Capítulo 12: O carnaval eterno

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No caminho de volta ao Hotel Harmônica, eles decidiram que entrariam no quadro da parede do corredor do quarto deles naquela mesma noite, após ambos concluírem que nenhum deles estava cansado por terem dormido demais e que a rotina de sono havia sido drasticamente afetada graças ao dia anterior. Concordaram também que não jantariam porque comeriam o que o festival do quadro tinha a oferecer, já que onde se há festa, há comida.

Assim, Gibril se encontrou no meio do corredor, de frente para tal quadro, esperando que Yakov estivesse fazendo as contas corretamente do pagamento da estadia no hotel. O poeta tinha deixado a parte de matemática para o amigo, pois imaginava que ele, de alguma maneira, fosse mais inteligente nessa área do que ele mesmo. Obviamente, Gibril sabia contar, ele era um músico e música era pura matemática, além de ser poeta e ter que lidar com a métrica de versos. Entretanto, Yakov parecia ser alguém bem mais logístico que ele.

Logo, o pintor saiu do quarto 12, fechou a porta atrás de si, mas sem trancá-la, e juntou-se ao lado do outro.

- Quanto deu? - perguntou o violinista.

- Não sei - Yakov deu de ombros. - Eu coloquei uma boa quantia lá, acho que deve ter uns cem réis de troco se duvidar.

Os olhos de Gibril arregalaram em espanto.

- Yasha! Não podemos sair dando dinheiro adoidado por onde passamos! Acharão que nós o roubamos ainda!

O pintor fez um gesto de desdém com a mão esquerda.

- Ih, relaxe. Agora não podemos ser dois amigos ricos em um hotel pobre?

Gibril coçou entre os olhos em desespero e disse:

- Tecnicamente, esse dinheiro já não é legal. É pintado, então não devemos deixar parecer que é como um papel qualquer.

- De todo modo, é falsificado. Não vai fazer diferença em grande ou pouca quantidade.

O loiro suspirou.

- Só tente não gastar demais - outro suspiro. - Vamos mudar de assunto. Tudo pronto para nosso próximo destino?

- Temos tudo aí - ele apontou para a bolsa no ombro de Gibril. - Há dinheiro avulso também para comprarmos bugigangas e comidas no festival. A pergunta real é: você está pronto para o próximo destino?

- Por que eu necessariamente? - ele estava genuinamente confuso.

- Eu já usei o Prisma muitas vezes. Agora é a sua.

- A minha?!

Sem responder verbalmente, Yakov puxou a bolsa para si, desembrulhou o Prisma da toalhinha e deu-o na mão de Gibril.

- Pode ir. Eu seguro a lanterna - ele a pegou de perto da porta do quarto 12.

- Mas... Eu não sei usar isso direito...

- Você que trouxe o nosso almoço do Caderninho hoje. Deixe de frescura!

- Trazer comida é uma coisa, levar-nos a um quadro é outra.

- Você está me enrolando. Ande logo que não temos a noite toda. Rápido, antes que alguém nos veja.

Com um trabalho em equipe um pouco a contragosto de Gibril, eles alinharam a luz e o Prisma. Assim, o conhecido por eles feixe arco-íris surgiu e o violinista o passou de cima para baixo no enorme quadro. Enquanto fazia isso, notou uma plaquinha abaixo dele, escrito "Carnaval Eterno". Provavelmente, era o nome da pintura.

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