Morri... Sem brinks.

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Exames, exames, exames, mais exames... Exames que parecem não acabar nunca. Eu nem sabia que existiam tantos exames. Juro, eu devo ter feito exame até para peste bulbônica.

E nem são dolorosos, só chatos mesmo. Bem, pelo menos a maioria.

Sabe aquele momento na vida quando você não tem muito tempo de vida e, apesar de tudo o que você quer fazer é relaxar e curtir os últimos meses que te restam, a pessoa que você mais ama no mundo não larga do seu pé?

Eu espero que vocês não saibam, mas deixa eu te falar como é: é uma droga.

A única coisa que eu queria fazer era comprar o enxoval de meu filhote (verde, é claro, porque é azul é muito comum) e fazer como aqueles filmes que a pessoa que morre escreve várias cartas para serem lidas anualmente pelas vivas, mas Zast tinha outros planos, como ele sempre tem. Sintonia não é uma palavra-chave de nosso relacionamento.

O plano de Zast era me manter permanentemente na cama da enfermaria fazendo incontáveis exames. Deitar na banheira congelante, correr na esteira, ter uma câmera enfiada pela minha goela e uma agulha espetada em minha medula. Eu fiz de tudo, e o resultado continuava o mesmo. Ninguém sabia o que havia de errado comigo.

O pior de tudo eram os olhares de pena dos meus amigos. Correção: Olhares de pena de todos os lobos de alcateia. Eles eram para olhar para mim e quer ser como eu, e não sentirem pena de mim. Eu nunca quis isso. Mas Zast queria que todos os lobos da alcateia soubessem da minha condição, para se sentirem parte da família, o que de certa forma eles eram.

A melhor parte? Bem, a melhor parte era a barriga que já era visível. Eu já estava grávida a 3 meses, o que significava que faltavam somente um mês para o parto. Eu estava com medo? Por Zast? Sim. Por meu filhote? Sim. Por mim? Não. Não tem lógica ter medo da morte.

-Vape, cade você? - Zast me perguntou pelo Link.

No momento eu estava vomitando sentada no chão do banheiro apoiada na privada. E pensando sobre o adorável demônio em minha barriga. Me fazer vomitar uma vez ou duas tudo bem, mas todo dia? Totalmente desnecessário.

Resolvi não responder e, ao invés disso, vomitei o resto do café-da-manhã. Que jeito de começar o dia.

Não que seja uma novidade também, já que vomitar tudo o que eu comia já era rotina. Felizmente, não é preciso me dar sangue para me impedir de desnutrir como aconteceu com minha amiga Bella. Eu me nutria por soro. Mas mesmo assim, a trouxa aqui, tentava comer todas as manhãs, tardes e noites, só para ver se eu não vomitava daquela vez.

Para não dizer que sou totalmente trouxa eu consegui deixar no meu estômago o almoço uma vez. Grande merda, eu sei.

Se vocês estão imaginando minha aparência horrível, eu asseguro vocês de que Zast está pior.

-Vape, você tá bem? - Insistiu novamente.

-Jóinha. - Respondi deitando no chão gelado.

Não deu nem dois minutos e comecei a ouvir batidas na porta. Aposto 2 reais que é Zast.

-Vape, eu sei que você está aqui. Eu estou ouvindo seu batimento cardíaco. - E... Bingo.

-Vai embora. - Murmurei colocando o braço em cima de meus olhos e os fechando olhos, pressentindo a dor de cabeça que viria.

-Ou você abre ou eu arrombo. - Ameaçou. E como sou uma pessoa sensata, fiquei no chão. - Se afasta da porta. - Avisou depois de uns 5 segundos. Como não estava diretamente em frente da porta não me mexi. Não deu 2 segundos que a porta saiu voando.

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