É recíproco

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“Certas perguntas clamam por respostas...”

Maraisa

Minha amizade com Léo só crescia ao longo dos dias, e agora conversávamos bastante.

Fiquei mais próxima dele principalmente pelas idas e vindas à sua escola, e o menino começou a se abrir mais comigo. Não sei como ele era antigamente, mas ele é um pouco retraído, e demora um pouco a pegar confiança nas pessoas. Não o culpo, e isso pode ser influência da tragédia em sua família há algum tempo.

— Léo... do que você tem mais medo? — puxei conversa após chegarmos na mansão.

— Não sei. Acho que de morrer.

Balancei a cabeça levemente e sorri logo em seguida.

— Há outra coisa?

— Carros.

Sim, esse era o ponto. Não sei porquê, mas me ocorreu uma ideia, e queria bem no fundo ajudar ele nesse sentido.

— Por que não luta contra isso? Se quiser, posso te ajudar a encarar seus medos.

O menino me olhou desconfiado, e visivelmente contrário ao que propus. Eu queria fazer um teste.

— Como?

— Que tal irmos para um dos carros?

Léo esbugalhou os olhos, e vi que inicialmente a ideia não foi do seu agrado. Peguei em uma de suas mãos ternamente.

— Não iremos andar nele. Não se preocupe. Somente entrar.

— Promete?

— Sim. Prometo.

Com uma pequena relutância, entramos no carro que João usa na maioria do tempo, e era como se Léo entrasse em um carro pela primeira vez, já que olhava tudo ao redor. Eu poderia estar traumatizando mais ainda uma criança, sei disso, mas tenho um sexto sentido para algumas coisas, e confio em minhas intuições.

— Como você está?

— Estou bem. — ele tremia um pouco, e novamente peguei uma de suas mãos.

— Vamos esquecer que estamos no carro e conversar sobre algo. Qualquer coisa.

— Tá bom.

— Eu quero te contar um segredo. Não é algo que falo para as pessoas, mas eu confio em você, e quero que confie em mim.

— O que é?

— Eu perdi meu pai muito cedo. — parei. — Não me lembro muito dele, mas sei que ele fazia minha mãe muito feliz. Ele morreu de câncer, e isso deixou minha mãe com depressão por alguns anos. Eu não entendia, já que era uma criança. Depois que eu cresci, prometi que tentaria de alguma forma preencher o vazio que minha mãe possuía em seu coração, mas entendia que era difícil, que quando as pessoas morrem, elas irão ficar somente em nossa cabeça e coração. Após ter Laura e construir uma família, o pai dela nos abandonou, me deixando sozinha e experimentei uma tristeza que até então eu não conhecia.

Léo prestava bastante atenção em minhas palavras. É difícil para mim relembrar alguns acontecimentos, mas é necessário em alguns casos, e se for para um bem maior, faço com gosto.

— Ele nunca mais voltou?

— Não. Mas eu tenho uma família comigo. Minha mãe e Laura são o meu mundo, e agradeço todos os dias por elas estarem comigo. O que estou querendo dizer é que por mais que sua mãe esteja distante agora, ela é a sua mãe, e te ama, mas em alguns momentos ela não sabe bem o que fazer. Tente entendê-la. Às vezes ela se culpa pelo que aconteceu com sua mãe e sua irmã.

The Lost - MalilaOnde histórias criam vida. Descubra agora