A cirurgia

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                                 4.
                          A cirurgia

“ Tu és eternamente responsável por aquilo que cativas”
                                                                                                               – O pequeno príncipe.

– Lility –

Já sentiu que algo está errado, mas você não sabe o que? Ou que tudo está certo e você é a errada? Eu me sentia assim o tempo todo, principal na fase em que eu morava com meus pais, a opressão. Sempre tive que me manter na linha até os 18 anos, que foi quando tomei minha primeira decisão, abandonar a empresa da família e entrar na faculdade de medicina, lembro como se fosse ontem, os únicos que que me apoiaram foram minha avó e a América. Meu pai ficou um ano sem falar comigo e minha mãe, bem, ela não falou nada, na real acho que nem ligou. – Anos atrás, quando meu avô ainda era vivo, eu amava ir pro Brasil visitá-los, vovô era um renomado estilista, vovó sempre me chamava pra ficar com eles nas férias de verão lá em RJ, eles me levam para desfiles de moda, meu vô amava me vestir com seus modelos, ele falava:  — Oh, meu docinho pareces uma orquídea desabrochando. Mas, que tamanha graciosidade do vovô! – risadas.
E assim me girava no ar e tiramos muito, todo dia era alegria, mas um dia tudo virou escuridão , aquelas doces risadas e aquele brilho se foi... A última vez que vi meu avô foi no hospital e nossa última conversa, jamais esquecerei.
— Vovô, o senhor vai ficar bom e nós vamos pra casa né? – falo segurando sua mão.
— Bem meu docinho, é que o vovô vai ter que fazer uma viagem até as estrelas, mas sempre que você se sentir só ou quiser lembrar de mim é só olhar para o céu noturno e lá estarei, sorrindo pra você. – disse com um sorriso fraco.
— mas, como eu vou saber que o senhor está me olhando e sorrindo pra mim? E quando o senhor vai voltar pra mim e a vovó?
— Então docinho, é que a viagem vai demorar alguns anos, a vovó vai ficar com você por u...tempo. Para saber que estou com você, não a resposta, porque eu sempre estarei e mesmo que você não sinta, eu vou estar... – disse com a voz falha.
— Meu amor, eu sempre vou te amar, quero que se cuide bem, assim como o vovô cuidava das orquídeas. É quero pedir que fique com a nossa flor e cuide bem dela, tudo bem? – Uma lágrima descia de seus olhos.
— Tá vô, eu vou cuidar de nossa Orquídea azul!
— Docinho canta para mim, a nossa música? – disse com os olhos fechando, enquanto segurava minha mão.

— (Me desculpe por não poder chegar até você...)
I’m sorry that I couldn’t get to you
( qualquer lugar, eu teria seguido você)
Anywhere, I would’ve followed you
(Diga alguma coisa, eu estou desistindo de você)
Sway something, I’m giving up on you
( eu vou engolir meu orgulho)
And I will swallow my pride...

Quando eu estava cantando lembro de ver meu avô abrir os olhos uma última vez e me puxar em um abraço, quando eu estava no último verso da música ouvi um barulho agudo das máquinas que estavam ligadas a ele, suas mãos ficaram geladas e seus olhos se fecharam, eu não entendia o que estava acontecendo pois era muito criança, lembro das lágrimas nos olhos da minha avó e sua voz fragilizada dizendo que agora eu poderia vê-lo todas as noites no céu. Quando fiz meus 15 anos minha avó me disse que meu avô morreu por causa do câncer, ele lutou durante anos, mas com o tempo os remédios pararam de fazer efeito e por isso, naquela época fui visitá-los antes das férias, pois ele queria muito me ver, mas não iria aguentar até o verão da Rússia que era bem diferente do Brasil. – acordo dos meus pensamentos com uma mensagem no celular do hospital. – estava em transe por causa da orquídea a minha frente, sim ainda a tenho e está mais viva do que nunca. Eu estava organizando minhas coisas no apartamento, confesso que estava com preguiça, mas preciso continuar... Quando termino de organizar tudo lembro da carta da minha avó, a pego e penso em abrir, mas ela pediu para abrir apenas um dia antes do meu aniversário. Desisto da carta guardando-a dentro da caveira de meu quarto, tomo um banho quente decido dormir. Quando acordo era quase noite, decido ir para a academia dar uns socos e fazer uma esteira, vou andando atém o local, a cidade é linda e um parque arborizado me chama a atenção, aqui tem muito ar puro, mas quanto mais me aproximo da academia, maior é o odor do cigarro, para onde viro os olhos vejo pessoas fumando.
Entro na academia e vou em direção da esteira, faço um aquecimento e logo sigo para o ringe de luta, alguns caras que lá lutavam pararam ao me ver e ficaram me encarando como se nunca tivessem visto uma mulher com luvas de box na mão. – oh merda, só o que faltava, babacas que nunca viram uma mulher que prática box. Começo a socar o saco de pancadas, em movimentos alternados, já estava soando bastante e os caras continuavam me observando. – sendo bem sincera, estava cansada desses malditos olhares e quando eu ia falar algo pra eles, meu celular começou a tocar, pego-o e atendo.

— Alô?
— signora, por favor precisamos que venha de imediato para o hospital, descobrimos o nome da menina que chegou ontem no hospital junto dos dois homens feridos e ela precisa de uma cirurgia de emergência, já a mandamos para o pré-operatório, mas o responsável não quer assinar o termo da cirurgia, quer tirá-la daqui mesmo tendo avisos de que é arriscado! Doutora, por favor, precisamos da senhora, ela precisa da Signora! – diz a enfermeira e desligo a chamada, pego minhas coisas, saio correndo e chamo um táxi.

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Notas

Nossa Lility é foda, amo a personalidade dela, uma mulher forte e empoderada, que não deixa nada passar sem retorno. Espero que Ferhat não seja um babaca, de babaca já basta o irmão. Espero que estejam gostando da fanfic, não esqueçam do ❤️ e de comentar. Kisses.

In ItáliaOnde histórias criam vida. Descubra agora