Pov Juliette Freire
Brookside, Texas
5 meses depois
— Isso não é permanente, Cacaa — eu sussurro para que a tia Claire e a Sra. Evans não consigam ouvir. — Voltarei depois de encontrá-la. Prometo.
Estou falando sério, mas, assim que as palavras saem, começo a me perguntar se realmente voltarei.
Esta manhã, eu fiquei na sala de audiência enquanto o juiz dava a custódia temporária à minha tia. Inacreditável como o tempo passou rápido. A dor de perder minha mãe ainda é recente, mas, ao mesmo tempo, parece que faz uma eternidade desde que ouvi a voz dela pela última vez. A gama de emoções no rosto de Carla parecia ser uma imagem espelhada de mim.
— Estou feliz por você, Juju — ela diz com um sorriso hesitante, o tipo de sorriso que se forma quando não se sabe se está feliz ou assustado. Sei que ela está assustada, por nós duas.
— Obrigada por tudo — agradeço, abraçando Carla com força. Geralmente, não sou uma pessoa muito "pegajosa", de forma que essa repentina demonstração de afeto faz Carla começar a chorar.
— Ju, temos muito a fazer antes de você embarcar no voo com a sua tia amanhã. — Não é a cara da Evans Cruela não ser nem um pouco sensível para perceber aquele momento entre Carla e eu?
Tia Claire intervém.
— Por que não vem até o aeroporto conosco amanhã, Carla? Podemos almoçar e vocês passarão um pouquinho mais de tempo juntas antes do nosso voo. O serviço de motorista pode levá-la de volta depois.
Sinto-me como se fosse Annie e acabei de ser adotada pelo papai Warbucks. Carla dá um gritinho de obrigada para a tia Claire e me aperta mais uma vez. Pelo menos partirei de Brookside em grande estilo.
***************
Ao empacotar o restante das minhas coisas no trailer de Carla, começo a me perguntar se tomei a decisão certa. A maneira que a tia Claire olhou para Milika e para o trailer mal iluminado e apertado, me faz pensar se ela me olhará da mesma forma agora. Todas as vezes em que ela veio me visitar, a Sra. Evans sempre me levou a um restaurante ou ao hotel dela. A tia Claire vem de um mundo onde estacionamentos de trailers não existem. Não sei se esse é o mundo certo para mim. Esta é a única vida que conheci.
Deixo meus pensamentos de lado, lembrando a mim mesma que encontrar a minha irmã é mais importante do que meu sentimento de desconforto. Não pretendo viver com a tia Claire para sempre, nem mesmo ficar na Califórnia. Só preciso encontrar minha irmã e descobrir o que fazer a partir daí.
— Está pronta, Ju? — tia Claire pergunta quando traz a quase última caixa do trailer até o carro que está nos esperando. — Temos que levar as caixas para despachar. Você sabe que tem que pagar para levar uma mala hoje em dia nos aviões. Então quero mandar o máximo que pudermos.
A verdade é que eu não sabia disso. Eu nunca estive num avião antes. Mas concordo, fingindo que o que ela diz faz sentido. Pegando a caixa que deixei por último de propósito, pergunto:
— Posso levar essa pequena comigo no avião? Vai contar como uma mala?
A tia Claire olha para a pequena caixa de papelão apertada em minhas mãos.
— Claro que pode levar qualquer coisa que seja importante para você. — Com a voz suave, ela pergunta: — Essa caixa é importante? Poderíamos arranjar uma caixa nova. Essa parece que vai cair aos pedaços a qualquer momento, eu acho. Eles as vendem na loja de embalagens da UPS para onde estamos indo.
— Só algumas coisas da minha mãe e umas poucas fotos. Coisas que mantive na mesma caixa toda vez que nos mudamos. — Minha própria voz se abala, ficando trêmula enquanto respondo.
Não é fácil ir embora. Mamãe e eu não moramos aqui tantos anos, mas esta é a primeira vez que me mudo sem ela. O semblante da tia Claire fica sombrio. Não tenho certeza se é porque mencionei a mamãe ou se porque mencionei que mudávamos muito. Tenho a sensação de que a tia Claire se sente mal por eu ter tido o que ela considera uma vida ruim, cheia de mudanças de um lado para o outro.
— Sinto muito, Ju. Não consigo imaginar o quanto isso é difícil para você. Deve sentir falta da sua mãe. Desculpe-me, querida. — Lágrimas escorrem suavemente pelo rosto dela. Nunca vi ninguém chorar de uma maneira tão linda e educada antes.
— Ela também era sua irmã. — Não a olho quando digo as palavras seguintes. — Imagino que também seja muito difícil perder uma irmã. Pelo menos eu passei a maior parte do meu tempo com ela... você não teve tanta sorte.
Tia Claire assente solenemente. Viro-me para procurar Carla, para que possamos partir, mas ela não está em nenhum lugar. Em vez disso, Milika se posiciona atrás de mim.
— Vamos sentir sua falta, querida — ela diz, abrindo os braços.
Se a tia Claire é o papai Warbucks, Milika está fazendo o papel da Sra. Hannigan. Ela nunca me chamou de querida em todas as quinhentas vezes em que eu entrei pela porta. Repentinamente, me dou conta do seu cheiro de cigarros e de seu perfume barato.
Na porta, viro-me para dar uma última olhada ao redor, fazendo uma prece silenciosa para a mamãe: prometo que não vou deixar a Califórnia me transformar, independente de qualquer coisa.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Peças do destino - Versão Sariette
RomanceSarah : Meu mundo mudou, completamente, quando conheci Emily. Juliette : Apaixonar-me por ela não estava nos planos. Mas... Quantas peças o destino era capaz de pregar? Sarah G!P - Se não gosta, não leia!