17 - Humor ruim

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Cinco dias sem Andrew em meu apartamento e a cada dia que se passava meu humor piorava sem ele. O pior de tudo era dividir Ethan, um dia comigo, um dia com ele. Cada noite sem ninguém em meu apartamento era torturante, como se viver não fizesse sentido.

Era nítido que eu precisava voltar a viver. Agora que havia mais tempo destinado a mim, era necessário buscar novas ocupações. Não que eu quisesse substituir lugares em minha vida, mas a vida sozinha era triste demais.

Havia recusado diversas vezes sair para jantar com Josh, um homem que trabalhava no mesmo setor de criação que eu. Praticamente todas as vezes que recusei seus convites eram pelas mesmas desculpas: não havia com quem deixar; ele era muito novo; eu não estava pronta para colocar outra pessoa em sua vida sem ter a certeza de que permaneceria.

Mas agora Andrew estava ali para me dar o suporte necessário.

— Estava pensando sobre o convite que você me fez, poderíamos marcar algo nessa semana. — Sussurrei para Josh que se encontrava ao meu lado, mostrando-me parte do seu projeto.

— O jantar? Você finalmente vai me conceder a honra? — Perguntou animado.

— Agora que Andrew está na cidade, tenho com quem deixar Ethan. — Expliquei como se esse fosse o verdadeiro motivo.

Quem sabe eu estivesse querendo preencher meu coração, ou retirar alguém dele. A carência muitas vezes nos faz atropelar as coisas e tomar certas atitudes.

— Sexta-feira à noite? — Sugeri porque se tratava de um dia que Ethan estaria com Andrew.

— Acho ótimo, pego você às 8 da noite? — Perguntou e eu apenas balancei a cabeça como resposta.

Voltei a olhar a questão do seu projeto. Sabia que dando uma oportunidade para um encontro, precisaria a aprender a diferenciar trabalho da vida pessoal e ele teria que fazer o mesmo. Eu era sua superior, e isso muitas vezes poderia ser visto com maldade pelos outros.

Mesmo que na empresa não houvesse nenhuma política de relacionamento entre funcionários, deveríamos ser discretos caso esse encontro vingasse para algo mais.

Gostava da forma como Josh se comportava dentro e fora da empresa. Em como ele se pronunciava em diversos assuntos, sendo bastante consciente na hora de falar. Nós tínhamos pensamentos muito parecidos sobre diversos aspectos, isso provavelmente me dizia que não seria muito difícil de conversarmos.

Era quarta-feira e eu havia trazido mais uma mochila de roupas de Ethan para que Andrew levasse para a sua casa, como quando eu havia chegado ele ainda não estava, havia a guardado no canto da minha sala para entregar quando estivesse indo embora.

Assim que cheguei no estacionamento, analisei a cena de longe, Andrew abrindo a porta do seu carro para Cindy entrar — sempre muito cavalheiro — só que não. No instante que fechou a porta, nossos olhos se encontraram e precisei desviar o olhar algumas vezes para esconder a vontade de chorar.

Era para ser nós dois. Tudo isso era para ser nós.

— Eu vim trazer a mochila de roupas do Ethan que pediu. — Avisei, entregando a mochila em suas mãos, sem olhá-lo nos olhos.

— Valerie, eu só estou dando uma carona para Cindy.... — Iniciou a falar mas eu o interrompi.

— Você não me deve explicações. — Avisei vira do o rosto mais uma vez.

— Eu queria avisar que na sexta-feira estarei indo buscar meu carro em Denver. — Avisou, dessa vez atraindo a minha atenção aos seus olhos. — Cindy irá me acompanhar na viagem, iria perguntar se você gostaria de ficar com Ethan ou se eu tenho autorização para levá-lo.

Senti uma forte dor no peito, como se tivesse acabado de levar uma facada. Olhei para cima na tentativa de conter as lágrimas.

— Você convidou Cindy para ir com você? — Perguntei tentando evitar que ele percebesse a voz embargada. — Você não pensou em nenhum minuto que talvez eu iria querer ir junto? Que poderia ver minha família? E que poderíamos ir nós três com meu carro?

As palavras foram saindo da minha boca sem pedir licença ou esperar um intervalo para que pudesse respirar. Limpei a lágrima que havia caído e em seguida encarei os olhos tristes de Andrew.

— Céu, desculpe, eu não achei que iria querer, você está tão atolada com o trabalho. — Explicou-se.

— Não me chame mais de céu, você perdeu esse direito. — Avisei. — Leve Ethan com você, eu já tenho compromisso para a noite.

Virei-me de costas e então as lágrimas começaram a rolar com bastante intensidade. Fechei a porta do carro com força e grudei meu rosto no volante, abraçando-o automaticamente.

Andrew não entrou em seu carro de imediato. Ficou encostado no carro por alguns minutos, como se precisasse se recuperar antes do ato.

Mesmo estando sozinha com Ethan durante todos esses anos, agora fora a primeira vez que havia me sentido tão infeliz e solitária. A minha vontade era de dizer tanta coisa que havia ficado trancado em minha garganta.

Mais uma vez, a única coisa que eu conseguia pensar era que era para ser nós três, uma família, desde o início e estávamos separados.

Lembro-me de pensar naquele avião, de quando viemos de Denver que a partir daquele dia nossa vida se resolveria e que a nossa chance de ficarmos juntos estava perto, mas eu estava errada. Eu era apenas uma lembrança para ele.

Como ele disse, lembrança de momentos bons que ficariam guardados na memória. Não sei ao certo o que estava fazendo, só sabia que o colar que estava em meu pescoço me trazia uma segurança imensa, mesmo estando sozinha, mesmo estando afastada.

De volta ao NATAL 2Onde histórias criam vida. Descubra agora