Sessão 16 - Tentador

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Você não imagina o quanto é ruim relembrar tudo isso. Quase não dormi essa noite lembrando daquela cena assustadora em que meu portão abria sozinho enquanto a Rose me olhava da janela. Ah, não contei essa parte? Pois é, eu olhei além do portão pela tela do computador e percebi que a Rose estava observando tudo... Bem, não sei ao certo se era a Rose, mas era alguém que estava na casa dela e pela silhueta deduzi ser ela. O que aconteceu depois? Bem... A coisa que saiu da minha casa abriu o portão da Rose. Não, a coisa era aparentemente invisível, só se via o abrir e fechar dos portões, nada mais. Claro que eu não voltei a dormir naquela noite, na verdade, não dormi direito pelo menos nos próximos 2 anos. Fui trabalhar como se minha cabeça pesasse uma tonelada, se não tivesse a oportunidade da minha carreira na mão, na certa não teria saído de casa.
-Dolores!!! - gritou Leo ao me ver entrar na direção. - Você não vai acreditar! Vem cá.
Corro até a mesa dele e olho a tela do computador. Em fonte grande está escrito: "Reviravolta. Filho acusado de matar mãe torna-se vítima."
-O que isso quer dizer?
-Você não vai acreditar!
-Conte, Leo.
-Calminha, mocinha. Senta ai.
Puxei uma cadeira da mesa ao lado e me sentei.
-A perícia está dizendo que o menino não matou a mãe por livre e espontânea vontade, ele foi forçado a isso, pelo próprio pai.
-Mas ele não tem pai, Leo.
-Isso é o que todos nós achávamos até a polícia encontrar um bilhete muito estranho no túmulo do menino.
-Nossa! O que dizia esse bilhete?
-Tenho uma foto dele aqui, olhe.
No bilhete dizia: "Não brinque comigo, D."
-Mas, o que isso tem haver com o pai do garoto?
-A perícia afirma que a caligrafia é idêntica a dele e que não existe nenhum comprovante que ele esteja realmente morto. Sabe-se apenas que o garoto não tinha pai porque a mãe inventou essa história, talvez para esquecer um passado infeliz ao lado do ex marido.
-Mas como sabem como a caligrafia dele era?
-Acharam uma carta que o pai escrevera para a mãe, uma dedicatória, essa coisa de apaixonados.
-Entendi. Mas... Por que "D"?
-A mulher, Dolores. Ela se chamava Diana, como não se lembrou?
-Ah, claro. Desculpa, não sei onde estou com a cabeça.
-Que foi, Dolores? Está tudo bem?
-Só tive uma noite ruim. Vou pra minha mesa.
-Qualquer coisa só chamar, vou terminar de escrever isso aqui.
Caminhei até a mesa e desesperadamente abri a primeira gaveta, a que tinha chave, eu o guardei ali. O bilhete. Eu não tive coragem de lê-lo até hoje, depois que o encontrei na mesa eu trouxe para cá. Estaria longe da minha casa e trancado. Mas, eu precisava tirar essa dúvida, ou eu iria morrer de loucura. Abri a gaveta, peguei o bilhete e sem que ninguém percebesse abri.
" Não brinque comigo, D."

A loucaOnde histórias criam vida. Descubra agora