Vomitei muito naquela tarde. Meu estômago parecia querer sair de mim e minha cabeça doía tanto que eu estava a ponto de arrancá-la. Queria sair de casa, andar por aí... Mas a barriga já estava bem aparente e precisava inventar uma desculpa para não ir no aniversário do meu pai. Queria poder voltar no tempo, tomar uma pílula do dia seguinte ou, até mesmo, algo que me matasse de vez. Não aguentava mais esse fardo, essa culpa. Em pouco menos de 5 meses algo sairia de mim e não estava pronta para receber o que quer que fosse. Seria capaz de estrangulá-lo se nascesse naquele momento. A verdade, era que eu estava perdendo a cor da vida e não tinha percebido. Os dias passavam em silêncio e eu estava me cansando disso.
Fui parar de volta no telhado, onde, da última vez, ele tinha me achado. Talvez relembrar não me faria bem, mas eu tinha que encarar. Era final de tarde e o Sol estava indo embora tão lindamente que eu queria gritar para que me levasse junto.
Olhei ao redor, toda a vizinhança estava calma enquanto os pais de família voltavam às suas casas. Algumas senhoras de idade colocavam comida para os cachorros e eu ali, pendurada no telhado, esperando a hora passar.
Ouvi alguns pássaros cantarem não muito longe, tentei achá-los, sem sucesso. Senti uma borboleta passar bem devagar perto de minha orelha, o vento soprava leve como uma pena e as primeiras estrelas já diziam "Oi". Poderia ficar ali a semana inteira, se fosse possível.
Alguma coisa se mexia no final da Rua 4, aquela era uma rua sem saída e poucas casas ainda tinham moradores por lá. Aquela pessoa parecia estar abaixada, talvez arrumando os sapatos, ou... se escondendo. Começou a caminhar lentamente e pulou um muro. Que será que...
A minha companhia tocou.
E, simultaneamente, alguma coisa dentro de mim aconteceu, algo estranho, o que seria... O bebê! Ele se mexeu! Pela primeira vez aquela criança tinha dado sinal de vida. Era muito desconfortável, mas era bom.
Olhei para o portão e lá estava ela, Rose, com suas galochas vermelhas esperando que eu abrisse o portão.
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A louca
Fiksi UmumOlá! Eu sou Dolores, moro no Sul, tenho 21 anos e só estou aqui porque me falaram que eu iria enlouquecer. Não, a opinião alheia é irrelevante para mim. Mas é que a minha mãe fica perturbando e não aguento mais ela me ligando a cada 5 minutos pra sa...