perfeitamente normal

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Os Dursleys, do número quatro, Rua dos Alfeneiros, orgulhavam-se de dizer que eram perfeitamente normais, muito obrigado. A rotina deles era bastante simples e repetitiva, como as rotinas normais sempre deveriam ser, e eles foram a última família a se envolver em qualquer escândalo.

Válter Dursley, o chefe da casa, sai todas as manhãs para o trabalho, e Petúnia Dursley, sua esposa, ajeita sua gravata e lhe dá um beijo de despedida todas as manhãs, perto do portão. Ela tem todas as refeições preparadas para ele e fala com seus vizinhos todos os dias. Eles têm um menino chamado Dudley, que eles amam muito, porque ele é o menino perfeito. Completamente normal. É a vida perfeita, pelos padrões de qualquer pessoa, e eles deixam os outros com inveja.

Petúnia conhece todos os segredos de seus vizinhos. Ela é uma fofoqueira, mas guarda alguns desses segredos para si mesma, para que tenha uma arma se chegar a hora.

Mas, como qualquer outra pessoa, ela tem seus próprios segredos. Coisas que ela guardou para si mesma.

Onze anos atrás, ela encontrou um bebê em sua porta, com uma carta presa à sua cesta. A carta falava sobre sua irmã – uma pessoa em quem Petúnia não pensava há séculos – e sua morte prematura. Ela e seu marido foram assassinados, e este bebê era seu único filho. Harry Potter.

Aparentemente, uma guerra estava acontecendo não muito longe da Rua dos Alfeneiros e da vida normal que ela e seu marido viviam. Uma guerra que não foi travada com armas ou mísseis, mas uma que foi travada com magia. Havia um lunático - um Lorde das Trevas, a carta o chamava - que queria dominar a Grã-Bretanha e os Potters foram assassinados por esse bruxo.

E, por alguma razão, quando o bruxo tentou matar o bebê, ele foi morto.

Então, esse bebê que ela estava olhando era na verdade o Salvador da Luz. Aquele que estava destinado a matar esse Lorde das Trevas, esse lunático. E ele precisaria ser protegido. Então, a carta pedia que ela, como dever para com sua irmã, protegesse seu bebê daquele bruxo.

Ela se lembra de olhar para o bebê por alguns minutos. Harry tinha uma cicatriz na testa, mas parecia completamente imperturbável. Ela se perguntou se ele sabia o que estava acontecendo quando seus pais morreram, ou se ele estava dormindo. Ele dormia tranquilo, mais quieto que o Dudley dela, que roncava e fazia barulhos.

Ele é adorável, mas não tão adorável quanto seu Dudley, e ele a lembra vagamente de sua irmã.

Lily Potter.

Petúnia passou a vida inteira odiando coisas bizarras. Ela não gostava de romances de terror ou fantasia. Ela odiava as histórias de ninar que seus pais lhe contavam. Petúnia não acreditava que as pessoas pudessem voar se não estivesse dentro de um avião, e ela certamente não acreditava em magia.

Lily era o oposto. Ela era fascinada por coisas inexplicáveis, pelo oculto, pela fantasia e impossibilidades. Ela queria estudar o que era considerado bizarro. Ela queria entender. E, como se um Deus a tivesse ouvido, quando Lily tinha onze anos, a família Evans foi visitada por uma bruxa que alegou que Lily também era uma.

Lily deixou sua família, abandonou Petúnia, casou-se com um cara rico que ela conheceu naquela escola bizarra para bruxos, James Potter. Petúnia sabia disso, seus pais queriam que eles mantivessem contato, mesmo que nunca o fizessem. Petúnia passou a maior parte de sua vida odiando Lily por ter ido lá, por deixar a família, e ela não queria nada além de se dissociar completamente de sua irmã.

Ela tomou sua decisão ali mesmo, mas sabia que precisava consultar seu marido primeiro. Ela levou o bebê para dentro, mostrou-o a Vernon. Válter também leu a carta, leu muitas vezes, porque não entendia o que estava acontecendo e o que eles estavam falando, mas — depois que Petúnia explicou — ele concordou com ela. Eles alimentaram Dudley e, quando já é tarde e ninguém mais está do lado de fora, eles entram no carro e começam a dirigir para longe, muito longe de sua casa perfeitamente normal.

Agora, onze anos depois, ela está deitada na cama, incapaz de dormir. Seu Dudley está ficando cada vez maior, e ele quer mais e mais presentes de aniversário e comida. Ela não pensa em Harry há uma década. Ela se pergunta se fez a escolha certa, então. Harry certamente precisava de proteção, ele era um mero bebê, mas ela tinha certeza de que se algo tivesse acontecido com ele, ela teria recebido outra carta.

Vernon conhecia um orfanato, um católico, onde Harry seria criado corretamente, longe o suficiente para que eles não tivessem que lidar com sua aberração. Petúnia fez questão de dizer à Irmã que tirou o bebê de seus braços que o nome dele era Harry Evans, e não Potter, porque os bruxos estavam esperando um Potter e não um Evans.

Ela disse a eles que os pais de Harry foram negligentes, e eles tiveram uma overdose, porque então as Irmãs foram forçadas a fazer novos documentos legais para ele. Petúnia se sente aliviada, agora, que Harry nunca será associado aos Potters.

Mas, mesmo assim, ela nunca entendeu bruxos. Talvez eles tenham algum tipo de maneira de detectar que essa criança é Harry Potter.

Talvez não.

Petúnia limpa a cabeça e se vira de lado e tenta dormir um pouco. Não adianta pensar no passado agora. Dudley precisa dela.

Divine [ TRADUÇÃO ]Onde histórias criam vida. Descubra agora