22 - Perda de memória

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Aos poucos meus olhos foram se abrindo, estava tentando me adaptar a forte luz branca que ultrapassava até mesmo as minhas pálpebras. A medida que elas foram se abrindo, tentara reconhecer o lugar claro onde me encontrava.

A primeira coisa que avistei no meu lado esquerdo fora uma enorme janela com persianas em cores de creme. Ao mover a cabeça lentamente, porque a dor era tanta que mal conseguia movê-la, vi alguém sentado segurando minha mão. Seus olhos estavam fechados e sua cabeça estava apoiada em minha mão, não lembrava-me de sua aparência.

Aos poucos levantei a mão e percebi que havia um acesso de soro ou então medicamento em meu punho esquerdo. Passei analisar melhor o quarto e a camisola que estava em meu corpo, mostrando que eu estava em um quarto de hospital.

Logo, o homem que estava dormindo se acordou com a minha movimentação e levantou empolgado por me ver acordada.

— Você acordou meu amor, finalmente. — Falou animado, segurando meu rosto e beijando minha boca.

Afastei-me com muito esforço e cuidado para controlar a dor, e o olhei estranhamente.

— Quem é você e por que estou aqui? — Perguntei preocupada.

— Sou o Josh, não se lembra? Trabalhamos juntos e somos namorados. — Afirmou. — Você sofreu um acidente de carro ha um mês.

A palavra namorado me deixou surpresa, porque desde que estava em Nova York, não havia me relacionado com ninguém.

Não lembrava do acidente em que ele estava se referindo e por mais que eu fizesse força para lembrar, isso só fazia com que eu sentisse mais dor.

— Irei chamar seu médico. — Avisou se retirando do quarto.

O médico adentrou a sala muito animado por eu ter finalmente acordado após um mês em coma. Passou a fazer exames em mim, para verificar se tudo estava certo.

— Houve um hematoma em seu cérebro com o impacto da batida, no que resultou nessa sua perda de memória. — Iniciou explicando. — Muitas vezes como uma perda de memória recente, com o passar dos dias pode se recuperar e lembrar de tudo que viveu. Mas também existe a possibilidade dessas memórias se apagarem para sempre.

Enquanto ele falava a porta fora aberta mais uma vez e dessa vez mamãe e papai adentraram às pressas e vieram me abraçar. Mamãe checava com sua mão cada parte do meu corpo onde apalpava, fazendo com que eu gemesse de dor com seu toque.

— O que aconteceu com você minha filha? — Mamãe perguntou desesperada.

Ela já sabia do acidente, Josh havia contado como havia sido algumas vezes para que ela entendesse.

— Preciso avisá-los que precisam ir com calma com as notícias, não sufoquem ela tentando fazê-la lembrar de tudo porque isso pode dificultar ainda mais o processo de retomar as lembranças. — Explicou. — Além do mais, sem fortes emoções, está totalmente proibido.

— Quando ela poderá sair do hospital? — Papai perguntou curioso.

Eles não trocavam palavras com Josh, o que era estranho, porque se estávamos namorando provavelmente eles tinham uma relação.

— Iremos fazer alguns exames e se tudo estiver certo até o final da tarde você receberá alta. — O médico respondeu a ela.

Retiraram alguns acessos de mim, e me colocaram em uma cadeira de rodas e passei de sala em sala fazendo diversos exames. A cabeça, ouvidos, boca, nariz, e todo o meu corpo.

Estava impaciente aguardando os resultados, Josh mais uma vez estava ao meu lado, mas dessa vez mexia em seu celular.

— Desde quando eu estou namorando? — Perguntei mamãe que segurava minha mão.

— Nós moramos em Denver, não sabemos de tudo o que você faz em Nova York. — Contou. — Nós não o conhecíamos até chegarmos no hospital no dia seguinte do seu acidente e o encontrarmos.

Por sorte, o meu único exame que mostrou ainda um problema fora o da cabeça, mas que havia uma melhora desde que cheguei, com uma diminuição do hematoma no cérebro.

Mamãe e papai me ajudaram com minha mala e a trocar de roupa, por sorte eu tinha alguém ali que conhecia, era estranho demais precisar da ajuda de Josh e não ter intimidade o suficiente para pedir.

— Meus pais irão me levar, se você quiser ir para sua casa. — Avisei. — Sei que deve estar cansado por vir muito aqui.

— Tem certeza que não quer que eu vá junto? — Perguntou se oferecendo mais uma vez.

— Sim, vá descansar. — Pedi.

Josh deixou um pequeno beijo em meu lábio e se retirou do quarto, deixando-nos sozinhos para finalizar a arrumação das últimas coisas que faltavam.

Papai havia recebido uma ligação e fora para fora do quarto, nos avisando que nos esperaria na recepção do hospital.

Mamãe me deu seu braço de apoio e assim que pegamos as últimas receitas médicas, iniciamos o trajeto até a recepção.

Assim que chegamos lá, nos deparamos de longe com papai conversando com um homem de social que segurava uma mochila infantil, como se estivesse acabado de pegar uma criança na escola.

— Mamãe! Mamãe! — Senti meus pés cravarem o chão no instante que aqueles pequenos braços abraçaram minha perna e pediam por colo.

Olhei assustada para mamãe tentando encontrar uma resposta para aquele garotinho estar me chamando de mãe. Assim que levantei a cabeça, agora a procura de papai que assistia a cena de longe, encontrei os olhos marejados do desconhecido em mim.

Uma lágrima escorreu em seu rosto e rapidamente ele a secou. Assim que nossos olhos se cruzaram senti uma forte dor no peito, sem motivo algum.

— Eu tenho um filho? — Perguntei para mamãe sem reação.

— Sim. — Ela respondeu sorridente e se abaixou para ficar do tamanho do menino. — Querido, sua mamãe está um pouco dolorida e ainda não pode pegá-lo no colo, lembra?

— Mamãe? — O menino me chamou mais uma vez. — Você lembra de mim? Eu sou o Ethan.

Senti as lágrimas escorrerem pela minha bochecha, ao olhá-lo e ver todo o carinho e preocupação dele, sem contar nas expectativas referente a mim que estavam esboçados em seu olhar.

De volta ao NATAL 2Onde histórias criam vida. Descubra agora