meu coração bombeando sangue pelo meu corpo com toda sua velocidade, meu cérebro se preparando para exibir minha retrospectiva de vida nos meus últimos minutos.

Meu corpo se desequilibra e cai da bicicleta, que imediatamente para ao tombar para o lado, ao contrário de mim que continuo a rodar pela terra úmida, minha camisa verde claro tornando-se marrom, minhas bochechas e lábios pinicando graças a todas impurezas que grudam neles.

Minha cabeça bate na raiz de uma árvore e eu finalmente paro de despencar, entretanto não há um filme de recordações. Nada. Não há grandes amigos com seus sorrisos guardados no fundo da minha mente, não há uma família bonita. Não há recordações de um grande amor, nem borboletas se hospedando em meu estômago para morrerem junto a mim.

Há apenas eu e a cidade cinzenta, correndo por ela todos os dias, desejando que ter uma boa profissão seja suficiente para fazer eu me sentir menos medíocre, perseguindo a esperança de um dia esbarrar na felicidade durante o caminho até meu estágio.

Dizem que o que assusta na morte é ter que desapegar de nossas lembranças bonitas, de pessoas que amamos, deve ser por isso que não reluto em fechar meus olhos e me deixar levar pela escuridão tranquila. Não há nada que me prenda aqui. A cidade cinzenta ficará bem sem mim.

 A cidade cinzenta ficará bem sem mim

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Enchanté I l.s. I ABOOnde histórias criam vida. Descubra agora