Nineteen

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Quando chega a hora de ir para o teatro, meu pai monopoliza minha atenção durante o caminho.

— Está tudo bem, filho?

— Hm... sim. Tudo bem — respondo, porque a última coisa que quero é lhe causar aborrecimento. Um táxi passa com o pneu cantando, expelindo fumaça pelo escapamento e então freia abruptamente no sinal vermelho. — O repórter estava irritante, mas nada que eu já não tenha visto antes.

Meu pai balança a cabeça numa negativa.

— Eu me referia a Meredith. Está tudo bem com ela?

— Ela está bem — respondo com um sorriso, contente por ver meu pai demonstrar mais preocupação com a minha mulher do que com a história.
Ele aponta Meredith, que caminha poucos metros à nossa frente junto com os outros.

— Vocês dois são perfeitos um para o outro. Não sei por que não percebi isso antes... Mas agora, vendo vocês juntos, é como se estivesse bem diante do meu nariz o tempo todo.

A culpa volta a cair sobre mim. Eu afundo a mão no meu cabelo. Quando eu e Meredith rompermos, meu pai vai ficar bastante desapontado.

— Você é um romântico incurável.

Meu comentário o faz rir e nós diminuímos o passo quando o funcionário da casa nos leva até nossos assentos. Meredith cruza os braços e suspira.

— Está se sentindo bem? — pergunto.

Ela faz que sim com a cabeça. Seus lábios se juntam, formando uma linha reta.

— Tem certeza? Porque, daqui de onde estou olhando, eu poderia jurar que você está chateada.

— Eu estou bem.

Ainda não consigo acreditar nela e a expressão cética em meu rosto deixa isso evidente.

— O que foi, Meredith?

— Não tem nada de errado. — Ela descruza os braços. — Quando é que vamos fazer um boneco de vodu daquele repórter?

Ergo os olhos, fingindo que estou concentrado em algo.

— Bem, vamos ver — respondo. — Tenho horário na minha agenda às três da tarde de amanhã. Serve?

Meredith faz vigorosamente que sim com a cabeça.

— Fechado. Você traz os alfinetes e eu cuido dos panos.

— Excelente. Vou encontrar um tutorial no YouTube para fazermos isso direito.

Ela abre um sorriso.

— Eu odiei aquelas perguntas. — ela sussurra para mim no momento em que a abertura do musical se inicia.

— Ele estava tentando pegar pesado e insistiu num assunto tão inútil. Mas você foi muito bem.

— Foi constrangedor — ela diz, e acena para que eu me aproxime mais quando as notas de violino chegam à plateia. — Acha que aquele repórter descobriu algo sobre o nosso acordo?

— Também suspeitei disso, mas acho que no fim das contas ele estava só jogando verde para colher maduro.

— Você gostou da resposta que eu dei no final, não é?

— Achei a sua resposta fantástica — digo.

— Coloquei aquele sujeitinho no lugar dele, não foi? — ela se gaba, subindo uma das sobrancelhas como faz toda vez.

Gostaria de poder me enfiar agora mesmo em um buraco no chão. De repente, me sinto miserável, mas isso é trazido pelo reconhecimento de que eu queria que houvesse alguma verdade nas palavras dela. Eu queria que alguma coisa nisso fosse real.

Why me? - Merder Adaptação Onde histórias criam vida. Descubra agora