Cap. 13 - Quase bonita demais

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Será que e hoje?

Boa leitura ❤️

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Pov Juliette Freire

Long Beach, Califórnia

A casa não é nada do que eu esperava. Quadros vibrantes emoldurados decoram as paredes de cores acolhedoras, dando a sensação de "casa" mais do que qualquer outro lugar onde já vivi. Ainda assim, o sono não veio com facilidade na noite passada. Na primeira noite em um lugar, ele nunca vem. Eu deveria saber, já tive primeiras noites suficientes na vida.

Obrigando-me a sair da cama mais cedo do que preciso, tiro um tempo para explorar o local, já que a tia Claire saiu por algumas horas. Minha primeira parada são os porta-retratos no mantel acima da lareira. Não querendo parecer muito bisbilhoteira, dou uma olhada rápida, sem ter a chance de olhar bem de perto.

A primeira foto é de duas garotinhas com os braços entrelaçados nos ombros enquanto sorriem alegremente para a câmera. A garota mais alta está segurando uma mangueira de jardim e tem um sorriso maroto no rosto; a mais nova está ensopada dos pés à cabeça. Quase não consigo reconhecer a mamãe com aquele sorriso fácil e despreocupado. Aquilo me faz pensar se ela já nasceu com problemas ou se algo aconteceu depois daquela foto para transformá-la do jeito que ficou quando eu nasci.

A foto seguinte foi tirada na formatura de enfermagem da tia Claire. Ela parece a mesma, só que mais jovem. A mulher mais velha ao lado dela, minha avó, alguém que eu nunca vi, sorri com orgulho da filha vestida em um uniforme todo branco.

Pego as fotos maiores, passando o dedo pela borda da moldura de vidro chapiscado, estudando a foto do casal no dia do seu casamento. Tia Claire está linda em um vestido de noiva branco tradicional, do tipo que se vê na televisão, com uma cauda longa e um véu que cobre o rosto. O marido dela está usando um terno escuro simples; um sorriso largo ilumina seu rosto ao olhar para a noiva. Os dois parecem tão felizes. Sinto uma dor no peito ao pensar como ela deve ter se sentido quando o perdeu.

Eu me viro, contemplando o que sinto ao absorver todo o ambiente... as fotos, a mobília, as prateleiras cheias de livros... é tudo tão... normal. É uma sensação com a qual não estou nem um pouco acostumada.

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Meu rosto está enterrado em um livro quando a tia Claire entra carregando sacolas do supermercado algumas horas depois.

— Como você dormiu? — ela pergunta enquanto eu a sigo até o carro para ajudar a trazer o restante das sacolas.

Dou de ombros.
— Bem, eu acho. — Por que preocupá-la dizendo que virei de um lado para o outro durante metade da noite?

Tia Claire sorri desconfiada.

— Vai melhorar. Prometo. Sempre tive dificuldade de dormir em algum lugar novo. — Juntas, começamos a desempacotar as compras. — Estava pensando... e se fôssemos comprar uma roupa nova para o seu primeiro dia de escola?

Baixo os olhos.

— O que há de errado com as minhas roupas? — Minha voz soa um pouco defensiva.

— Nada. Nada mesmo. É que... minha mãe sempre nos comprava roupas novas para o primeiro dia de aula. É meio que uma tradição. — Ela sorri. — Eu sempre esperava por isso. — O sorriso se apaga um pouquinho, a voz ficando cada vez mais profunda e suave. — Assim como sua mãe. Achei que você também pudesse ser assim.

Eu me pego pensando como seria sair às compras com a minha irmã. Quero muito fazer mais perguntas, mas é cedo demais para arriscar cutucar as coisas e deixar a tia Claire suspeitando das minhas intenções.

Peças do destino - Versão SarietteOnde histórias criam vida. Descubra agora