O corredor era largo, uma cor de azul bem clarinha estava pintada nas paredes fora do quarto. Caminhei de mãos dadas com Ethan, contando cerca de pelo menos vinte passos até onde papai estava e o moço assim que me viu aproximar, ajeitou a postura.— Vamos para casa? — Pedi para papai.
— Querida, você se lembra do Andrew? — Mamãe perguntou ao ir para o seu lado. — Ele é o pai do Ethan.
Encarei seus olhos na tentativa de recordar qualquer lembrança que me viesse a mente, mas não houvera sucesso. Balancei a cabeça negativamente, o que o fez encher os olhos de lágrimas mais uma vez e os fechar com força. Essa era com certeza uma das piores sensações que existia, fazer alguém sofrer sem ter o controle disso, por motivos que estavam além dos meus esforços. Era nítido que todos ali estavam sofrendo por minha causa.
— O importante é que você está aqui e está bem. — Falou por fim, depositando um beijo em minha bochecha.
Senti um arrepio percorrer meu corpo no instante que me beijou, deixando-me completamente sem graça pela atitude, encolhi-me automaticamente pela sua atitude, o que me fez desviar o olhar na mesma hora.
— Quer dizer, você estudou comigo no ensino médio. — Falei ao me recordar.
Muitas vozes estavam ecoando em minha cabeça. Ethan estava em cima de mim o tempo todo, tentando controlar as palavras, mas ao mesmo tempo me enchendo de perguntas e informações que a minha cabeça não estava conseguindo processar.
Como que eu havia feito um filho com o cara que eu mais detestava no ensino médio?
Papai estava preparando uma sopa seguindo a receita de nutrientes que o médico havia passado para auxiliar na minha recuperação. Mamãe estava terminando de brincar com Ethan e o levaria para tomar banho logo em seguida.
Eu estava me sentindo sufocada naquela casa. Não conseguia encarar os rostos me olhando, procurando e vigiando cada passo que eu dava. O pior era não lembrar de Ethan, e vê-lo sentir tanto a minha falta e a necessidade de toda a minha atenção acabava comigo.
Quando surgiu uma brecha, sai e fui até a praça que havia em frente ao prédio — como havia reparado que tinha quando viemos do hospital —, do outro lado da rua para ser mais precisa. Muitas pessoas passavam caminhando por ela, mas poucas ficavam por ali.
Naquele momento eu só desejava estar em Denver, e poder fugir para o lago, lá era o meu lugar de paz. Era o lugar que eu conseguia controlar a respiração e tomar fôlego.
Me permiti chorar sem medo e vergonha do que os outros iriam pensar ao me ver naquele estado. Era muita informação para meu primeiro dia de recuperação, como se eu não conseguisse respirar; como se algo estivesse sugando a pouca energia que me restava.
Senti um ombro tocar o meu e quando vi, Andrew havia se sentado ao meu lado no banco e passado um de seus braços por trás do meu ombro, fazendo com que minha cabeça fosse de encontro ao dele. Suspirei com seu toque e tentei controlar o choro.
— Quero ficar sozinha, por favor. — Pedi.
— Você não precisa sofrer sozinha. — Afirmou.
— É que dói tanto ver Ethan daquele jeito e não conseguir me lembrar de nada. — Desabafei entre soluços.
Senti novamente seu braço se ajustar ainda mais apertado, dando-me certa sensação de segurança.
— Eu entendo que deve estar uma confusão na sua cabeça, mas não se culpe por não lembrar dele. — Pediu.
— Me ajuda a lembrar? Me ajuda a lembrar do meu filho, por favor? — Insisti.
Andrew se levantou e tocou a minha mão, fazendo com que eu me levantasse logo em seguida. Fomos caminhando assim até seu carro, onde abriu a porta do passageiro para que eu entrasse. Não sabia para onde estava indo, mas parte de mim não parecia se importar com aquela atitude.
— Vou te emprestar uma coisa que você me deu no natal. — Contou ao chegarmos em seu apartamento.
Estava curiosa para saber qual presente eu havia dado a ele. Para mim, ainda se tratava de um desconhecido e por mais que ele dissesse várias coisas que faziam parte da minha vida agora, nada parecia se encaixar em um contexto dentro da minha cabeça.
Aconcheguei-me em seu sofá, aguardando-o retornar com o presente. Enquanto isso, passei meus olhos pelo ambiente em que eu estava, haviam alguns quadros no rack da sua televisão com as fotos de Ethan, algumas de Andrew, e uma em especial que nós três estávamos sorrindo.
Uma vez e outra tentava fechar os olhos e lembrar, como se minha atitude fora fazer eu me lembrar de tudo em um passe de mágica.
— Esse álbum você me deu de natal, são todos os momentos seus e de Ethan desde a época em que você esteve grávida. — Contou, entregando-me em mãos.
Passei a folhear cada página como se fosse a primeira vez que eu estivesse vendo tudo, afinal, essa era a sensação do momento, mesmo sabendo que eu houvera montado em meu passado.
Andrew tentava sem sucesso limpar as lágrimas que insistiam em cair dos meus olhos a cada nova foto que eu visse. O único problema em chorar era o fato de que talvez minhas lágrimas pudessem estragar as páginas e fotos.
— Por que você não aparece em nenhuma foto aqui? — Perguntei curiosa. — Por que não tem fotos suas com ele pequeno?
Ele sorriu ao meu lado como se estivesse sentindo o sabor de recordar toda a história, como se não se cansasse de contá-la.
— É uma história engraçada agora. — Falou rindo. — Você quer que eu a conte desde o início?
Apenas balancei a cabeça positivamente, afinal, assim que chegamos em seu apartamento, Andrew havia ligado para mamãe avisando que estava tudo bem comigo e eu só estava tendo uma crise relacionada a minha nova vida, para que eles não se preocupassem atoa.
VOCÊ ESTÁ LENDO
De volta ao NATAL 2
Romance"Na vida, há dois momentos muito distintos: o antes e o depois de um amor verdadeiro."