Cap. 35 - Aproveite seu dia

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Pov Sarah Andrade

Fico feliz por minha mãe não estar na cozinha quando desço esta manhã. Ela com certeza estaria bisbilhotando se descobrisse que acordei uma hora antes do normal.

Fuço pelas gavetas da cozinha onde ela guarda os materiais de costura, encontrando a tesoura que procuro. Assim que pego-a e me viro para subir a escada, minha mãe acende a luz. Droga!

- Está tudo bem, Sarah? Por que acordou tão cedo? - Ouço o nervosismo na voz dela.

Faz nove meses desde o acidente de Emily e, apesar de estar de volta na escola e namorando Juliette, minha mãe ainda se preocupa toda vez que me vê quieta e sozinha. Hoje, mais do qualquer outro dia, pelo enorme elefante branco sobre o qual ela, sem dúvida, está se debatendo: o aniversário de dezoito anos de Emily seria hoje. Ninguém disse uma só palavra e estou agradecida por isso. Estou tentando focar em Juliette e em nossa noite especial, embora a culpa tenha se instalado no meu cérebro quando acordei esta manhã.

- Está tudo bem, mãe. Estava procurando a tesoura. Não se preocupe, é só para embrulhar um presente.

- Ah, Dia dos Namorados. Comprou um presente para a Ju? - minha mãe pergunta, o tom conhecido da inquisição materna na voz dela.

- Comprei. Não poderia sair hoje à noite sem um presente, não é? Você me ensinou a ser melhor do que isso. - Dou-lhe um beijo no rosto, o que sei que a deixará feliz.

- Bem, eu sou uma ótima empacotadora de presentes, caso precise da minha ajuda.

Minha mãe definitivamente não vai deixar passar sem ver o presente. Eu cedo e tiro a caixa de cetim preta do meu bolso e lhe mostro.
Minha mãe abre a caixa e vê o medalhão.

- É lindo, Sarah. - A voz dela está cheia de emoção. - A Juliette vai amar. Estou tão feliz que tenha encontrado alguém como ela, minha querida. Você merece ser feliz.

- Tem lugar para duas fotos do lado de dentro. Pensei que Juliette pudesse colocar uma dela e outra da mãe, assim poderiam ficar juntas no coração dela toda vez que o usar - explico, eu mesma ficando um pouco comovida.

- Juliette é uma garota forte. Dá para ver. É preciso uma pessoa muito resiliente para passar pela morte de uma mãe sendo tão jovem. Você e Juliette têm um elo por causa da...

Ela pára. Ela nunca mencionou o nome de Emily desde o funeral. Meu pai também não. Ambos têm medo de abrir uma comporta de emoções com apenas uma palavra.

- Emily - eu digo, terminando a frase dela. - Juliette sabe sobre a Emily, mãe. Eu lhe contei uma noite lá no Point logo depois de nos conhecermos. Você está certa. Acho que é parte da nossa conexão. Nós duas passamos por algo que a maioria das pessoas não consegue entender.

- Você está tão madura agora, Sarah - minha mãe comenta com orgulho e tristeza na voz. - Não deveria ter que crescer tão rápido, mas não podemos mudar isso. E, nos últimos meses, vi a mulher madura, observadora e carinhosa que você se tornou. Estou muito orgulhosa de quem você é e de como lidou com o último ano, Sarah.

Não há palavras. Nenhuma que eu possa dizer neste momento, de qualquer modo. Abraço minha mãe com força e peço-lhe para embrulhar o presente.

- Seu perfeccionismo maluco pode ser útil de vez em quando. - Eu rio e lhe entrego a tesoura.

Depois que minha mãe volta de seu closet de papel de embrulho na sala de artesanato, ela se acomoda na mesa com cinco tipos de papéis diferentes para eu escolher.

- Escolha um - ela ordena em sua insistente voz feliz.

- A Hallmark tem menos opções do que você.
- Mas eu, de fato, passo alguns minutos analisando os papéis para escolher o certo. Realmente quero que tudo saia perfeito esta noite.

Quando minha mãe corta o papel e começa a embrulhar, fico aliviada que ela não tenha tirado o medalhão da caixa e o virado para ver a gravação que mandei fazer na parte de trás. Eu não a teria impedido, mas teria ficado um pouco envergonhada.

" O amor não tem palavras, eu me encantei por você antes mesmo de você falar. "

Era oque estava gravado.

Teria que explicar o significado à minha mãe e aqueles primeiros encontros sem palavras entre Juliette e eu são particulares, íntimos, algo que pertence só a nós duas.

O presente está lindo. Minha mãe passou dez minutos enrolando as fitas com a ponta da tesoura para dar o toque final. Pego o presente, beijo-a mais uma vez e subo as escadas para me aprontar.

Antes de chegar ao topo da escada, minha mãe pergunta: - Ela sabe que hoje é...

Eu não a deixo terminar.

- Não, mãe, não quero que Juliette saiba que hoje é o aniversário da Emily. Não há razão para isso. Só a magoaria e estragaria um dia que é tão importante para ela. Então, não. Não vou contar a ela.

- Aproveite seu dia, Sarah - minha mãe grita quando eu saio correndo pela porta da frente um pouco depois. - Te amo.

- Amo você também - grito de volta.

Enquanto me acomodo no banco do motorista do Charger, ligo meu celular e vejo cinco ligações perdidas de Juliette.

Peças do destino - Versão SarietteOnde histórias criam vida. Descubra agora