Fourteen

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Durante o tempo que ficamos no bar, nós voltamos a nos comportar como amigos e sócios muito tranquilamente, como se a noite de ontem jamais tivesse acontecido. Assim que colocamos os pés no museu, no entanto, alguma coisa muda.

Meredith Carinhosa não dá as caras esta vez. Claro ela ainda está fingindo ser minha noiva, mas não tão comprometida com o papel como durante o jantar. Eu, Meredith, minha mãe e a sra. Forbes estamos diante de uma pintura de Edward Hopper. Não sei se minha mãe ou a sra. Forbes percebem algo, mas eu faço o que posso para que ninguém note nada.

— A pintura é linda — a sra. Forbes diz.

— Sim, sem dúvida — eu comento. Passo o braço alegremente pela cintura de Meredith e dou um beijo rápido em sua bochecha. — Como você. A propósito, eu já disse o quanto você está linda hoje?

Meredith não se mostra receptiva, mas me agradece. Minha mãe olha para nós e sorri. Addison, contudo, não está sorrindo. A ruiva não parece ter o menor interesse em obras de arte.

Mas tudo bem, eu estou colocando as coisas nos eixos novamente, fazendo o meu jogo. Enquanto nós passeamos e apreciamos quadros de Chagall, de Matisse e de tantos outros, eu faço comentários espirituosos e todas as mulheres riem, inclusive Meredith. Quando chegamos ao jardim de esculturas, estou seguro de que Meredith e eu estamos bastante bons em representar nossos papéis. Até que Addison resolve fazer perguntas a Meredith.

— Há quanto tempo você é apaixonada pelo Derek? — a mulher indaga.

Meredith fica imóvel e a cor vermelha começa a tomar conta de todo o seu rosto.

— Quero dizer, você já se sentia atraída por ele antes de começarem a namorar? — Addison prossegue. — Porque vocês sempre foram melhores amigos, não é? Então foi só um tipo de...

— Addison, filha! Certas coisas são muito pessoais — diz a sra. Forbes, interrompendo-a.

Addison faz um gesto de desdém com as mãos, como se não tivesse feito nada demais.

— Só estou curiosa. Os dois foram para a faculdade juntos. Não acho tão estranho assim querer saber se eles já estavam afim um do outro naquela época.

Meredith ergue o queixo.

— Nós sempre fomos amigos — ela diz, e então pressiona a mão contra a testa. — Com licença.

E ela simplesmente se vai. Minha mãe me olha com irritação e eu só consigo pensar em uma coisa: que ela sabe. Os olhos dela seguem o trajeto de Meredith, que abre as portas de vidro e volta para o interior do museu. Logo em seguida, minha mãe gesticula para mim. Eu me aproximo mais e ela fala baixo, movendo apenas o canto da boca:

— Alguma coisa a aborreceu. Vá atrás dela.

Mas é claro. Mães sempre sabem das coisas. Eu corro na mesma direção que Meredith, passo pela porta e sigo apressado para o saguão. Consigo avistá-la quando ela chega ao banheiro feminino.

— Meredith! — grito.

Leave me alone. — ela segue correndo sem olhar pra trás.

Ela entra, maneia a porta pra que eu não consiga entrar, mas fui mais rápido e a segurei. Ela fica a uma boa distância de mim, e eu paro por um segundo.

— Você está bem? — pergunto com hesitação enquanto procuro me aproximar dela. Há três cabines no recinto, mas estão vazias. Sons de passos chegam do salão e então vão diminuindo de intensidade até
desaparecerem.

Meredith balança a cabeça. — Não! Eu não estou bem, ok? Você está satisfeito? Eu não estou bem. Porque você consegue fingir que está tudo bem, QUANDO NÃO ESTÁ DEREK. — Os olhos se encharcam de lágrimas mas ela não as deixam cair, olha pra cima e suspira profundamente e volta a falar. — Está o dia inteiro tentando me convencer de que nada aconteceu ontem, mas aconteceu!

Why me? - Merder Adaptação Onde histórias criam vida. Descubra agora