Capítulo 20 - Carta para Tori

2K 213 56
                                    

Apenas fiquei observando, assim que percebi que ela havia sumido completamente da minha visão, me desmanchei em lágrimas, entrei no carro e segui em direção a minha casa.

Jade 

Domingo amanheceu sem nenhuma graça, noite passada após a briga e o término com Tori, cheguei em casa e busquei refúgio no alcool. Acho engraçado que quando rompemos com alguém, cada mínima coisa te faz lembrar daquela pessoa e quando você busca interromper os pensamentos e sofrimento dormindo, acaba sonhando com aquele ser que tanto te faz sofrer. 

Não senti o mínimo de vontade de me levantar da cama, olhei rapidamente o celular, havia inúmeras mensagens, mas nenhuma da pessoa por quem eu estava na fossa. Passei boa parte do dia curtindo a minha dor, dizem que é bom. Coloquei músicas que me lembravam ela e chorei.  Todas ás vezes que chegava notificação, eu pegava o celular esperançosa, mas não, não era ela. Aquele silêncio estava me matando por dentro.

Sofrer de coração partido é algo que muitos buscam compreender, outros nem se quer se colocam no lugar e a grande maioria não tem paciência para lidar com o assunto. A verdade é que só quem está sofrendo sabe o verdadeiro peso daquilo. Acontece que o fim de qualquer relacionamento, seja ele qual for, por mais necessário que seja, envolve alguns sentimentos ruins. Perder alguém nunca é um processo simples. Não é fácil e nem indolor, muito pelo contrário, é muito doloroso. Perder alguém gera uma série de sensações de difícil digestão e lidar com essa azia exige alguma maturidade, e sim, eu sei que me falta muita maturidade em vários quesitos. Lidar com um término exige honestidade com os próprios sentimentos e um bom bocado de autoconhecimento para saber dizer não.

Me sinto mal, pois sei que estraguei tudo. Fiz ela se apaixonar por mim, sustentei nosso lance até o momento em que ela me pressionou. Ela não está errada, foi bem sincera quanto aos seus sentimentos e o que de fato queria, já eu... bem, eu não fui totalmente sincera. Carrego tantos traumas e bloqueios emocionais dos quais ninguem sabe sobre. No fundo eu queria ter pedido ela em namoro, mas deixei que meus demônios falassem por mim. 

Com o Beck foi diferente, nosso relacionamento começou muito cedo, ambos imaturos que só queriam alguém para chamar de namorado e namorada. Foi um relacionamento muito conturbado, machucou demais e eu não conseguia me ver sem ele. Ta aí a tal da dependência emocional. Quando terminamos de vez, foi doloroso também, não tanto quanto agora, mas marcou demais. Não havia mais respeito e muito menos companherismo. Guardei meus sentimentos para mim, como sempre faço e acabei me tornando um pouco mais resistente do que já era.

Quando Tori me pressionou sobre termos um relacionamento, eu tive muito medo e tentei fugir. Mudei de assunto todas ás vezes em que ela tentava conversar, até não conseguir mais adiar o evento. Não me preparei para encara-la, não pensei no que falar, nem da forma como agir, talvez se eu tivesse sido honesta, as coisa estariam diferentes. Em outra história, talvez déssemos certo... O que devo fazer agora? ficar deitada nessa cama a semana inteira seria uma boa opção se eu não estivesse comprometida com o filme. Ou eu poderia, sei lá, fingir um atestado falso. Muitas coisas se passaram pela minha cabeça naquele dia.

Haviam incontáveis ligações e mensagens da Cat, eu sei, ela estava preocupada e se eu não respondesse ela apareceria em casa.

~ Toc Toc~

Ops, tarde demais. 

- Jade abre a porta, por favor, estou preocupada com você - Li pela tela de bloqueio a mensagem de Cat.

Resolvi não responder, o que não adiantou muito, já que a garota sabe onde está localizada a chave reserva.

- Achou que eu não viria atrás de você? - Falou enquanto entrava no meu quarto escuro. Andou até a janela e abriu fazendo com que o sol iluminasse todo o ambiente.

Usei o cobertor para cobrir a minha cabeça e permaneci em silêncio.

- Eu trouxe comida pra você, foi meu irmão quem fez - Falou Cat. Já irritada com o silêncio, ela puxou a coberta até que pudesse me encarar. 

- Eu não quero falar com ninguém hoje, me deixa em paz - Falei finalmente

- Eu sei que vocês brigaram, por isso eu vim aqui, você não pode ficar o dia todo deitada nesse quarto escuro como se o mundo tivesse acabado, Jade. 

- Eu estraguei tudo

- E você acha que ficar deitada aqui vai fazer as coisas melhorarem? - Questionou - Olha, Jade, eu acho que você deveria conversar com ela, mas antes você precisa decidir o que realmente quer - Concluiu

- Ela não quer mais falar comigo

- Como sabe disso?

- Ela falou... Ontem a noite, ela falou muitas coisas na minha cara que machucaram e uma delas foi que não queria nunca mais me ver de novo.

- E as coisas que você falou pra ela será que não a machucaram também? - Fiquei em silêncio com a sua pergunta, eu sei que fui rude. - Quero dizer, ela também está muito triste, porque ela gosta de você e realmente estava pronta para assumir esse relacionamento. - Finalizou

- Como você sabe que ela gosta de mim?

- André... Digamos que ele joga dos dois lados - Sorriu

- E o que devo fazer?

- Seja franca, fale sobre seus medos e tudo o que te assombra. Se você acha que ainda não está pronta, fala pra ela e se desculpe pela situação, mas se dentro de você há alguma vontade de ficar com ela, expões tudo o que sente, é a melhor forma de vocês se acertarem.

- Mas e os erros? Como irei repara-los?

- A vida é feita de tentativas, os erros devem ser esquecidos e usados para o nosso aprendizado. Se já erramos tanto, provavelmente, teremos muito mais chances de acertar, mas você tem que querer e prometer pra você mesma que nunca mais esconderá seus sentimentos por alguém, pois eu sei que isso te sufoca.

- De qual revista você leu essas coisas? - Falei e sorri sem mostrar os dentes.

- Por que você disse isso? Parece que eu li em algum lugar? - Perguntou se assustando e voltou a ser a Cat de sempre. 

- Ta bom, eu vou falar tudo o que sinto pra ela, mas não consigo falar pessoalmente

- Então deixa uma carta

- Carta? isso não é muito antigo?

- Sim e também é muito mais verdadeiro e significativo do que uma mensagem de texto. - Concluiu.

Consenti com a cabeça. Passamos uma tarde agradável, Cat me fazia bem e dava bons conselhos quando queria. Quando ela foi embora, eu me sentei e comecei a escrever a carta.

Querida, Tori, 

Eu queria conseguir explicar tudo o que eu estou sentindo, mas eu não consigo encontrar as palavras corretas. Sinto que se eu não falar, vou acabar explodindo e todos ao meu redor vão sofrer com a minha amarga presença. Venho sentindo um aperto no peito desde a nossa última discussão. Eu não quero que acabe, não quero desistir! Eu nunca pensei que eu sentiria isso que eu estou sentindo, quanto mais eu tento não pensar, mais eu penso em você, mas outra vez eu vesti minha armadura e te feri com minhas inseguranças. Menti pra você quando eu disse que não estava pronta, dizer isso era mais fácil do que assumir que eu estava apavorada com a ideia de que eu realmente poderia dar certo e ser feliz com alguém. Eu falhei e te machuquei, de novo. Quero te pedir desculpas, Victoria, pelos atos e palavras dolorosas que um dia eu te falei ou fiz. Se dentro de você ainda há alguma esperança para nós, mesmo que seja 1%, por favor me dê mais uma chance. A chance de te mostrar que posso te fazer feliz e que sou uma pessoa em constante evolução. Mas se não acontecer, se não for pra ser, de qualquer forma, obrigada por ser uma das minhas lembranças mais bonita. 

Com carinho, Jade.

Jori - Quando tudo começou (Where it all began)Onde histórias criam vida. Descubra agora