💍 12 » Sozinha

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│🥀 DULCE

Dul ― Não! Não pode ser verdade. (Minha voz quase nem sai e um nó se forma em minha garganta)

A minha mãe não me abandonou. Ela não fez isso. ─ Vou repetindo mentalmente. 

Fernando ― Confesso que eu preferia que ela estivesse morta a ter nos abandonado. Sofri muito e você também sofreu. Lembra que eu te trouxe pra casa da sua avó no dia seguinte do seu aniversário?  

Afirmo com a cabeça, mas lembro vagamente, pois eu tinha apenas doze anos.

F ― Usei o tempo que você ficou aqui pra resolver tudo por lá da melhor forma. Eu não poderia te contar o que realmente tinha acontecido. Você era só uma criança e não ia entender. 

D ― Aquelas cinzas que nós jogamos na ponte... 

F ― Eram cinzas de madeira. Geralmente utilizam como fertilizante vegetal e eu comprei um pouco. Depois que você chegou de viagem, te expliquei tudo mais detalhadamente e fomos até a ponte de Manhattan pra jogarmos as cinzas no mar.

D ― Foi tudo falso! Tudo aquilo! (Murmuro com voz chorosa) 

F ― Mas acabou sendo uma despedida mesmo. Blanca havia nos deixado. Nem pena da própria filha ela teve e sequer cogitou levá-la junto. 

Agora tá explicado por que minha mãe não me levou com ela no dia em que foi embora. Ela não me queria. Não queria que eu fosse junto com ela, pois escolheu o seu amante. Eu não fui desejada desde o início. Fui apenas usada para obrigar um homem a se casar e assumir a paternidade. 

D ― Por que você tá me contando a verdade agora? (Limpo as novas lágrimas que surgiram)

F ― Porque sua mãe me procurou. Ela tá aqui na cidade e me pediu ajuda pra falar com você.

D ― O-o q-que? (Minhas pernas bambeiam e as mãos ficam trêmulas)

F ― Blanca está doente e tem pouco tempo de vida. Eu não queria que vocês duas se encontrassem. Ela já estava morta pra você, então pra que te fazer sofrer outra vez? Acabei dizendo a ela que eu tinha te contado a verdade sobre o amante e sobre o abandono. 

D ― Pra ela pensar que eu tenho raiva dela, não é? 

F ― Sim. Ela tem receio de se aproximar. Mas se você quiser vê-la, é um direito seu. Por isso estou te contando tudo agora. Não posso mais te impedir e interferir na sua escolha. 

D ― Quero ouvir da boca dela tudo isso que você acabou de me contar. (Faço uma breve pausa pra tomar o fôlego) ― Há quanto tempo minha mãe está aqui?

F ― Há uns quatro meses. Ela só não me procurou antes porque estava muito mal. 

D ― O que ela tem? 

F ― Câncer de mama. O tumor se disseminou para outras partes do corpo e ela não vai conseguir sair dessa. (Ele abaixa o olhar)

D ― Você está... triste? 

F ― Sua mãe foi a única mulher que eu amei, Dulce. Não tem como ficar feliz com a desgraça dela. Mas provavelmente deve estar pagando por tudo o que fez. Assim como eu estou. (Entrelaça os dedos das mãos)

D ― A vovó sabia dessa história toda? 

F ― Não. Nem ela e nem o seu avô. (Balança a cabeça) ― Eu e meu pai já estávamos brigados na época porque ele descobriu que perdi a empresa. Ficamos um bom tempo sem nos falar. 

D ― Você preferiu mentir pra todos nós? Preferiu carregar a culpa por uma coisa que sequer aconteceu? (Minha voz sai embargada) 

F ― Como eu disse, eu só queria te proteger, princesa. A qualquer custo. (Ele se rende ao choro) ― Foi a única vez que te coloquei acima de mim mesmo.

Dulce Romance│VondyOnde histórias criam vida. Descubra agora