Capítulo 10: A alegoria da alegria

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Encontrar uma farmácia era a prioridade no momento. Assim, os dois artistas andavam pelas calçadas, aproveitando a sombra ali oferecida. Os paralelepípedos eram coloridos e deixavam Gibril alegrinho enquanto caminhava. De tempos em tempos, ele se certificava que o pintor estava seguindo-o. Após quase o ter perdido umas três vezes para as vitrines das lojas, era necessário ter que checá-lo. Uma das vezes, Yakov parou para olhar um estabelecimento que vendia quinquilharias, deveras interessado em um relógio de bolso prata até que Gibril disse que estava caro demais.

- Mas nós temos dinheiro! Qualquer coisa, eu pinto mais! - ele protestou, para Gibril pedir para ficar calado por estar gritando e atraindo olhares indesejáveis. De cara emburrada e mal humorado, Yakov deixou o relógio para trás.

Em outra ocasião, Yakov, novamente, distraiu-se com umas bonecas de pano com rostinhos simpáticos. A de cabelo de lã marrom, olhos azuis bordados e vestidinho florido era perfeita para Agnieszka. A desculpa de Gibril para arrancá-lo de lá foi que podiam ir mais tarde quando tivessem já comprado uma pomada para melhorar as queimaduras dele. Yakov só foi convencido porque, ao arrastá-lo, Gibril segurou em uma parte de seu pulso que estava terrivelmente vermelho e doeu com o toque.

Quando o músico achava que, finalmente, podiam continuar rumo a uma farmácia que nem sabiam onde ficava, Yakov parou em outra loja de bugigangas. Maravilhado por uma concha gigante que continha uma pintura de um mar dentro, até Gibril parou para admirá-la. De fato, era linda e valia cada real que estava sendo cobrado (o que eles não tinham em tanta abundância assim). Yakov estava quase implorando no meio da rua para entrarem e comprarem, porém Gibril falou a melhor mentira que podia:

- Na volta, nós compraremos.

E o pintor, iludido por essas palavras, continuou a andar alegremente para encontrar logo a farmácia. O poeta só podia desejar que ele esquecesse a tal da concha pintada.

Cansados de caminharem sem direções precisas, pediram ajuda a um senhor que estava parado olhando a rua. Gibril não sabia explicar, mas o homem parecia ser bem acostumado com o calor abafado e úmido da região costeira, não sendo afetado pela alta temperatura. Para a felicidade deles, o senhor disse que a farmácia era dali a três lojas, impossível de não ser ver o letreiro vermelho e branco gigante. Os dois agradeceram; mais motivados a caminhar, foram ao encontro do lugar. 

Como antes falado pelo homem, era realmente difícil não notar o tal do letreiro. Ao entrarem, prateleiras cheias de frascos de todas as cores os receberam na companhia de balcões com mais potinhos em cima. Era uma farmácia bem maior do que Gibril estava acostumado da cidade de onde viera (e, felizmente, ele não precisou ir em nas da cidade da Academia para conhecer as de lá também). Saindo pela porta dos fundos por ter ouvido o tilintar do sino da de entrada, um rapaz magro e alto com cabelo castanho claro cacheado, uma cara de grilo e óculos espessos posicionou-se atrás do grande balcão central. Ele vestia um jaleco por cima de um terno branco, o que o fazia parecer doentiamente pálido, como se tivesse anemia, sendo estranho, pois se espera que alguém da área da saúde seja saudável.

Contudo, embora a aparência não o ajudasse, sua voz calma e simpática o fazia ter um exterior mais agradável. Ele arrumou um frasco azul na fileira que pertencia no balcão antes de se dirigir aos artistas.

- Boa tarde, como posso ajudá-los?

Gibril podia jurar ter visto os cantos dos lábios do homem subirem um tiquinho quando ele olhou Yakov de cima para baixo.

"Acho que ele já sabe como nos ajudar" - o poeta pensou.

Reunindo um pouco da dignidade que ainda o restava - pois Yakov também notara o sorrisinho contido do farmacêutico - ele perguntou:

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