Cap. 34 - Dia especial

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Pov Juliette Freire

Nervosismo e ansiedade formam um coquetel potente. Diferente da minha experiência limitada com o álcool, esse coquetel me dá náuseas e vontade de vomitar. De jeito nenhum conseguirei dormir esta noite.

Meu celular toca e sorrio com a selfie ridícula que aparece, indicando que é a Carla. Tiramos uma foto no meu último dia no Texas. Estávamos deitadas na grama, nossos cabelos longos espalhados ao nosso redor enquanto olhávamos para cima, sorrindo abertamente para a câmera. Passou-se quase um minuto depois de termos tirado a foto para Carla perceber que tinha uma enorme aranha do tamanho do Texas rastejando em seu rosto. A foto capturou aquele exato segundo quando ela ainda estava sorrindo, mas a aranha aparece bem em cima dela. Absolutamente impagável.

— Tem planos para o Dia dos Namorados? — ela pergunta, brincando.

Durante o último mês, passamos de conversar duas vezes por semana para uma hora de conversas profundas todo santo dia. Às vezes, mais de uma vez. Ela sabe o quanto estou ansiosa para amanhã.

— Dia dos Namorados? Não, estava pensando em talvez ficar em casa e me atracar com um bom livro. — Fecho silenciosamente a porta do meu quarto. Tia Claire está em casa e não quero que escute minha conversa com Carla.

— Acho que estou mais animada por fazer o trabalho sujo do que você mesma. Parece tão calma.

Toda vez que converso com a Carla, ela tem um nome diferente para o sexo. Hoje até que não está tão horrível, mas, na semana passada, nós estávamos: fritando o bacon, balançando o trailer, descascando a mandioca e a minha favorita, uma que eu ainda não consigo entender: descabelando o palhaço.

— Estou longe de estar calma. Todas as manhãs eu acordo em pânico com alguma coisa que possa dar errado. Hoje eu me vi vomitando nela, antes do bacon chegar à frigideira.

Viro de barriga para baixo na cama. Meu rosto está tão perto do travesseiro que consigo sentir o cheiro da Sarah, seu shampoo deixando para trás um perfume que associo a ela em minha cama. Inspiro profundamente e sorrio ao exalar.

— O que você está fazendo?

— Nada — minto.

— Você acabou de cheirar alguma coisa?

— Não!

— Mentirosa, o que você cheirou?

— Nossa... — eu rosno porque ela me conhece tão bem. — Meu travesseiro — confesso.

— Tem o cheiro da Sarah?

— Tem, se é que você precisa mesmo saber.

— Preciso.

Nós duas rimos.

A tia Claire definitivamente ficaria brava se soubesse que não lavo minhas fronhas há semanas. Mas não suporto a ideia de abrir mão daquele cheiro. Ele me faz companhia quando Sarah sai da cama de manhã.

Conversamos um pouco. Ela me conta sobre um novo cara que está namorando, mas de quem não gosta de verdade e eu falo mais sobre a escola e a noite passada com Sarah. Ela me levou a outro farol para ver o pôr do sol; o sexto que visitamos até agora.

— E então, comprou alguma coisa especial para usar amanhã? — Carla pergunta.

— A tia Claire me deu um vestido de verão lindo que eu ainda não usei, então pensei em vesti-lo. É azul, a cor favorita de Sarah.

— Estava falando sobre o que planejou usar debaixo do vestido.

O pânico se instala. Nem pensei em usar algum lingerie especial.

Peças do destino - Versão SarietteOnde histórias criam vida. Descubra agora