O calabouço

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Dentro da sua mente, existe um lugar escuro, frio e úmido. Com várias celas que prendem cada um dos seus demônios interiores, segredos obscuros, medos irreais e os terrores noturnos que são alimentado pelos traumas aprisionados na escuridão, no lugar mais fundo e distante.

Onde você pensava não ter nada.

Eram quatro da manhã quando Off saltou de seu pesadelo, arquejando baixinho e apoiando a testa suada na própria mão. Fazia anos que Jumpol perdeu a capacidade de dormir sóbrio sem encontrar um desses pesadelos.

Sua mãe perdeu a consciência pela última vez em seus braços, quando ele não tinha nem quatorze anos. Ele teve que lutar para se manter consciente mesmo tendo sido alvejado por um tiro no peito.

Onde agora, ele tocava a cicatriz da cirurgia quase impossível de ser bem sucedida, que salvou sua vida.

Aquele pesadelo, havia rodado sua vida por muitos anos, nos dias em que ele se sentia mais desamparado e sem saída, se ele apenas deixasse o cansaço o abater e dormisse, fatalmente estaria na porta daquele restaurante. Encarando a pessoa que ele sequer podia se lembrar do rosto, apontando aquela arma para ele no chão.

Porém, nas últimas semanas, pouco a pouco Off Jumpol o viu mudar de forma. Deixando de ser apenas sua mãe em seus braços.

Mas quando ele olhava para cima, para aquela arma diante de si, aquele corpo pequeno entrava na frente do assassino, erguendo os braços como se pudesse o proteger atrás de si.

Gun Atthaphan era o alvo daquela pistola.

O barulho do tiro antes do homem sem rosto correr o fazia soltar o corpo de sua mãe e abraçar aquele rapaz que amava, antes que ele caísse no chão. O medo de Off deixava de ser a perca da mulher que fechou os olhos pela última vez anos antes naquele mesmo lugar, mas sim de que aquele em seus braços o abandonasse também.

Aquele pesadelo se tornava cada vez mais latente e desesperador.

Perder mil e uma vezes, alguém que ele já havia se acostumado com a ausência, podia sim doer, mas não como se seu corpo estivesse em chamas queimando por todo aquele amor e ciúmes, o medo de perder o seu maior sonho ali, dentro do pior pesadelo.

—Se eu beber... —Jumpol murmurou para si mesmo, desistindo imediatamente já que ele não tinha mais para onde ir embriagado, conseguiu aos poucos controlar a respiração. —Nem isso eu posso fazer agora.

Por muitos anos a bebida era seu refúgio, ela sempre o levava para onde ele realmente queria estar. Mas agora, isso era impossível para ele.

A risada alta e dolorosa, encheu a cobertura de luxo vazia.

—Ele tirou tudo de mim certo? Minha única paz foi arrancada de mim. —Isso também era uma mentira, não era razoável Off culpar Gun pelos próprios erros repetitivos. Era como estar preso em um círculo, terminava onde começava.

Usava Gun como válvula de escape, o tratava como um objeto, sabendo que era errado, depois pedia aquela desculpa vazia e voltava a usar Gun como escape.

O homem exausto sentia uma vontade terrível de chorar, até limpar sua alma, tentando buscar a sua própria redenção.

Off puxou o celular da mesa ao lado da cama e viu as horas suspirando consigo mesmo. No final a melhor coisa que podia fazer era ir treinar, como tinha feito nas manhãs das últimas semanas.

primeiro e único • OffGunOnde histórias criam vida. Descubra agora