21 - Acidente

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Andrew e eu havíamos combinado que sábado jantaríamos juntos em seu apartamento com Ethan. Havíamos combinado de uma vez e outra quando surgisse um tempo livre de fazermos algo nós três. Segundo a psicóloga em que havíamos levado Ethan recentemente indicada pela escola, estarmos juntos e realizar atividades fariam bem para o desenvolvimento dele, para entender que tínhamos um bom relacionamento.

— O que vamos comer hoje? — Ethan perguntou no banco de trás.

— Teremos que ver com seu pai, o que você está com vontade de comer? — Perguntei.

— Cachorro quente, pode ser? — Respondeu animado.

Não demorou muito para que eu chegasse no apartamento de Andrew, estávamos batendo em sua porta fazia cerca de cinco minutos e nada dele abrir. Estava começando a ficar incomodada com o fato de termos marcado o horário que viríamos e ele nem ao menos nos atendeu.

Estava distraída encostada em sua porta quando a da frente se abriu com risadas, evidenciando uma Cindy em um roupão abrindo a porta e Andrew saindo sem camisa, com ela na mão.

Encarei seu peito nu e logo após para seus olhos que me olharam como se acabara de o flagrar fazendo algo errado.

— Ethan, papai está ocupado, vamos voltar outro dia. — O peguei pela mão e caminhei para ir embora, mas fui impedida com uma mão segurando meu braço, e em seguida entrelaçou nossas mãos.

— Eu estava arrumando a resistência do chuveiro dela que queimou. — Explicou-se. — Vamos, entrem.

Cindy estava bastante sorridente, nos olhando ainda encostada no batente da porta como se estivesse realizada com o que acabara de acontecer.

Respirei fundo e segui até o sofá e me sentei lá. Ethan já foi retirando alguns brinquedos seus que estavam em seu quarto e colocando no chão da sala.

Andrew ainda não havia colocado sua camisa e fazia questão de andar de um lado para o outro, como se quisesse me provocar com sua pele à mostra.

— Você poderia colocar uma camisa, por favor? — Pedi nervosa, voltando meus olhos para meu celular como se estivesse olhando algo.

Ele se aproximou e sentou-se ao meu lado com um sorriso no rosto.

— Achei que você não se incomodaria. — Sussurrou perto demais. — É que está um pouco quente aqui.

— Imagino que você deve estar com muito calor depois de vir do apartamento da sua vizinha sem camisa. — Comentei com raiva. — Não é todo dia que a gente fica com uma mulher de roupão.

Andrew riu e pressionou minha coxa com sua mão, a apertando, fazendo com que automaticamente minha mão fosse de encontro a dele para retirá-la dali.

— Você está com ciúmes? — Perguntou perto do meu ouvido.

— Por que eu estaria com ciúmes de você? — Perguntei ironicamente.

— Ah, não sei. — Falou dando de ombros. — A forma como ficou quando me viu saindo do apartamento da Cindy.

Ignorei nossa conversa e passei a conversar com Ethan a respeito do cachorro quente que ele estava com vontade de comer. A única coisa que Andrew não tinha em seu apartamento era o pão, por conta disso, desceu buscá-lo em um mercado que ficava na esquina.

Enquanto ele não voltava, fiquei responsável por preparar o molho e a salsicha.

O restante da nossa noite fora tranquila, houve muita risada proporcionada por nosso filho que cada vez nos surpreendia mais com suas conversas e brincadeiras. Ficávamos admirados com sua inteligência e a forma que utilizava para se expressar, deixando o clima muito agradável.

Andrew parou de ser inconveniente e com seus joguinhos que mexiam com meu coração. Agora ele evitava olhares com segundas intenções e normalmente era só expressões e caretas relacionadas a Ethan.

Por perto da meia noite, decidi que já estava na hora de ir para casa. Havia colocado Ethan na cama, mesmo que fosse o meu sábado de ficar com ele, não tinha coragem de acordá-lo para irmos embora.

— Você tem certeza que não quer ficar? — Andrew perguntou mais uma vez ao abrir a porta para que eu saísse.

— Tenho certeza. — Respondi. — Ainda tenho algumas coisas para fazer. — Menti.

A verdade era que eu só queria ir embora para não ficar no mesmo ambiente que ele. Para evitar que certas emoções viessem a tona e eu fosse cometer alguma loucura.

— Ah, isso é verdade. — Ele falou ao coçar sua cabeça. — Esqueci que agora você tem um namorado.

— Boa noite Andrew. — Me despedi sem dar atenção para o que acabara de falar.

— Boa noite céu. — Mesmo que eu já estivesse longe dele, indo em direção ao elevador, fora possível escutá-lo se despedir.

Havia bebido duas taças de vinho pela metade e talvez não fosse uma boa escolha dirigir até em casa, mesmo que fosse uma curta distância. Mas eu estava atenta, e não me sentia cansada por conta do álcool.

Por azar do destino, quanto mais pressa você tem para chegar em casa e tomar um banho quente para dormir, mais sinais fechados você pega no caminho.

Assim que ficou verde, acelerei para atravessar a pista e fora quando senti o baque que fez meu carro voar na pista.

O meu corpo girava mas se mantinha no lugar por conta do cinto de segurança. Senti meu mundo girar diversas vezes, até que o carro parasse de cabeça para baixo.

Uma dor profunda se instalou em minha cabeça, e agora, um forte cheiro de sangue predominava o local. Tentei mexer as pernas mas elas não obedeciam meu cérebro, a dor era tanta que parecia que eu estava sendo esmagada.

Era possível sentir o quente do sangue escorrer pelo meu corpo, sentia-o principalmente da barriga para baixo. Sentia as lágrimas percorrerem minhas bochechas e mesmo que eu tentasse dizer algo ou pedir por socorro, não saía uma palavra sequer da minha boca.

De volta ao NATAL 2Onde histórias criam vida. Descubra agora