Capítulo 39

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Pov Maraisa 

Adiamos a viagem, pois recebi uma ligação da assistência social falando que fariam uma visita hoje. A Mai foi com o Henry pra casa da nossa mãe, então estamos só eu e Alice aqui em casa. Entro no quarto e vejo uma menininha loirinha chorando deitada na cama. Me aproximo e pego ela no colo com todo cuidado do mundo, como se ela fosse de porcelana. 

Mara: por que você tá chorando, minha princesinha? 

Ali: se os homens maus pegalem voxê, quem vai cuida de mim? 

Mara: os homens maus se foram, eu nunca mais vou ficar longe de você... 

Ali: vai tim, poque as pessoas boazinhas semple vão embola e deixa eu sozinha...

Mara: eu não vou te abandonar, Alice, eu sou sua mãe. Eu escolhi ser sua mãe. 

Ela faz um biquinho e deita a cabeçinha no meu ombro. Eu sorrio e acaricio levemente seus cabelos bagunçados. 

Mara: vamos tomar um banhozinho  bem gostoso e depois ficar bem bonita pra receber as visitas? 

Ali: tim! 

Entro no banheiro do quarto dela e preparo ela pro banho. Também me preparo e entro com ela no chuveiro, hoje ela tá manhosa e só quer colo. Brinco um pouco com minha pequena enquanto molho seus cabelos e ela pega o shampoo da Moana. 

Mara: você quer lavar o cabelinho? 

Ali: nhão, é plo cabeio da mamãe! - ela sorri passando shampoo na minha cabeça - 

Mara: com cuidado, pra não pegar no meu olho! 

Depois de passar o shampoo no meu cabelo e enxaguar, ela olha pros sabonetes, com o dedinho no queixo. 

Mara: qual você quer, meu amor? 

Ali: da fozen, mamãe! Da fozen! 

Mara: pega ele pra mamãe passar em você, pega! - digo e ela espreme o sabonete líquido na minha mão - 

Depois do banho, coloco uma calça de moletom e uma camiseta branca. Na Alice eu coloco um vestido com borboletas e sapatilhas rosa clarinho. Arrumo o cabelo dela e descemos pra sala. Brincamos por alguns minutos até que a campainha toca e eu atendo. 

Ass: olá, senhorita Maraisa! Como a Alice está? 

Mara: ela tá bem, só tá um pouquinho manhosa hoje. 

Alice vem até mim pedindo colo e eu a pego. Sento no sofá e começo a conversar com a assistente social. 

Ass: estamos vendo que ela está se adaptando muito bem com você, mas...Você não acha que uma figura paterna seria importante pro crescimento e desenvolvimento dela? 

Mara: não. Ela está muito bem comigo, eu consigo dar a ela tudo que um pai poderia dar e muito mais. Ela nunca reclamou a falta de um pai. 

Respiro fundo e noto o olhar da mulher sobre os cortes em meus braços. 

Ass: bem...Tendo consciência de que você sofre de depressão e se automutila, acho que não é o  ideal pra uma criança conviver com uma figura materna assim, emocionalmente instável. 

Mara: eu não acho isso, e quer saber de uma coisa? Você é a primeira assistente social que fala isso, durante todo esse processo eu só recebi elogios pela forma como eu cuido da Alice e faço ela se sentir segura comigo - digo já perdendo a paciência - 

Ela se dirige a Alice e tenta ser educada. 

Ass: pequena, você gosta da Maraisa? 

Ali: tim! Eu sabo sala o dodói da mamãe, moça! É atim ó! - ela pega no meu braço e distribuí beijinhos nos meus cortes e eu tento não chorar - Muto calinho! 

A assistente social me chama pra conversar a sós. Deixo Alice brincando na sala e vou pro escritório com a mulher. 

Ass: senhorita Maraisa, o juiz da vara da infância avaliou o processo e hoje a tarde você poderá ir no cartório solicitar a certidão, aqui está o mandato. 

Ela me entrega o envelope a contra gosto e eu a acompanho até a porta. Depois que ela foi embora, fecho a porta e respiro bem fundo. Eu consegui. Alice é oficialmente minha. Não contenho as lágrimas e começo a chorar ali mesmo, com os olhos fechados. 

Ali: poque voxê tá cholando, mamãe? 

Ajoelho no chão, ficando na altura dela. 

Mara: eu acabei de receber um papel muito importante que eu vou ter que levar no cartório e aí eu vou poder receber o seu registro, minha princesa. 

Ali: ote isso que dize? 

Mara: quer dizer que, agora, você é oficialmente minha filha. A partir de agora, você é Alice Henrique Pereira... 

Ali: eeeeeee! 

Ela me abraça e eu me levanto e a giro no ar com um sorriso largo no rosto. Eu posso dizer que realizei meu sonho. 


"Estou Bem"Onde histórias criam vida. Descubra agora