Cap. 27 - Estou doente

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Pov Juliette Freire

Estou em pé na ponta da rampa da garagem de Sarah, olhando fixamente ao longe. Por um segundo, sinto como se tivesse imaginado os últimos cinco minutos. Então me viro e vejo a porta da frente fechada, o som dela batendo atrás de mim soando em minha memória vez após outra.

Que merda acabou de acontecer?

Eu meio que a espero abrir a porta e me dizer que está brincando.
Mas ela não abre.

Sentindo as lágrimas encherem meus olhos, pisco, tentando bloquear a enxurrada se formando por baixo da superfície. Não posso chorar. Não aqui. Aperto meus olhos e cerro os punhos até minhas unhas irem tão fundo nas palmas das mãos a ponto de me causar dor.

Respirando fundo, tiro meu iPod do bolso, coloco o volume no máximo e ponho os dois fones de ouvido.
Concentrando-me apenas em forçar um pé na frente do outro, desço pela longa rampa no momento em que as lágrimas começam a embaçar minha visão. Estou prestes a me afastar da casa e sair correndo quando uma mão me agarra.

Virando-me com força, arranco o fone do meu ouvido quando uma mulher repete as palavras que acabou de dizer. Só que dessa vez eu consigo ouvi-las:

— Seu nome?

— O quê? — pergunto, confusa, embora tenha ouvido a pergunta dela.

Ela não repete. Em vez disso, apenas me encara. Olho para os meus braços, onde ela está me segurando embaixo do cotovelo. Ela segura com força e, de repente, fico nervosa, ainda que seja o meio do dia e estejamos em um lugar aberto.

O semblante dela é duro e sério, como se eu estivesse testando sua paciência, embora seja ela quem tem as mãos em cima de mim. Tento puxar meu braço e me soltar, mas é inútil, os dedos dela estão cerrados.

— Juliette — eu respondo.

Ela continua com os olhos fixos em mim, mas solta meu braço. Eu deveria correr, mas algo me mantém ali em pé.

— Por que está aqui?

É uma pergunta para a qual não tenho certeza da resposta. O que, pelos infernos, estou fazendo aqui? Sarah não me convidou. Eu simplesmente apareci.

As lágrimas com as quais estive brigando vencem e se derramam pelo meu rosto.

— Não sei. Mas não deveria ter vindo.

A mulher não faz nenhum movimento para me seguir quando eu começo a correr. Ela apenas fica ali em pé, sem se mexer, olhando fixamente na minha direção enquanto eu fujo.

                        **************

Quando a tia Claire chega ao meu quarto para me dizer que sairíamos logo para o brunch, não estou mentindo quando lhe digo que estou doente. Abafei o som dos meus soluços no chuveiro a ponto da minha pele descascar e ficar vermelha brilhante. Minha cabeça pulsa depois da crise de choro.

— Espero que não seja uma gripe forte — ela diz, sentindo a temperatura da minha testa pela segunda vez. — O pronto-socorro tem estado lotado de pessoas com Influenza este ano. Não sei por que as pessoas não levam os filhos para tomar vacinas.

Chegando à conclusão de que minha mãe provavelmente nunca pensou sobre a influenza, ela recua.

— Perdão, Juliette, não tive a intenção...

— Tudo bem, tia Claire. Sei o que quis dizer. E tenho certeza de que não é a influenza.

Ela olha para o relógio e de volta para mim.

— Talvez fosse melhor eu ficar em casa.

— Para ficar me olhando dormir? Não, vá. Você estava ansiosa para ver seus amigos. Ficarei bem. Prometo.

Peças do destino - Versão SarietteOnde histórias criam vida. Descubra agora