O Diário de Um Clichê

Capítulo LXII

➻ Capítulo 62

E todos riam, tudo de novo. Não só riam como apontavam o dedo para mim. Isso, claro, no meu sonho.

Uma semana depois de todo o caos na escola, eu ainda tinha pesadelos. A noite daquele dia foi sufocante e impossível de alcançar o sono profundo. E obviamente, fazia uma semana que faltei.

Sei que pode estar se perguntando: "E como você conseguiu despistar sua família com isso tudo e de quebra faltar as aulas?".

E a resposta é: não consegui.

Para a minha desgraça, consegui esconder apenas do meu pai, ruim mesmo foi o fato da minha irmã ter descoberto no dia seguinte.

Ela concordou comigo de não contar nada para o meu pai, mas em compensação ela foi na escola que, surpreendentemente, com empatia me suspendeu com justificativa de apenas uma semana. A mesma se certificou de se livrar dos diversos cartazes e coisas do tipo espalhado da escola. Mas não poderia fazer nada quanto as redes sociais, no qual foi o motivo de Priya ter descoberto.

Para a minha felicidade quase ninguém de fora da escola vazou as fotos, contudo, tenho quase certeza que parou em outros lugares...

ㅡ Acorda, hoje acaba a suspensão. ㅡ Ouvi Priya falar da porta. ㅡ Não podemos continuar inventando desculpas para você não ir para a escola para o nosso pai.

Deitada na cama em posição fetal, me virei para ela.

ㅡ Você continua entrando no meu quarto com aquela chave reserva? ㅡ Resmunguei com olhos esbugalhados.

ㅡ Estou falando sério. ㅡ Se aproximou, sentando na beira da minha cama. ㅡ Já que você não falou nada sobre mudar de escola, tem que voltar para não dar bronca nas suas notas. Falta apenas alguns meses para acabar e você aí em posição fetal pensando na tragédia da escola.

Não é verdade... Bem, eu pensei também na proposta que ela deu de me mudar de escola. Mas seria tão trabalhoso faltando tão pouco para o final, sem contar meus amigos.

E ele.

Também aproveitei para pensar no que faria depois da escola. Com tanta coisa rolando mal pude pensar numa universidade e nem em qual.

ㅡ Só preciso de um tempo. ㅡ Respondi suspirando. ㅡ Você não tinha que procurar trabalho ao invés de invadir meu quarto?

ㅡ E você acha que estou fazendo o que nessa última semana que não tem falado comigo direito? ㅡ Questionou com um sorrisinho. ㅡ Lembra que você bateu na porta do meu quarto falando para não desistir?

ㅡ E você me ouviu mesmo?

ㅡ Na verdade, depois que soube do que aconteceu com você pensei que não poderia ficar pior. ㅡ Comentou. ㅡ Você sabe que se eu estivesse lá iria passar um trator em cima de cada um que zombou de você ou riu, até mesmo xingou. Mas a lei não permite, então...

Dei uma risada nasal, puxando o lençol para me embrulhar por completo dessa vez.

ㅡ Opa, nada disso. ㅡ Ela simplesmente tirou meu lençol com brutalidade.

ㅡ O que você quer?

ㅡ Que parte não entendeu que não quero ver você jogada na cama? ㅡ Indagou. ㅡ Por que acha que tirei seu celular? Iria ficar pior.

Talvez não tenha mencionado, mas sim Priya arrancou o celular de mim para não ver nenhuma notícia ruim ou mensagem ruim. Apesar da atitude louvável, meus amigos devem estar pensando que estou os ignorando.

Claro, por um lado estou. Mas só o Adam.

Ele veio na minha casa umas duas vezes para falar comigo, mas foi impossível atender por pura vergonha.