Capítulo 1: A noite de um domingo chuvoso

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A longa e cansativa viagem de trem, por fim, seria recompensada. Certamente as belezas e maravilhas naturais que a paisagem proporcionou, eram valiosas. Tudo era inspirador para a composição de sonetos que Gibril escrevia por diversão enquanto passava o tempo. Sua mãe, às vezes, bisbilhotava de canto de olho os versos.

"O verde das colinas que, por vezes, entristeceu-me", e, então, ela olharia para a janela, à procura das ditas colinas. Depois, tentava ver o rosto entristecido do filho, mas só havia uma expressão neutra.

"Por hora, torna-se a mais bela vista". Para a mãe, era só um mar de ondas verde-folha infinito. Ela já teve vistas melhores.

"Azul colossal que me fecha, o oceano do universo". Agora ela tinha certeza que sua criança estava delirando em uma estrofe sem rimas.

- Você não deveria rimar isso? - ela pergunta, apontando com o indicador para o caderninho em que Gibril escrevia.

O garoto a olhou surpreso. Novamente, lá estava sua mãe palpitando em áreas que não tem conhecimento, além de estar lendo um rascunho que não se teve permissão.

- Poemas não precisam necessariamente conter rimas.

- Mas ficam mais elegantes com.

Ele concordava, porém aquilo era só um rascunho, um passatempo. Não é como se ele fosse recitar para uma sociedade de poetas famosos em uma apresentação formal.

Ele deu uma última olhada para a mãe e voltou-se para janela. Na sorte, encontrava uma flor selvagem para distraí-lo da pradaria que os cercava. Era ainda manhã e nem ele sabia como estava aguentando firme e forte a vontade de dormir. Acordara às seis horas para uma viagem de três.

Embora a visão do horizonte fosse encantadora, qualquer um já teria enjoado de olhar para as cores azul e verde por tanto tempo. Além disso, o movimento do trem dificultava sua escrita e deixava sua letra mais horrenda do que de costume.

Enquanto isso, a mãe o observava melancolicamente. Seu sexto filho, Gibril Diobsiana, tornou-se um moço de dezessete anos em tão pouco tempo. O cabelo loiro liso, como o dela também um dia fora, estava bagunçado; a pele bronzeada pelo sol a fazia lembrar das horas que ele passava no jardim durante manhã e tarde para buscar inspirações do além; e os olhos castanho-escuros, quase pretos, vindos do pai, refletiam a luz do exterior, enchendo-se de estrelas. Seu sexto mundo estaria partindo para Academia de Belas Artes de Euterpe após mandar uma audição em forma de soneto arcadista e ter sido recomendado por sua antiga professora de violino como "um excelente violinista em execuções de músicas expressivas repletas de saudade e melancolia, bem como as de alegrias e cheias de vida", nas palavras da mesma.

A Academia era pequena e pouco conhecida. Contudo, não é justificativa para os talentos que de lá saíam. As duas diretoras, Isabel Armba e Mei Hwang, esforçaram-se deveras para conseguirem alcançar o nome que o lugar tem hoje, apesar de não apreciado aos olhos da sociedade artística. A ideia de que o lugar era fraco em questões de ensino e fácil de se conseguir uma vaga pela fama quase inexistente, não passava de um mito dos outros artistas invejosos dos alunos da Academia.

A senhora Diobsiana estava plenamente ciente do lugar que seu filho estudaria. Não havia melhor oportunidade de estudo para ele a não ser a Academia. Havia alojamento para os alunos que não podiam permanecer em suas casas por conta da distância que se encontravam e esse era o caso de Gibril. Ademais, os alunos podiam visitar suas famílias em feriados prolongados e durante as férias, sendo o primeiro opcional. Era permitido o envio de uma carta por semana por parte dos alunos e recebimento ilimitado das cartas parentais; a mãe não tinha com o que se preocupar.

Além disso, o tempo de chegada seria perfeito. Estavam indo em um feriado de quinta-feira, ou seja, a sexta-feira seria emendada, dando três dias para que Gibril conhecesse e se acostumasse com o lugar antes de suas aulas começarem na segunda-feira. O coração de mãe da senhora Diobsiana não poderia estar em maior paz.

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