Cap. 28 - Festa das chaves

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Pov Juliette Freire

Não tenho notícia de Sarah o restante do final de semana. Na segunda de manhã, sou um combustível misto de raiva e mágoa a ponto de explodir quando vir o rosto dela na aula de Inglês no sexto período. Mas isso nunca acontece. Em vez disso, olho fixamente para o assento vazio dela durante quarenta e cinco minutos, esperando ansiosamente para que ela entre.

Na terça, meus nervos estão à flor da pele de preocupação. Desta vez, ela aparece na aula, embora talvez fosse mais fácil se não tivesse vindo. Meu coração acelera ao vê-la e, na verdade, sinto alívio por ela estar bem. Há dois lugares vazios na classe. O lugar onde ela se senta todos os dias, diretamente na minha frente e um do lado oposto da sala. Nossos olhos se encontram quando ela entra um pouco antes do sinal tocar. Então, ela caminha até o outro lado da sala e se senta. Nunca olha para trás, nem mesmo quando sai pela porta no final da aula.

Uma semana depois, fica muito claro que ela não quer mais que sejamos nem amigas. Ela simplesmente continuará a me ignorar e fingir que nunca aconteceu nada. E acho que eu farei o mesmo. Mas é mais fácil falar do que fazer.

Diferente dela, o que senti foi verdadeiro.
Inquietação e preocupação se transformam em raiva. Repassei toda a manhã que passamos juntas um milhão de vezes em minha cabeça. Estou convencida de que não fiz nada errado. Mesmo assim, não consigo pensar em outra coisa a não ser o que a fez jogar tudo para o alto.

Vivi uma vida toda sem saber onde estava pisando todos os dias. A semana passada me fez pensar muito na mamãe e na doença dela, os altos e baixos e a falta de qualquer coisa no meio. A doença mental é mais fácil de ser aceita do que alguém que apenas resolve que não quer mais nada com você.

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- Vai ter uma festa amanhã à noite na casa do Bill - Thaís informa quando o sinal toca, indicando o final do almoço. - Os pais dele vão sair da cidade e na semana que vem é seu aniversário de dezoito anos. - Eu já sabia, porque o Bill me falou sobre isso todos os dias desta semana. - Passo para te pegar às sete horas.

- Não sei, Thaís. Não estava planejando ir.

- Eu sei. E é por isso que vou te buscar. Assim não pode me dizer que vai e depois não aparecer.

- Mas... - Tento pensar em uma desculpa para não ir, outra que não seja a óbvia.

- Sete horas - ela me avisa e se afasta, não me dando tempo para argumentar.

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São seis hora da tarde no sábado e estou tentando me aprontar para a festa que, na verdade, não quero ir. Tirando o fato de que estou com um humor que a tia Claire chama de melancolia, há uma boa chance de Sarah estar lá, já que Bill é um de seus melhores amigos.
Ignoro a campainha quando ela toca, porque é muito cedo para ser Thaís. Mas, alguns minutos depois, tia Claire bate na porta e deixa Thaís entrar no meu quarto.

- Oi! Me desculpe. Achei que você viesse às sete.

- Eu vinha, mas pensei em vir mais cedo. - Ela se joga na cama e olha ao redor do quarto. As sobrancelhas dela franzem diante das minhas caixas empacotadas e sistematicamente organizadas, mesmo assim não faz perguntas.

- Bem, consigo ficar pronta em um minuto. Não demoro muito.

- Sem pressa. Achei que talvez você quisesse conversar.

Olho para ela, desconfiada e Thaís levanta as sobrancelhas em resposta. Nós duas sabemos do que ela está falando. Isso tem sido o elefante branco na sala durante as últimas duas semanas. Thaís é uma garota esperta, observadora. Com certeza ela me viu olhando fixamente para as costas de Sarah durante a aula de Inglês, lágrimas ameaçando meus olhos quase diariamente.

Peças do destino - Versão SarietteOnde histórias criam vida. Descubra agora