Já fazia uma semana desde o episódio com Verndari. Eu não vi Zast depois disso, pois ele foi resolver alguns negócios com alguma alcatéia do outro lado do país com Addany. Querem saber da novidade? Meu Alpha, com medo de que eu sentisse falta de ter um guarda-costa como tinha antes em Bezstrashen, resignou um guarda-costas só para mim. Um fofo! Como se eu não fosse responsável o bastante para me virar sozinha. De novo, um Alpha me subestima.
Passei a semana entre jogar xadrez com Verndari, que era surpreendente bom, conversar com On e Rock e ficar no celular com Amika e meu irmão. Sem o Alpha malvadão para me impedir, eu podia usar o telefone à vontade.
Mesmo assim, não me sentia totalmente feliz. Na verdade, me sentia sufocada. Como se estivesse faltando ar em meus pulmões. Mas preferia quebrar o cóccix outra vez do que demonstrar isso para alguém. Eu queria que se referissem a mim como forte e corajosa, não sofrida e fracote. Então só colocava meu sorriso e desfilava com ele pelo território. Finalmente, depois de muita insistência, os lobos pararam de abaixar a cabeça em sinal de reverência quando passava.
-V!! - Gritou Rock de longe, me tirando de meus desvaneios.
-Hum-Oi! - E dei outro sorriso.
-Nossos machos estão voltandooooo!
-Quanto tempo?
-Uns 10 segundos.
-Como você..? -Comecei a perguntar, perplexa. 9 segundos...
-Vi pela janela. - E deu de ombros. 7 segundos.. - Como é que eu to?
-Hum?
-To bonita? - perguntou nervosa.
-Ta arrasando. - E dei o primeiro sorriso verdadeiro em uma semana. Não foi por causa do vestido florido e batom vermelho que ela usava. 5 segundos..
-Você também. - disse ela, ainda nervosa.Olhei para a calça de moletom e a blusa da Abercrombie que estava vestindo. Rá. Devo estar a arrasando sim. Num universo paralelo onde Verndari consegue passar um dia inteiro em tropeçar, quebrar algo ou esbarrar em alguém. 2 segundos...
Addany abriu a porta e logo foi agarrado por Rock. Vê-los assim me fez imaginar quando eu e Zast teríamos a mesma intimidade. Quando Zast passou pela porta e me viu, ele deu o sorrisinho mais lindo da vida. Não pude deixar de sorrir também. Isto é, até ver a menina amarrada que outro lobo da Canavar que também tinha ido na tal viagem segurava.
-Quem é ela? Porque está presa? - perguntei para Zast, espantada.
-Ela é a filhote do Alpha da alcatéia que vem metendo o terror nas outras. Pegamos ela para negociar paz. - Explicou Zast, calmamente.
-Negociar paz sequestrando a filhote? O que ela tem a ver com as ações do pai?
-Vapper, não se trata disso mas sim..
-Ela tem o quê? Sete anos? - Interrompi. A garota assentiu com a cabeça. - Sete anos. No outro lado do país. Longe da família e alcatéia.
-Não tínhamos escolha, Luna. - Addany começou. Ele NÃO me chamou de Luna. - Okrunt estava ficando fora de controle e.. - Justificou Addany, o que só me deixou com mais raiva.
-Vocês acham que, ao raptar a filhote dele, ele vai ficar mais calmo? Ele vai é surtar! - sem perceber, eu já tinha aumentado o tom. - Vai sequestrar e torturar todos das outras alcatéias até ter sua filhote de volta. Será que não percebem quão errado isso é?
-Vapper - falou com tom grave - Não é seu dever questionar minhas ações. E mais: não tínhamos mais o que fazer. Se ele torturar os outros lobos, simplesmente não vai ter a filha de volta. Não fomos nós que decidimos sequestrá-la, mas fizemos isso porque devíamos um favor a uma das alcatéias abusadas.
-Onde ela vai ficar? - desisti de discutir. Não ia levar a nada. Agora já estava feito. Ela já tinha sido raptada. Agora era zelar pelo seu conforto.
-Com Flin- Começou a responder Zast.
-Ela vai ficar no meu quarto - O interrompi.
-O quê?
-Ela.Vai.Ficar.No.Meu.Quarto. Não tem como ser mais clara que isso.
-E se ela te machucar enquanto dorme por vingança?
-Então vai ser sua culpa porque você foi quem a sequestrou. - Falei sem pensar. - Vamos? - Estendi as mãos para menina e começamos a andar em direção a meu quarto. Todos, Zast, o lobo, Rock e Addany, ficaram na sala olhando para mim perplexos. Talvez porque iria dormir no mesmo quarto que a prisioneira, talvez porque desafiei o Alpha e meu macho. Não importa.
- Qual é o seu nome? - perguntei a menina.
-Suna - Respondeu tímida.
-Eu sou Vapper. - Percebi que a menina ia começar a chorar. Parei no meio das escadas e olhei em seu rosto. - Ei, eu sei como se sente. Longe da família, amigos.. Eu sei como é. Essa não é minha alcatéia original.
-Não? - Perguntou perplexa. Ri baixinho.
-Não. - E comecei a desamarrar as cordas de seu punho. - Sou tão nova como você aqui. Cheguei a uma semana atrás para ficar com meu macho. - Peguei a mão dela e começamos a caminhar.
-E você sente saudades de seus pais?
-Sinto de meu irmão, sim. Meus pais morreram quando era muito pequena, então não me lembro deles. Sinto saudade da ideia deles, isso sim.
-Pois eu não sinto falta de meu pai. Sinto falta da minha imã.
-Sempre quis ter uma irmã. Como é? - continuei a puxar papo com ela até chegarmos no quarto.
-Wow. Seu quarto é lindio!
-Você vai dormir na cama. Vou pedir para algum lobo trazer um colchão para mim. - Depois que falei, ela desesperadamente agarrou meu braço.
-Por favor, dorme comigo? - E me olhou com cara de cachorrinho faminto. Dizer não não era uma opção.
-Claro. Mas não tem nada com o que se preocupar. Ninguém vai te machucar aqui. Eu não vou deixar que te machuquem.
Ela assentiu, perdida em seus próprios pensamentos. Emprestei a ela uma de minhas blusas mais folgadas e compridas, que ficaram como um vestido nela. Era tão fofa com seus cabelos morenos e ondulados e seus olhos azuis...
Quando nos deitamos, ela me cochicou boa noite e dormiu. Virei para o mesmo lado, de modo que via suas costas e dormi também.
Acordei sendo arrastada pela porta. Minha visão estava turva e eu estava zonza e com uma dor de cabeça insuportável. Droga. Devem ter me envenenado. Estou sendo sequestrada. Tento gritar, mas não consigo mexer minha boca.
De repente, me dou conta de uma coisa. Suna. E eu disse que iria protegê-la. O mais frustrante é que não podia fazer nada. Literalmente nada. Tentei virar a cabeça para tentar achá-la, mas os músculos não pareciam responder a qualquer comando o meu cérebro. A única coisa que podia fazer era ver meu quarto se distanciando cada vez mais.
-hdtvcyv - Consegui dizer depois de sairmos da mansão. Sinal de que já estava passando o efeito da droga.
-Herzelos, você disse alguma coisa? - perguntou o homem que estava me carregando.
-Eu, não. Temos que apressar antes que Alpha Zast descubra que a Luninha dele foi sequestrada. - respondeu um homem no meu lado esquerdo.
-Tive uma ideia. Que tal deixarmos um bilhete dizendo que elas foram viajar? - Elas. Confirmação de que Suna também fora sequestrada.
-Não seja estúpido, Surtse. Eles vão sentir nosso cheiro assim que acordarem. E voltar lá só aumentaria as chances de sermos pegos. Okrutno não nos pagou para deixar bilhetinhos e correr o dobro do risco, mas sim para resgatar a filhote dele de volta e pegar a Lunazinha como punição. - LUNAZINHA? ELE NÃO SABE DE QUEM ESTÁ FALANDO? EU SOU A DIVA SUPREMA DAS LUNAS! ou futuras Lunas. MAS QUEM LIGA? SE EU TIVESSE COM MEUS MOVIMENTOS AGORA, DAVA UNS GOLPES DE KUNG FU NA FUÇA DESSA HIENA.
Andaram em silencioso até saírem do território. Depois caíram na gargalhada.
-Canavar deveria se envergonhar da segurança da alcateia. Nem a própria Luna tem segurança direito. - Comentou Herzelos, enquanto chorava de rir. Que raiva desse idiota. Percebi que conseguia mover a cabeça.
-Já estamos chegando? - Consegui mexer meus dedos.
-Ainda falta uns 3 km. - Consegui mexer os braços. Hora de atacar.
Dei um belo soco na cabeça de Surtse. Ele me deixou cair. Agora eles iriam ver com quem se meteram... Não conseguia mexer as pernas. Que beleza. Esqueci deste pequeno detalhe.
-Olhe quem nos deu o prazer de sua companhia. Boa noite, cinderela. - E deu uma risada à lá Malévola.
A última coisa que me lembro foi uma bota em cima de minha cabeça.
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Vapper
WerewolfMeu maior sonho: Ser livre. Não, eu não sou uma prisioneira de um cara malvadão que me maltrata e me deixa depressiva. Meu problema é o idiota do meu irmão que também é o Alpha que nunca deixou eu sair de nosso território. "É muito perigoso" ele diz...