Fifteen

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Quando abro a porta entrego a Meredith uma margarita virgem. Ela agradece e bebe um gole enquanto entra. Está vestindo moletom, sapatos e uma blusinha preta simples sem manga.

Droga. Ela está camuflada. Com base nessas roupas, é difícil dizer quais são as intenções dela. Talvez eu esteja simplificando demais as coisas, mas, se ela estivesse usando um vestido preto curto e sapatos pretos com aqueles saltos enormes, eu teria muito menos dúvidas.

Ela balança no ar um pacote de ursos de gelatina.

— Cem por cento natural e saudável — ela diz.

— E as calorias? Conferiu as calorias?

— Obviamente. Perdi várias calorias calculando as calorias.

— Nem sei porque perguntei — respondo, rindo. Gostamos de fazer piada com o modo politicamente correto de comer. Fico feliz por constatar que pelo menos ainda posso brincar com ela.

Baixando o tom de voz, ela se dirige a mim num sussurro conspiratório:

— Sabe, tem uma coisa que eu não entendo: se já conseguiram até enviar o homem à lua, como não são capazes de remover as balas verdes do pacote?

— Eis um dos grandes mistérios da vida. — Eu fecho a porta e faço um gesto indicando a direção da sala. Meredith então segue à minha frente e eu não consigo evitar: olho direto para a bunda dela enquanto ela caminha até meu sofá. Ela me deu esse tipo de liberdade hoje à tarde, se não me engano.

Ela se acomoda em meu sofá bege, tira os sapatos e coloca os pés no sofá.

— O que quer assistir? — Pergunto.

Ela rasga o pacote de doce e coloca na boca uma bala de urso amarela.

— Pode ser comédia romântica? — ela sugere. — Eu gosto de Esposa de Mentirinha.

Sei exatamente que filme Meredith se refere, pois numa conta exata, ela já assistiu esse filme 127 vezes!

— Ah claro, eu já deveria imaginar. Que gentil da sua parte escolher um filme inédito dessa vez. — digo sarcástico.

— Bobo. — ela ri e me atira uma das almofadas.

Ela está em uma ponta do sofá, afundada nas almofadas. Eu estou na outra ponta. E o laptop está na mesa de centro, transpondo o programa para a tela da televisão. Nós acabamos com metade do pacote de balas de gelatina, mas Meredith rejeita as verdes, que o único jeito é eu comê-las para que não vá para o lixo. Nós tomamos nossas margaritas e, a certa altura, enquanto assistimos ao filme, ela coloca os pés sobre as minhas coxas.

Esse movimento me faz lembrar da noite em que jantamos com os Forbes, quando, debaixo da mesa, Meredith esfregou o pé na minha perna. Algo então me ocorre: será que eu tenho algum fetiche por pés?

Volto a me concentrar na tela da televisão, mas não consigo tirar Meredith do pensamento. Agora, a consciência de que ela está bem ao meu lado parece ser mais forte que tudo. Meredith ajeita os ombros sobre uma almofada, eu capto a cena olhando de lado e me pergunto se ela gosta de ser beijada na região dos ombros. Com a mão, ela retira alguns fios de cabelo do rosto e isso me desperta o desejo de saber se ela gosta que lhe puxem o cabelo. Katherine e Devlin acabam de se reencontrar e que cena constrangedora, porém engraçada. Agora Meredith resolve mastigar uma bala de gelatina vermelha e eu então sou invadido pela curiosidade de experimentar o gosto de cereja na boca dessa mulher.

Meredith cutuca a minha barriga com o dedão do pé. Fico desconfortável por um breve instante, me perguntando se de alguma maneira ela é capaz de adivinhar meus pensamentos. Mas ela, por sua vez está claramente concentrada na televisão, já que não desvia o olhar.

Why me? - Merder Adaptação Onde histórias criam vida. Descubra agora