The Lost - Malila

Beijo

“É necessário somente uma fagulha para inflamar algo até então desconhecido.“

                      
Maraisa
     
                
Vergonha!
                      
Marília e eu estávamos em seu carro indo em direção à minha casa. Não dei uma palavra sequer depois daquilo que aconteceu, e não sabia onde enfiar minha cara, tamanha vergonha que eu sentia.

— É algo raro vê-la tão calada. Confesso que estou gostando. — falou.

Não disse nada, somente encarei o para-brisa, tentando entender o papelão que havia feito minutos atrás. Eu sou uma idiota carente...

— Sabe, não lhe culpo por ter dito aquilo, a bebida às vezes acaba alterando a forma de pensarmos.

Imbecil!

Continuei quieta, acuada. Eu trabalho para Marília e não sei como vou encará-la na segunda-feira, ainda mais depois disso.

— Entendo. Você quer ficar quieta, te darei...

— Você é uma idiota se pensa que a bebida falou por mim naquele momento! — praticamente gritei.
                    
Não havia percebido que o carro já não estava em movimento. Ao olhar para o lado vi a minha casa. Chegamos mais rápido do que pensei.                     

Não entendi porque, mas Marília estava me olhando de um jeito bem diferente que o habitual...

Marília
  
                  
Estou há alguns segundos analisando Maraisa.

Ela é estranha...
                      
Acho que essa mulher é carente além da conta, já que em um instante me odeia, e no outro quer ser beijada por mim. Nunca vou entender as mulheres e olha que sou uma.
                    
— Por favor, pare...                    

— O que eu fiz?
                   
— Você me olha como se eu fosse um nada. Eu... — saiu do carro e foi em direção à sua casa. Quando colocou a chave na fechadura, minha mão se sobrepôs a dela.

— Espere!
                     
— Precisa do quê? Me humilhar não foi o bastante?
                    
Maraisa estava quase chorando, e vi que o joguinho que fiz com ela não foi bem recebido. Eu sou um animal privado de sentimentos, eu sei. Se tanta coisa em minha vida não desse errado eu poderia ser uma mulher boa, mas isso é impossível em tempos atuais.

— Me desculpe!                  

Eu não pedia desculpas. Mesmo estando errada na maioria das vezes essa frase não saía da minha boca.
                      
— Por que é uma idiota na maior parte do tempo? Eu não te fiz nada, só estou querendo ajudar, e me trata assim?

— Está falando por causa do beijo?
                      
— Esquece a porra do beijo! — ela chegou mais perto, com os olhos soltando faíscas. — Eu só queria ser tratada como uma pessoa normal, mas porque isso é tão difícil para a poderosa Marília Mendonça?

— Maraisa...

— Fique quieta! Ainda não acabei! Você se acha um Deus, e tenta esconder sua amargura, mas no fundo todos sabem que você mesma não se suporta. Que é uma bruta egocêntrica!                    

Eu não podia culpar ela de falar dessa maneira, já que Maraisa está absolutamente certa. Sou uma mulher amargurada, enraivecida, irritadiça, e mais uma dúzia de nomes pejorativos e tóxicos. Ela falar isso não me ofende, só me mostra que estou no caminho certo, já que escolhi ser esse lixo de pessoa.