Novamente, lá estava Yakov na Nébula, a galeria de seu pai. Ele até poderia considerar isso um dèjá vu, mas tinha certeza de ter presenciado o que aconteceria a seguir.
A cena se desdobrou sobre seus olhos. A névoa azulada (que originalmente não estava ali, apesar do nome do lugar) lentamente se esvaiu, dando vista para sua irmã, que conversava com outras duas mulheres que ostentavam com vestimentas pomposas, embora ele não pudesse ver todos os detalhes claramente de onde estava. A loira de vestido azul bebê era a mais falante, balançando sua sombrinha que combinava com a roupa enquanto explicava algo. Já a morena de vestido rosa de mesmo tom, idêntico ao da outra, agitava seu leque enquanto olhava maravilhada para o restante dos quadros naquele corredor.
Seria a cena mais normal, cotidiana e pacífica da Nébula se não fosse pelo fato de que a galeria estava fechada fazia três horas, além de que as moças definitivamente não eram do século XIX, muito menos dos anos 90. Ninguém usava mais aqueles vestidos que pareciam ter saído do Palácio de Versalhes antes da Revolução Francesa. Era impossível elas terem entrado lá sem ele, o pai ou Agnieszka terem notado. Contudo, lá estavam elas magicamente.
Tudo continuava azulado, mesmo com a névoa diminuída, confuso, e Yakov sabia que antes não tinha sido assim. As luzes estavam apagadas agora e só o luar iluminava surpreendente todos os cantos do local. Por que isso estava se repetindo, porém tão diferente?
Então, a loira tirou um objeto embrulhado em um pano tão delicado e bordado de seu bolso e deu para Agnieszka, que estremeceu ao toque do vidro. Yakov sabia que as lembranças do dia anterior ainda estavam nela. Ele pedira para que ela segurasse uma garrafa de um vinho caríssimo que sua mãe queria degustar para o jantar. Não passou por sua cabeça que a garrafa talvez fosse pesada demais e que sua irmã deixá-la-ia cair e estraçalhar no chão. O vidro havia dado uns cortes superficiais na perna dela e sua mãe quase pegou a garrafa quebrada e bateu neles ali mesmo. A sorte foi que a mulher escolheu usar as próprias mãos para acompanhar a bronca verbal. No fim, ele teve que fazer curativos na irmã e os dois limparam os cacos, o que resultou em mais curativos posteriormente.
Agnieszka olhou para o objeto que lhe foi entregue e para as duas moças, como se esperasse por mais alguma palavra. Sendo assim, a loira pegou-o de volta e cochichou alguma instrução para a menina. Demonstrando o que disse, ela segurou o objeto contra a luz e, dessa forma, Yakov pode ver com perfeição que era um prisma. Um feixe arco-íris foi formado, encantando tanto a menina quanto ele. As sete cores estavam bem mais vibrantes e bonitas do que quando aconteceu na primeira vez. O tom azulado do local tornou-se mais forte, assim como o que ainda havia sobrado da névoa.
A loira guiou o feixe até um grande quadro que se encontrava no chão - o que não era para estar lá - e Yakov conseguia ver o espaço na parede pertencente a ele. As cores passaram pela cena de um piquenique em meio a uma clareira, com uma fonte de um anjinho jorrando água de um vaso. Esse quadro era conhecido por Yakov e uma de suas características era terem duas moças de costas para o espectador, aproveitando a tarde.
Duas moças exatamente idênticas as que se encontravam na galeria.
"Então era isso" - o pintor concluiu em pensamento.
O quadro pareceu ter vida própria. A luz que saia dele era semelhante a de uma janela e a junção dela, do arco-íris e da névoa azul fez uma estranha combinação no local.
A morena parou de abanar o leque e agachou para que Agnieszka a abraçasse em despedida e fez a mesma coisa com a loira, a qual devolveu o Prisma e a menina o segurou firmemente. Logo, elas fizeram algo que Yakov podia jurar que estava delirando na primeira vez que viu e agora também.
As moças entraram no quadro, como se estivessem passando por uma porta ou entrada qualquer, tomando cuidado para que os vestidos não atrapalhassem na ação. A tranquilidade de Agnieszka ao ver a cena impressionava o pintor. Ela continuava não estranhando duas pessoas aparecerem simplesmente do nada na Nébula, entrarem em um quadro e sumirem.
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Belas Artes
Teen FictionGibril Diobsiana é um violinista e poeta que passa a estudar na Academia de Belas Artes de Euterpe, tendo como colega de quarto o prodígio na pintura e no desenho e melhor aluno do local, Yakov Mattisea. A vida desses estudantes artistas era agradá...